TRANSMISSÕES PORTUGUEZAS
Sr. Director da «T. S. F. em Portugal».
Tem esta por fim comunicar-lhe, e isto com o maior prazer, que me foi dada a ventura de ouvir aqui, em Aguas Santas onde resido (ou seja a 7 kilometres ao nordeste do Porto), o posto P1-AA, domingo ultimo, pouco depois das 10 horas da noite.
Comecei por procurar 300 metros e nada encontrei, a não ser um posto inglez que pouco se distingue e que de mais a mais estava em conferencia, isto pela onda de 285 metros.
Como só recebo o programa da sua muito bem redigida revista á 2ª feira, pois que me é dirigida para o meu escritório no Porto, onde estou escrevendo, não podia ter a certeza absoluta de haver domingo um concerto no dito posto.
Depois de com o meu «Ondametn» procurar trezentos metros, não me foi possível encontrar semelhante posto, e já um pouco desanimado seriam como refiro, 10 horas, encontrei na onda 275 Metros um posto que não distinguia perfeitamente mas que não quiz abandonar um só momento, até que o «Speaker» falasse. Terminada aquela parte do programa que me foi toda interferida por um paquete que tentava comunicar, como comunicou, com Leixões, ouvi a voz do Speaker, forte e explêndida, mas não distingui nenhuma palavra. Continuei sem abandonar um só momento o meu posto, e pude a muito custo distinguir a voz de uma senhora cantando.
Esperei de novo que o «Speaker» falasse, e estive talvez um quarto d’hora sem poder distinguir palavra, nem musica ou canto.
A’s 11 horas todos os postos aqui fizeram a emissão costumada e nesse momento tive que abandonar, pois que era insuportável ter os auscultadores nos ouvidos.
Pouco depois ouvi nitidamente a palavra «Atenção» e o anuncio de uma musica que ouvi em parte, mas que de novo e por longo tempo voltou a ser interferida.
Continuei ouvindo com atenção até que á meia noite e 7 minutos, ouvi distintamente o Speaker dizer o seguinte: Alo, Alo, Alo, este é o Posto P1-AA, etc., etc. À meia noite e 20 minutos ouvi um solo aocarina ou flauta, embora o programa que aqui tenho indique clarinete, e á meia noite e 30 anunciou muito claramente o «Speaker» que a canção Raconte de Bohéme ia ser cantada por Mademoiselle Emma Cordeiro, etc. Ouvi nitidamente o canto desta senhora que é possuidora de uma voz lindíssima, forte e muito melodiosa.
Depois segundo canto, pela mesma senhora, dum trecho que não conheço, anunciando-se depois o fim do concerto.
As considerações que tenho a fazer sobre o posto P1AA, seriam as melhores, se eu soubesse descrever-lhe a minha comoção ao ouvir o meu alto falante reproduzir palavras portuguezas. Que enorme satisfação eu teria em lhe dizer tudo o que senti, se eu pudesse fazê-lo. Mas é me impossível dizer a V. aquilo para o que não ha linguagem possível. Até que o meu posto ouviu Portugal!!
Foi tamanha satisfação que no domingo próximo eu esperarei com a maior atenção que o posto P1AA continue com os seus concertos que eu admirarei embora para isso tenha de estar pacientemente com os auscultadores nos ouvidos até que possa como fiz por vezes sobre tudo depois da meia noite ligar o alto falante, para assim ouvir bem alto na minha modesta sala a voz do primeiro portuguez que ousou percorrer os 340 quilómetros que nos separam com a sua voz. que na vanguarda de todos soube fazer elevar o seu amor pela Radiotelefonia em Portugal.
Se me permite, eu farei algumas observações sobre o aparelho de transmissão.
Pouco forte no entanto deixou por vezes com a nitidez dos grandes postos estrangeiros, ouvir nitidamente o canto e piano.
A onda não é, como posso provar a V, (pelo menos aqui) de 300 metros mas sim de 275, fica no meu «Oscilator» próxima de Bruxellas, e tão próxima que por vezes Bruxellas fazia ouvir o seu sopro.
A onda de 275 metros ou aproximadamente isto, é firme não me sendo necessário como em alguns outros postos de ter de variar para a encontrar como acontece com Sevilha, Madrid e outros.
Se alguma explicação sobre r, assumpto for agradável a V, com o maior prazer a darei.
Vou terminar por pedir a V. imensa desculpa por lhe ter roubado uns minutos na leitura destas mal alinhavadas linhas, filhas da emoção enorme que senti com a agradável surpresa que acabo de narrar.
Queira desculpar-me pois.
De V. etc. - Ermezinde. - Victor França.
Nota: Foi preservado o português original