As mulheres e a rádio

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AS MULHERES E A RÁDIO


O texto abaixo foi escrito por Maria Elisa dos Santos Reis, na revista "Única", (Brasil) em abril de 1926. Uma forma encontrada para explicar como funcionava a transmissão radiofônica, ainda uma novidade para a época.


“Depois do jantar, sentados em bôas poltronas, diante da radiola, os maridos descobrem que se pode viajar muito, viajando ao redor da própria sala. Quem sabe se depois da radiomania a média da felicidade conjugal não aumentou?... Tem a palavra a madame...

Rádio mysterioso... Hoje a sciencia permite a côro de um de nós affirmar: o ar está cheio de idéias. De idéias e de sentimentos. Aqui neste salão aconchegante e florido, docemente perfumado, em que a leitora pousa o olharem Única, existem no ar canções e poesias. Há vozes alegres e tristes, cantando ou falando em vários idiomas, licções de mestres ou ‘loquela de palradores’ violinos a gemer e até mesmo tambores a rufar.

Pensa a leitora que está sozinha? Engano. O mundo, minha boa amiga, está falando, cantando ou gritando, aí mesmo no seu boudoir. E não são vozes de espírito, que só os iniciados conseguem ouvir, são vozes humanas, dos vivos, que estando a milhares de quilômetros do seu salão, entram na sua casa mysteriosamente, sem que a minha bôa amiga possa impedir essa invasão conseguida nas asas do “Rádio”! A qualquer hora do dia ou da noite é sempre possível em qualquer lugar armar um receptor – ‘um verdadeiro ouvido artificial’ – para escutar as amáveis intrusas, ‘as vozes da terra’...

Na estação transmissora da Rádio Telefônica, seja a da nossa querida e patriótica ‘Rádio Sociedade’, a corrente microphonica, modificada pelo som vae agir sobre as ondas que o transmissor espalhar no ar, e essas ondas variam na sua amplitude, de acordo com a corrente microphonica.

Eis como o som ‘vira’ ondas hertzianas que se espalham pelo mundo.

Imaginemos uma corda presa por uma das pontas a um muro, pela outra ponta segura na mão de alguém que se faça oscilar. A corda (que comparação grosseira) é o ether. A distância entre os cristais das ondas é o que se chama de “comprimento da onda”. A mão que a agita é o transmissor.

Se alguém munido de um bastão enquanto oscilar de vez em quando dá-lhe uma pancada mais ou menos forte, as oscilações serão alteradas pelo bastão: o bastão é o microphone. Eis aí o mystério da transmissão meio desvendado.



Cortesia de Fábio Pirajá do site: http://www.locutor.info

Nota: Foi preservado o português original