A rádio em África (4)

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Tem havido uma espécie de divisão de tarefas entre historiadores europeus, que estudam as rádios imperiais dos seus países (Grã-Bretanha, França, Portugal, Bélgica, Países Baixos), e historiadores africanos, que investigaram a origem e desenvolvimento das rádios a emitir nos seus países (Ernesto Barbosa sobre Moçambique, António Estevão sobre Angola, Bocar Niang sobre o Senegal e Jean-Pierre Lilembu sobre a República Democrática do Congo). Outros analisam a rádio com outros focos, caso de Celestino Joanguete sobre Moçambique, em que a rádio manteve os valores culturais e da civilização ocidental durante o período colonial. Contudo, no caso de Rádio Clube de Moçambique, a realidade seria bem complexa, a começar por um dos canais dessa rádio privada emitir totalmente em inglês e destinado aos ouvintes da África do Sul, com um importante retorno financeiro em termos de publicidade.

As minhas notas de hoje seguem a tese de doutoramento de Bocar Niang, defendida em 2020. O Senegal pertencia aos países da chamada África Ocidental Francesa (AOF), a englobar outros países da região, como Mauritânia, Guiné, Costa do Marfim, Níger e Mali. Mesmo hoje a moeda, franco CFA, une alguns desses países e outros da então África Equatorial Francesa (AEF), incluindo até a Guiné-Bissau.

A capital senegalesa, Dakar, teria em setembro de 1939 a primeira estação destinada aos habitantes da AOF. A estação inicial seria implantada no centro telegráfico da cidade, acontecendo um caso semelhante em Angola, quando a Emissora Oficial foi posta em instalações dos correios. Radio Dakar evoluiu dentro dos contextos, caso da Segunda Guerra Mundial. Por exemplo, após a ocupação militar da França pelas tropas de Hitler e a formação do governo colaboracionista de Vichy, do marechal Pétain, a programação passou a enaltecer os valores ocidentais julgados essenciais dos alemães. Se, antes, a rádio não se orientava para defender ou revelar a cultura africana, depois, a propaganda e a censura tornaram-se mais evidentes.

No início, a emissão durava uma hora, três vezes por semana: terça, quinta e sábado, com música, notícias da Câmara de Comércio da cidade e meteorologia. No começo da II Guerra Mundial, a estação passou a contar com um emissor de 500 Watts em ondas curtas. Em julho de 1943, seguindo a perceção da próxima derrota alemã, a Radio Dakar passaria a emitir de acordo com essa alteração, apoiando os esforços do general De Gaulle pela libertação da França. Pouco depois, as emissões incluiriam mais música e difusão de teatro radiofónico, num processo de desanuviamento político, mas mantendo central a cultura ocidental.

A partir de janeiro de 1950, Radio Dakar teria três períodos de emissão: 7:00-8:00, 12:00-13:30 e 18:20-23:00. Cinco anos depois, a emissão seria permanente entre as 6:30 e as 23:30. Em 1949, seria, finalmente, encorajado o uso de línguas nacionais, então chamadas línguas indígenas, a exemplo do que vimos com a rádio do Congo Belga, mas manteve-se o privilégio de programação muito europeia, bastante afastada da cultura africana.

(imagens retiradas da internet, a primeira da wikipedia, a mostrar um engenheiro a recolher sons de uma atividade escolar organizada pela UNESCO para agricultores em 1971)