O Super heterodino e 25 postos de ondas curtas e reparações de aparelhos de TSF

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Postos de ondas curtas e reparações de aparelhos de TSF
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Capa do livro

O Super heterodino e 25 postos de ondas curtas e reparações de aparelhos de TSF


Alain Boursin
(da revista francesa L'Amateur-Radio)
(para amadores e profissionais)
Tradução portuguesa de Eduardo Pinheiro - 1962
Livraria Tavares Martins -Porto

INTRODUÇÃO

As frequências utilizadas então ultrapassavam, para os postos de grande tráfico, 3000 e, até, 4000 metros; as estações radiofónicas, em número muito reduzido, desconheciam as ondas inferiores a 400 metros. . Um auditor que chegasse a descer até 300 metros podia orgulhar-se de que tinha atingido os limites extremos da alta-frequência. Quando um emissor era Por ele ouvido a mais de 300 quilómetros, saltava de alegria.

E assim os amadores do manípulador quiseram, por sua vez tentar os grandes alcances e dirigiram um pedido em regra aos P. T. T. dos respectivos países.

Seguiram-se conferências internacionais, discussões sobre diversos pontos, regulamentações e um código. Tudo se ultimou e foi então comunicado a esses amadores, desejosos de transmitirem as suas mensagens, que lhes seria concedido, a autorização pedida, mas que não lhes poderia ser atribuída senão uma pequena banda -menos de dois metros entre 40 a 42 metros de comprimento de onda. Isto para começar.

A surpresa e a consternação foram gerais. Semelhante frequência parecia-lhes um invencível obstáculo para as realizações práticas que tinham em mente, e convenceram-se de que as administrações do Estado arranjavam assim uma maneira airosa de se verem livres deles, impondo-lhes tais condições que mais valia perderem a esperança de verem o seu sonho realizado.

Se havia dificuldade para descer a 300 metros, como se poderia aventar a ideia de uma descida vertiginosa para 40 metros? Não haveria lâmpada capaz de oscilar a tais frequências sem emitir clarões azuis e sem estalar dentro do vidro, à passagem dos fios, não haveria self que se pudesse considerar estável, nem tampouco haveria condensador capaz de resistir a milhões de períodos por segundo.

As administrações mantiveram o que tinham dito e, por isso, os amadores tiveram de se contentar com esse osso, para o roerem como pudessem.

Mas tal osso foi roído... Os amadores lançaram mãos à obra. Fizeram-se primeiramente ensaios sobre 200 metros com uma antena tal que não desse alarme aos serviços de vigilância e foi-se tirando às bobinagens espira atrás de espira, até ao ponto em que tudo ameaçava estalar. Construíram-se então algumas lâmpadas especiais e, espira por espira, começou-se a descer a 150 e, depois, a 125 metros. Então, os condensadores puseram-se a «cantar», os clarões azulados tornaram-se alarmantes dentro dos tubos e foi necessário fazer alto. Fabricaram-se depois capacidades fixas com os eléctrodos mais apertados- e condensadores variáveis- com um isolamento mais cuidado. A pesquisa de substâncias isoladoras para alta-frequência atingiu o seu ponto culminante. Tiraram-se, propositadamente, os fundos metálicos das lâmpadas, deixando pendentes, sob o vidro, os fios de ligação e foi então que o professor R. Mesny imaginou uma montagem que permitiu, num belo dia, fazer oscilar o amperímetro sobre os 41 metros.

Esta foi a primeira vitória. No entanto, não havia muita razão para que os amadores se regozijassem. Que poderia valer esta onda de 41 metros? A que poderia ela levar? Mistério! Muito poucos auditores seriam capazes de construir receptores que funcionassem com semelhante frequência e os testemunhos auditivos faltavam por toda a parte.

Na América, onde a invenção de Rádio, sobre o super-heterodíno encontrava um acolhimento mais fervoroso do que entre nós, as experiências de recepção foram mais impulsionadas desde o princípio.

Reínartz e Schenell começaram a escutar sofrivelmente as ondas curtas.

Em França, foi a emissão que se desenvolveu em primeiro lugar; Deloy e Louys foram os primeiros que emitiram em boas condições.

Foi então que o milagre se produziu. Ao passo que, com 100 vátios, uma estação sobre 400 metros se fazia ouvir com dificuldade a algumas centenas de quilómetros, os emissores de 10 vátios, sobre 41 metros, chegaram a ser ouvidos, em certas noites, para além do Atlântico.

Em 1921, os grandes construtores mais audaciosos empreenderam o fabrico de receptores com grande sensibilidade e com uma espantosa amplificação, Permitindo assim eliminar fading. Foi assim que a Rádio LL, produziu um receptor de 13 lâmpadas. Este posto estava dividido em três grupos. O grupo da esquerda constituía o heterodino, o do meio o amplificador AF e o da direita constituía o amplificador MF e os dois andares BF duplos. Obtive, com este maravilhoso aparelho, resultados que, para a época, podiam ser considerados verdadeiros recordes, visto que captava a América em pleno dia com os auscultadores e, às vezes, em altifalante. Um pouco mais tarde, dediquei-me pertinazmente à emissão. Instalei-me em Baiona, onde tinha construído um pequeno oscilador com uma lâmpada tríodo 40 a 45 vátios e com 600 vóltios de placa, e consegui, durante 7 dias consecutivos, pôr-me em comunicação perfeita, todas as noites, com um posto da Califórnia que duvidava do que ouvia. E eu também chegava a duvidar!

A ligação era absolutamente nítida, sem que houvesse necessidade de repetir as mensagens e sem que o fading incomodasse muito. Fui, porém, vencido pelo sono, visto que as emissões eram no verão entre as 2 e 4 horas da manhã e eu estava sem dormir. O meu correspondente concordou comigo em não nos correspondermos senão uma vez por semana. Entrei em comunicação com outros adeptos do manipulador dos Estados-Unidos e, passados três meses, tinha em cima da minha mesa uma bela colecção, de cartas Q. S. L. Comuniquei depois com a Améríca do Sul, com o Cabo e com a Rússia. As nossas entrevistas realizavam-se todos os sábados à noite, em onda de 41 metros, e eu tinha a impressão de que estavam ao meu lado amigos que, na realidade, se encontravam afastados milhares de quilómetros uns dos outros. Veio depois a época da telefonia e eu tive de abandonar o manipulador para ir dirigir a instalação das estações emissoras de Bilbau, Madrid, Cádiz, Mont-de-Marsan, bem como terminar as de Pic-du-Midi (a mais alta do mundo), Toulose P. T. T., Grenoble P. T. T., Juan-les-Pins e muitas outras.

Voltei a Paris para me ocupar dos postos emissores da Aeropostal (linha Paris-Dakar-América do Sul) com Mermoz, Rennes, Serre, etc., e depois das da O. 1. D. N. 4. (Paris-Bucarest). Por último, tarefa menos gloriosa mas também muito interessante, fui tratar de equipar com telefonia diversas embarcações, o que me serviu Para aprender a vencer o enjoo.

Voltei depois aos meus primeiros amores e entreguei-me de novo às delícias do emissor de Baiona.

Passaram-se três anos. E muitos Progressos se fizeram nesses 36 meses. O meu pequeno 40 vátios era agora uma velharia. Fiz com ele um novo aparelho de 50 vátios, para telefonia, com modelação pela placa, e o F8CX recomeçou as suas chamadas. Escusado será dizer que voltei a perder o sono.

Éramos então centenas de emissores e todos nós encontrávamos o nosso lugar, ou quase, nessa pequena banda de dois metros, que nos foi generosamente concebida. Tivemos, depois, possibilidade de abordar a onda de 20 metros e as ligações foram melhoradas. As descobertas sucediam-se.

A prática das ondas curtas obrigou-nos a procurar dispositivos especiais contra o fading, a aperfeiçoar as bobinagens e todos os acessórios. Os construtores de lâmpadas quiseram também colaborar com os amadores e o mercado melhorou, a pesar de todas as objecções feitas a princípio.

As estações oficiais, as grandes firmas, a radiodifusão. todos se lançaram nas ondas curtas. E agora se v@ até onde nos conduziu a utilização de tal banda. Há para cima de 2 000 estações que trabalham num cumprimento de onda entre 16 e 50 metros, e todas elas trabalham sem sobreposições e sem «engarrafamento».

Finalmente, veio a televisão com as suas ondas de 5 a 7 metros.

A 2ª guerra (é preciso lembrá-lo) levou-nos ainda mais longe. Em 1939-1940 fui encarregado pela aviação militar de construir emissores dos tipos de 300 a 600 vátios que trabalhassem sobre um comprimento de onda de 3 metros (cem milhões de períodos por segundo). Estava então bem longe do meu tempo de trincheira de 1916.

Problemas Praticamente insolúveis foram conduzidos a bom fim; os acontecimentos, forçando-nos a ganhar tempo sobre o Progresso, fizeram com que se realizassem, em Poucos meses, verdadeiros Prodígios de técnica.

Deu-se depois uma paragem brusca e abandonaram-se muitas coisas.

Eis-nos agora a braços com os nossos trabalhos. Por hoje, contentemo-nos com um «Super - 10 000». E já não é mau!...

Que devemos concluir de toda esta história? É que, mais uma vez, os amadores marcaram os seus pontos na marcha do progresso.

E venham agora dizer-nos que os «amadores» são, em rádio, um factor a desprezar!


Artigo de ALAIN BOURSIN (da revista francesa L'Amateur-Radio) 1962
Nota da redacção: A palavra "cumprimento" referindo-se ao comprimento de onda embora mal escrita é assim que está no original cuja tradução portuguesa foi feita por EDUARDO PINHEIRO em 1962
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Comentários

Seria possível conseguir uma cópia desse livro para a Biblioteca Municipal de Campos do Jordão, da qual sou diretor. Estou escrevendo um livro, que espero ser definitivo sobre a história do Rádio. Obviamente as depesas serão por minha conta.

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