Primeira transmissão de P1AE

Separadores primários

Read time: 5 mins

PRIMEIRA TRANSMISSÃO DE P1AE


Um dos primeiros postos a emitir em 1924 foi o do Tenente Eugénio de Avilez, P1-AE.

Eugênio de Avilez foi o presidente da “Rádio Academia de Portugal”, uma associação que foi dissolvida em favor da “Sociedade Portuguesa de Amadores de T.S.F.” que acabaria, também, por encerrar. Fundou então a R.E.P. - Rede de Emissores Portugueses, em 1926.


INDICATIVO OFICIAL: P1AE
FUNDAÇÃO: 1924
INSTALAÇÕES: Rua Costa do Castelo, 15, 1º.
PROPRIETÁRIO: Eugênio de Avilez.
POTÊNCIA DO EMISSOR: 50 W
EMISSÃO: 80 m (1924).

Abaixo pode ler-se a descrição da construção do seu primeiro emissor escrita para o número de Março de 1925 da revista “T.S.F. em Portugal”:


Março de 1925:
P1-AE


Permita-me o leitor que em poucas palávras que eu faça a historia da construção do posto P1AE o qual apezar do seu primeiro nome, quando viu a luz do mundo, já o ilustre “1 AB” tinha nascido, crescido e... até já falava. Tendo sentido uma enorme alegria no dia em que 1 AB se fez escutar pela primeira vez e ouvindo-o pedir que lhe dessem informações acerca da sua emissão, lembrei-me de passar a transmitir-lhe pelo mesmo sistema as informações pedidas e assim, dentro das minhas forças, concorrer para o desenvolvimento da T. S. F. em Portugal, a exemplo do que se faz lá fora e cujos resultados mais extraordinários se devem á proficiência e paciência dos amadores.

Ora como esta ideia coincidisse com a posse de umas dezenas de escudos disponíveis, condição essencial para se obter a oscilação de um posto emissor, e porque não gosto de dormir sobre as resoluções tomadas, eis-me nesse dia trocando os já mencionados escudos por condensadores, resistências e outras peças várias, dando começo á montagem do meu posto.

Recordo-me aqui, que por um feliz acaso, alguns amigos tiveram a óptima lembrança de me visitarem, o que me permitiu fazer-lhes passar agradavelmente umas trez horas, bobinando umas selfs de mil e duzentas espiras, o que se proventura os aborreceu -o que não creio, teve para mim a vantagem de me livrar d’essa massada e de terminar mais rapidamente a montagem.

Satisfeitíssimo, julgando-me no fim dos meus trabalhos, ligo lhe os acumuladores, acendo as lâmpadas e, quando me preparava para fazer uma chamada para um amador Norte Americano, das minhas relações, vejo com espanto que o ponteiro do amperemetro de antena, se encontrava no descanço junto ao zero, naturalmente por se achar comodamente instalado, se recusa terminantemente a deslocar-se.

Não os desejo massar contando-lhe o que para mim foram cerca de vinte horas a verificar a montagem, e as ligações, acompanhando estes trabalhos de olhares envergonhados, lançados, a furto ao amperemetro, o qual, incensivel ás minhas dores de cabeça, ironicamente continuava a mostrar-me o zero como cotação maxima do meu esforço.

Emfim com o auxilio de um miliamperemetro generosamente emprestado pude descobrir um atemo de solda que se estava divertindo a permitir a fuga da corrente de grelha.

Expulso este, a custo o maldito ponteiro largou o seu encosto e cansadamente foi subindo até um décimo. E já nessa noite 1 AB acusava a recepção da minha palavra.

Estava dobrado o cabo das tormentas!

E assim com trez lâmpadas de recepção, lá corrigidos uns pequenos defeitos, melhorada a terra, que actualmente é constituída pela canalisação de agua, gaz, algeroz e por um poço, a irradiação rapidamente passou a quatro décimos.

Acusavam-me sinaes muito intensos e uma boa modelação e nitidez em toda a cidade. Desejando progredir substitui as lâmpadas de recepção por lâmpadas de emissão typo T.M.C. e com mais umas pequenas modificações consegui obter cerca de 20 Watts oscilantes E como me pediram que fizesse uma emissão de musica em comprimento de onda que podesse facilmente ser recebido, abandonei os 130 metros onde trabalhava e adoptei os 250 tendo emitido um concerto cuja recepção foi acusada nos pontos mais excêntricos da cidade, com uma óptima modolação e uma grande intensidade. Alguns informadores levaram a gentileza de, pelo telefone, me proporcionarem a audição do meu próprio posto. Embora de muito valia estas informações são de curta distancia e como não tenho outras nada posso dizer sobre o meu alcance. Aproveito esta ocasião para pedir aos amadores da província o favor de comunicarem a esta Revista a recepção do meu posto o que desde já agradeço.

Antes de terminar, eu desejo deixar bem expresso o meu reconhecimento á Administração Geral dos Correios e Telégrafos e ao Ministério da Marinha, a tolerância destes estudos que são sempre feitos de forma a em nada prejudicarem os serviços oficiaes.

A todos os amadores que tão bom auxilio me teem prestado os meus agradecimentos e em especial aos distintos amadores Dr. Souza Coutinho e D. Ricardo Carnier que com muita boa vontade teem dedicado muitas das suas horas a atenderem-me.

Finalmente desejo agradecer a 1 AB a forma gentil como sempre se tem prestado ás minhas comunicações bilateraes e aos esclarecimentos dos meus ensaios.

A V. Ex. Snr. Director da T.S.F., em Portugal eu agradeço mais uma vez as atenções que me tem dispensado e permita me que me confesse muito reconhecido pelas referencias lisongeiras que nas colunas da sua óptima e muito lida revista me tem feito.



Eugênio de Avillez P1-AE

Nota: Foi preservado o português original