O rádio em Bento Gonçalves-RS

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O RÁDIO EM BENTO GONÇALVES-RS



Na década de 40, os empresários, de modo geral, começam a perceber que o rádio era um meio mais eficiente para divulgar os seus produtos do que os veículos impressos, pois alcançavam também uma grande camada da população analfabeta.

O rádio mostra-se um órgão extremamente eficaz para incentivar a introdução de estímulos ao consumo. Diante deste quadro, o rádio começa a adquirir importância fundamental e ser visto como um instrumento capaz de interferir decisivamente no progresso. Assim, o governo federal inicia a concessão de vários prefixos para as cidades interioranas.

As transformações também começam a surgir na cidade de Bento Gonçalves, com o despontar de novas forças, como o comércio e a indústria, que formam o contexto ideal para a implantação de uma estação de rádio no município gaúcho.

O jornalista gaúcho Luís Neves, com 24 anos de idade, deixa a sua cidade Alegrete e transfere-se para Porto Alegre. É contratado pelo Diário de Notícias, indo mais tarde trabalhar no Correio do Povo. Posteriormente foi nomeado director da Agência Nacional neste Estado.

Mesmo trabalhando na imprensa escrita, Luís Neves tinha uma profunda admiração pelo rádio, veículo que já vinha conquistando o seu espaço.

Com a disponibilização de canais, Luís Neves habilitou-se junto do Departamento de Correios e Telégrafos, órgão subordinado ao Ministério da Viação e Obras Públicas, recebendo a autorização para instalar uma emissora em Bento Gonçalves ou Caxias do Sul.
"Meu marido gostava muito desta região. Como Caxias do Sul já tinha a sua emissora, inaugurada a 27 de abril de 1946, ele achou que Bento Gonçalves era uma cidade de futuro e fazia por merecer uma emissora radiofônica". A revelação é feita por dona Adair Neves, 87 anos, viúva do fundador e actualmente residindo em Porto Alegre.

O primeiro contrato social foi registado na Junta Comercial sob o nº 45.918, a 30 de janeiro de 1947, com a participação de três sócios: Luís Neves - Cr$ 60.000,00; seus cunhados: Walter Bomgharhem Freitas e Otacílio Flores Freitas, com Cr$ 30.000,00 e Cr$ 10.000,00 respectivamente.

No dia 10 de outubro de 1947, o Departamento dos Correios e Telégrafos, através do serviço radioeléctrico do Ministério da Viação e Obras Públicas, autorizava a abertura da Rádio Difusora de Bento Gonçalves.

Luís Neves alugou uma casa pertencente a Luíz Matheus Todeschini, na Rua Todeschini, 10, onde foi instalado o primeiro estúdio e a antena colocada um pouco mais abaixo. Todos os equipamentos e aparelhagem adquiridos por Luís Neves tiveram como avalista o sr. Todeschini.

E foi justamente às 9h30min do dia 21 de novembro de 1947, sexta-feira, sob os acordes do Hino Nacional Brasileiro, com a presença do prefeito nomeado, intendente Antônio Galileu Contino, autoridades e convidados, que vai para o ar pela primeira vez o som da ZYQ-5, Rádio Difusora de Bento Gonçalves, actuando na freqüência de 1.570 KHz, com transmissor de 100 watts de potência.
"É claro que, no início, tivemos de enfrentar algumas dificuldades", relembra dona Adair. "Afinal, era um empreendimento novo e não tínhamos nenhuma experiência. O Luís se desdobrava: fazia locução e percorria as firmas em busca de patrocínios. A mim cabia cuidar do escritório, da parte administrativa. Entretanto, nas emergências, também actuava como locutora. Em seguida contratamos Egídio Freitas Lima, Lacy Tramontina, Aloar Griggio, Cláudio Pasquetti e Vitor Ely. Itacyr Luíz Giacomello era um grande colaborador da emissora. A Lacy foi contratada para fazer a programação musical diariamente.". "Minha função era a de seleccionar as músicas do dia e dactilografá-las, para que o locutor pudesse seguir o seu trabalho sem maiores problemas. Fiquei na rádio até 1950", diz Lacy Tramontina Fontanive, professora de História e actualmente residindo em Porto Alegre. "Afora isso, participei de uma apresentação de rádio-teatro com a direcção de Camilo Pasquetti. A peça chamava-se 'Está lá fora um Inspetor'. A rádio abria às dez da manhã, prolongando-se até às vinte e duas horas. Predominava a música e a notícia. A propaganda era limitada. Não havia ainda entre os empresários a consciência de hoje de que ela é a alma do negócio. Fazíamos um rádio rudimentar, pois não tínhamos experiência. Mas foi um período muito bom em minha vida", afirma Lacy.

O Ayrton Gonçalves também cooperou com a rádio. Era um garoto muito inteligente. Estudava no Senai em Caxias do Sul e, mais tarde, na Escola Técnica Parobé, em Porto Alegre. Fez o curso de Torneiro Mecânico. Ajudou o Neves na instalação da torre.
"Fui um dos primeiros técnicos de som da rádio", diz Ayrton , hoje funcionário municipal aposentado. "Fazia também cobranças. Muitas vezes fui a Caxias do Sul cobrar as contas da Cervejaria Brahma". À época da inauguração, a rádio transmitia no período das 9 às 23 horas.

Até então, os estúdios permaneciam a funcionar junto dos transmissores.

No dia 26 de julho de 1948, o Ministério da Viação e Obras Públicas emite licença para o estabelecimento de estação radioelétrica particular e no dia 28 de julho do mesmo ano, a rádio recebe autorização para funcionar nas dependências alugadas do prédio do sr. João Farina, localizado na Marechal Floriano, 34, onde hoje funciona a Data Control.

A 7 de julho de 1950, a rádio assume o serviço de alto-falantes de propriedade de Cláudio Pasquetti e a prefeitura, a 3 de agosto de 1950, autoriza a instalação da emissora neste complexo sonoro, implantado nos três postes de iluminação pública situados em frente a Municipalidade, funcionando das 10 às 14 horas e das 15h30min às 23 horas.

Nesta fase a rádio operava com transmissor Classe B, fabricação própria, cristal com câmara térmica, válvula de saída, duas - 838 e duas válvulas 838 para modulação. Torre irradiante. Transmissor na Av. Todeschini, 10, estúdios na Marechal Deodoro, 34, freqüência 1.570 KHz, Antena Marconi.

Luís Eduardo Neves, geólogo, residente no Rio de Janeiro, um dos filhos do casal, tem boas lembranças do tempo em que os seus pais iniciaram os trabalhos na Rádio Difusora, lutando com muitas dificuldades, mas sempre na busca de um ideal.

A instalação dos equipamentos foi feita por um militar, técnico em electrônica, de Porto Alegre. Posteriormente, uma forte ventania que assolou o município, provocou a queda da antena, sustentada por dois postes de eucalipto. Em virtude do imprevisto, a emissora ficou sem emitir vários dias. Foi providenciada, então, a compra de uma antena mais potente em São Paulo, com formato triangular, constituída por três peças de aço e montada pelos técnicos da empresa vendedora.

A pesar da potência reduzida, apenas 100 watts, as ondas da Rádio Difusora íam longe, alcançando até cidades fronteiriças como Uruguaiana, Itaquí e Santana do Livramento.

O primeiro locutor profissional contratado foi Egídio Freitas Lima, de Porto Alegre, mas que trabalhava como telegrafista no Departamento dos Correios e Telégrafos de Bento Gonçalves.
"Ocorre que a maioria falava o dialecto italiano e meu pai queria um locutor sem sotaque, daí a contratação de Lima. Depois veio o Aloar Griggio, mecânico da Agência Ford, e em seguida foi contratado o Gustavo Vanzelotti, locutor e narrador desportivo".

A pesar de Bento Gonçalves ser a capital do vinho, quem sustentava a rádio, no seu início, eram principalmente as agências de automóveis, que representavam as firmas americanas. Foram estes os grandes anunciantes da Rádio Difusora na sua primeira fase: Michelin, Mello & Cia. Ltda., Agentes Ford; Mecânica Internacional Ltda., de Ruga, Farina & Cia. Ltda., concessionária Chrysker Plymouth e Fargo; A. Bertuol, Moré & Cia., concessionária Chevrolet e Frigidaire; Oficina Mecânica Belini & Barbon, de Spag-nol, Reffati & Cia. Ltda; Farina, Zago, Brum & Cia. Ltda., concessionários Mercedes Benz; Casa Koff; Casa Fontanari, de Adylio Lapolli; Casa Fasolo, de Guilherme Fasolo & Filhos; Posto Auto Motor Ltda., concessionários Dodge; Ângelo Milani & Cia. Ltda.; Irmãos Salton Ltda, fabricantes do conhaque e champanhe Salton; Vinhos Único; Conhaque Dreher e outros, complementa Luís Eduardo Neves.



Memórias extraídas do livro "RÁDIO VIVA - UMA HISTÓRIA DE 50 ANOS - UMA RÁDIO DE MUITAS VIDAS", de autoria de Alceu Salvi Souto.

Cortesia de Ivan - PY3IDR
e-mail: ivanr@cpovo.net

Comentários

olá...gostaria de saber como faz
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Que foi perdida...uma camera digital
cyber shot da SONY...prata,
Sábado
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