NUNCA mexa no ajuste de circuitos ressonantes

Separadores primários

Read time: 5 mins
Recetor Telefunken
Recetor europeu
Indutores de FI

Bobinas, capacitores trimmers e padders, transformadores de frequência intermediária etc.

Se você não tem larga experiência em técnicas de reparações de receptores antigos. Você alterará a calibração do aparelho e poderá danificar irremediavelmente componentes delicados como os núcleos das bobinas.

Fabricantes europeus como a Philips e a Telefunken lacravam os núcleos com cera ou produtos especiais para evitar alterações no alinhamento feito pelo fabricante. Alguns usavam tiras de látex na rosca do núcleo. Com o tempo o material oxida e endurece, transformando-se numa espécie de adesivo.

Os núcleos das bobinas antigas não são "carvões". Eram núcleos feitos com materiais magnéticos pulverizados, sinterizados com resinas, sob temperaturas elevadas. Os primeiros núcleos do material Ferroxcube da Philips eram muito delicados: danificavam-se a qualquer tentativa de forçá-los com ferramenta metálica. Tentar substituir núcleos antigos por ferrites de FIs atuais não dará certo: possuem permeabilidades diferentes.

Nunca faça "recap-geral" nos circuitos de RF e FI de um receptor antigo. O aparelho poderá nunca mais funcionar como era originalmente. Mesmo que os antigos sejam trocados por capacitores novos exatamente do mesmo valor, haverá alterações nas capacitâncias distribuídas na fiação do aparelho. Há também o risco de a troca provocar oscilações espúrias no funcionamento do circuito: basta, às vezes, um simples cabinho de sinal ficar próximo da grade sensível de uma válvula para introduzir realimentações e oscilações parasitas no estágio. O simples reposicionamento de um capacitor no chassi - mudar um que estava na vertical por um instalado na horizontal, por exemplo, para deixar a montagem "mais bonita" - poderá modificar a frequência de ressonância do circuito sintonizado. Troca de capacitor em circuito de RF em princípio só se faz se o componente original estiver comprovadamente defeituoso, o que é raro, principalmente em capacitores de mica ou tubulares de cerâmica, os mais usados.

Não mexa na calibração do aparelho. Não vá na conversa: em 99% dos casos de defeitos o problema não é decorrente de "falta de calibração". Isso quase sempre ocorre apenas se o aparelho original tiver sido "fuçado" por algum oidartécnico - o famoso radiotécnico às avessas.

Ao contrário do que dizem os "especialistas de internet", realinhamento dos circuitos sintonizados de um aparelho antigo NÃO É empreitada para curiosos ou pessoas sem prática. A calibração de receptores valvulados antigos, como muitos da Philips e da Telefunken, exige não apenas instrumental adequado, mas também procedimentos técnicos específicos do modelo do aparelho. Há alguns circuitos que exigem, por exemplo, que uma tensão negativa de polarização seja fornecida à válvula, durante o procedimento de calibração, através de uma pilha de 1,5 ou 3 volts, com o positivo à massa, na grade do pentodo de RF/FI. Já em outros tipos de aparelhos a modificação deve ser feita através de um resistor no circuito de grade.

Em alguns Philips antigos, além da polarização negativa com uma pilha, também é necessário curto-circuitar ou instalar resistores de amortecimento em alguns filtros rejeitores do circuito. A calibração de receptores antigos não deve ser tentada por amadores: é empreitada para quem tem conhecimento, prática e sabe o que está fazendo, seguindo sempre os procedimentos determinados no manual de serviço do aparelho.

Se você é principiante na recuperação de equipamentos antigos, não se aventure comprando sucatas de aparelhos valvulados mexidos, principalmente os europeus. Aparelhos dos velhos tempos com bobinas danificadas, núcleos de indutores partidos ou extraviados, circuitos bagunçados por oidartécnicos, quase sempre não são "relíquias", mas azedos abacaxis. Os componentes não são comuns. Não são achados no mercado de componentes de reposição. Peças originais dificilmente são encontradas: a substituição por equivalentes nem sempre é possível.

Apenas para mencionar os transformadores de FI: há receptores antigos que tinham FIs de 45, 50, 100, 120 e 262 kHz. Transformadores de FI de 110 kHz eram usados, por exemplo, em alguns rádios antigos europeus para funcionamento na faixa de ondas longas. As FIs geralmente mais utilizadas depois foram as de 450, 455 e 460 kHz, frequências bem acima dos primeiros aparelhos. Para a reposição nos rádios antigos será necessário projetar novos e volumosos indutores de FI, enrolando-os em fio Litz para manter o Q elevado.

Alguns não vão gostar da nossa afirmação, mas para consertar muitos tipos de rádios antigos não basta querer: é preciso também ter condições técnicas para consertá-los, ter conhecimento. Não basta apenas pedir ajuda nos grupos de internet, empenhar-se em discussões e gostar de eletrônica antiga: é preciso, ler, estudar muito. Principalmente saber interpretar esquemas, conhecer os componentes, estudar circuitos e queimar muita pestana para conhecer a fundo os manuais de serviço dos aparelhos.

Foto 1: Tentar trocar um transformador de FI como o deste veterano Telefunken não é meramente "dessoldar da placa" e colocar um componente novo. Tentar bulir -- sem prática e sem conhecimento -- nos circuitos sintonizados de aparelhos semelhantes poderá servir de atalho para condenar um clássico ao cemitério dos inservíveis.

Foto 2: Em alguns aparelhos antigos, principalmente entre os de procedência europeia, os procedimentos de alinhamento precisam ser feitos paralelamente a preparações no circuito.

Foto 3: Indutores de FI Philips como o da foto tinham os núcleos lacrados com cera, após o procedimento de calibração executado na fábrica. Os núcleos de Ferroxcube são frágeis e não podem ser acionados com ferramentas metálicas como chaves de fenda comuns, para não serem danificados. Durante a calibração a chave obrigatoriamente precisa ser de material isolante.