AMADORES
Há duas espécies de amadores: O amador que constrói ou não os seus aparelhos mas que se interessa por conhecer os fenómenos que se relacionam com eles analisando e acompanhando de perto as causas da boa ou má audição, quer provenha da deficiência dos mesmos, quer de perturbações atmosféricas.
As descargas atmosféricas parasitas não se podem eliminar com a facilidade que se imagina. Elas têm sido causa de apurados estudos de muitos hábeis radiófilos desde a época do aparecimento da telegrafia sem fio.
Este é o verdadeiro amador que, embriagado pelo sucesso do dia anterior ter ouvido Madrid ouve no dia seguinte Paris e Londres. Devemos ter em linha de conta que estamos a 1600 quilómetros.
Outro factor de capital importância é o das estações actuais da radiofonia terem emissores de fraca potência. Assim todos os postos ingleses são de 1 1/2Kilowatt. Paris que dispõe de 8 Kilowatt transmite apenas com 2Kw.
A estação radiofónica mais potente do mundo foi instalada há pouco ao norte de Londres, em Chelmsford. Dispõe de 25Kw e têm-se ouvido os seus ensaios em Portugal com grande intensidade.
A outra espécie de “amador” é o que espera encontrar nos aparelhos uma autêntica caixa de música não se preocupando que uma noite de atmosfera péssima o impede de ouvir bem, ou que um dos seus componentes tem qualquer deficiência, uma válvula má, a bateria de pilhas com um elemento avariado, a bateria de acumuladores descarregada ou um dos fios sem ligação perfeita.
A rádiotelefonia chegou quase ao auge de aperfeiçoamento já há alguns anos, estado em que pouco mais ou menos se encontra actualmente.
Pretender ouvir um concerto tocado em Londres ou Paris com a precisão como se estivesse no “studio” é exigir muito. Contudo já nos deliciam bastante os concertos ou óperas tocadas e cantadas ali, ou de sabermos ser a reprodução da voz do tenor X ou do exímio violinista Z.
Extraído da revista "TSF em Portugal", 1924
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