A dura maratona por peças e para pagar as contas

Separadores primários

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Carta de fiança

No tempo dos aparelhos a válvulas, lá por 1940, a atividade de reparação de receptores nada tinha de fácil, ao contrário do que se imagina hoje.

Os aparelhos eram mais simples, mas muitos componentes eram importados e tinham que ser encomendados de comerciantes do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os transformadores de alimentação eram caros. Os queimados tinham que ser rebobinados pelo próprio técnico reparador. Assim precisava também ser feito com os reatores de filtro ou com as bobinas de campo dos alto-falantes.

Nas válvulas, a necessidade de substituições era comum, como as das "pata-de-elefante" por americanas, por escassez da original do circuito. Mesmo entre alguns tipos de válvulas de tipos americanos aconteciam faltas no mercado, por causa do esforço de guerra. Os capacitores eletrolíticos e os capacitores variáveis eram quase todos importados.

Na década de 50 e 60 a disponibilidade de componentes de reposição para os equipamentos novos aumentou extraordinariamente, em virtude da inauguração de fábricas nacionais de válvulas, transformadores, potenciômetros, capacitores, resistores.

Mas se a profusão de componentes se tornou realidade, surgiram outros problemas que passaram a afligir os profissionais de manutenções e reparações, principalmente nos que atuavam no conserto de aparelhos em garantia, na rede de assistência técnica. A Philips, por exemplo, exigia carta de fiança - na época um título de execução extrajudicial - para fornecer peças em consignação para os serviços de garantia em seus aparelhos, exceção feita nas encomendas de produtos efetuadas diretamente nas suas revendas, pagas antecipadamente, em dinheiro.

Na fotografia aparece uma carta de fiança dessas, no valor de Cr$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros), devolvida pela Philips em 1964 "por não mais ser necessária". A carta de fiança era comum no comércio da época: ela funcionava, para o fornecedor, como garantia das transações efetuadas. Para o técnico era sempre um encargo que assustava e o fazia perder o sono: para comparação, os trezentos mil cruzeiros do exemplo eram um valor equivalente a 15 televisores, a 15 reluzentes máquinas de lavar, por exemplo, ou a 71 máquinas de costura Elgin, conforme os anúncios de jornais daquele tempo.

Como se vê, nos ofícios de oficina de reparações de antigamente, a preocupação do técnico não era apenas a de diagnosticar os defeitos surgidos, conseguir os componentes, colocar os aparelhos novamente em funcionamento. Já era indispensável - como hoje ainda - manter um bom controle sobre o estoque de peças de reposição e sobre as contas. Tudo isso antes de receber o pagamento pelos serviços.