Vozes: Paulo Fernando

Separadores primários

Read time: 2 mins

"Mulheres cheguei!"

Paulo Fernando chegara ao RCP em 1960 vindo da Rádio Universitária.

Batera à porta da Faculdade de Direito mas "ninguém respondeu..."

Assim foi para o Talismã - o seu programa da manhã - e, a seguir o salto para os Noticiários na altura em formação.

Irreverente. Bem disposto. Gozão não se negava a uma boa partida. Amigo de mulheres e da noite era em ambas onde melhor navegava.

Em 1963 foi incumbido de fazer na onda média uma emissão das 23 às 00. O FM só se descolaria da Média nos finais de 63.

Achou o Paulo Fernando que chegara a altura de lançar um programa-anarca dentro da possivel anarquia que as Censuras internas e estatal. Baptizada de Grande Roda, começou com o Indicativo Summertime e as palavras:
"Porta aberta. Mangas de camisa, cá vamos até à meia-noite".

Os puristas da Rádio-Gravata do "Senhores ouvintes vamos escutar..." não gostaram do esquema e, contra ele, furiosamente, atacaram.

Porém o RCP já então controlado por Júlio Botelho Momiz deu o seu "agrement". E o Paulo Fernando não foi de modas e quase de seguida a Grande Roda viu o seu prefixo modificado.

Dum disco do brasileiro foi buscar a frase "mulheres cheguei". Assim após o Noticiário das 23 a Grande Roda começava assim:
"Mulheres cheguei! Porta aberta. Mangas de camisa. Tac. Tac. Cá vou eu. Tac. Tac. Se não gosta. Tac. Tac. Mude de posto. Tac. Tac. Mude para um posto médico".

Foi a confusão nomeadamente do Director da Censura-Interna o inemitavel António Augusto Moita de Deus. Até tentou ultrapassar o lápis azul da Estatal Censura. Falhou. E a Grande Roda entrou no calão aceitável do dia a dia.

A RÁDIO levara o primeiro abanão. Outros horizontes se abriam.

Sendo a Grande Roda uma emissão essencialmente musical, permitia ao Paulo Fernando narrar pequenas histórias sempre com um cunho maldoso-corrosivo. O Paulo Fernando nunca gostara da Rádio Só-Musica. A palavra, por mais simples que seja, é ela que torna cúmplices, o ouvinte e o speaker. Este deverá ser mais do que um companheiro, um amigo. Um familiar cujo rosto se desconhece.

Eis a magia da Rádio: a VOZ é a fotografia imaginada ou imaginária...

Ouça uma crónica de Paulo Fernando, no programa Reis da Rádio, da Antena 1
Texto, cortesia de Paulo Fernando
Adaptado por aminharadio.com