Epílogo
Texto escrito na primeira pessoa, o autor!
O que fiz é vosso, obrigado a todos.
Caros amigos, a nossa saga chegou ao fim. Não foi tão exaustiva como poderia ter sido mas talvez seja melhor assim. Cada aparelho dos quais falei, fez a história dos gira-discos.
Há outros, evidentemente, mas que por razões que lhes são próprias não foram seguidos por outros, e por isso não se tornaram em referências ou líderes de mercado.
Quis mostrar através desta curta história, uma certa maneira de tolerância, e de bom gosto.
Tolerância porque todos estes aparelhos são diferentes, alguns muito prestigiados, outros menos, uns muito antigos, outros mais recentes, mas todos fizeram história.
A simplicidade de um Rega, a complexidade de um TD 124, a magia de um Garrard 301, o rigor de um EMT 930st, o peso enorme de um Verdier e a leveza de um PT anniversary, são as faces opostas de uma mesma moeda.
O melhor gira-discos do mundo está algures em nós, no nosso gosto e na vontade (as vezes desrazoável) de possuir um determinado modelo bem preciso, porque gostamos da marca ou da estética desse dito, ou porque (o que é mais razoável), a sua sonoridade é uma continuação da nossa sensibilidade, da alma.
Mesmo se os que citei são referências (no estilo de cada um), viram que há coisas positivas e negativas na escuta deles, o que prova que o ideal está ainda e sempre por alcançar e ou descobrir.
Não é uma razão para pensar que um gira-discos modesto, ou um melhoramento do tipo DIY possa igualá-los, pois alguns dos citados, são bestas que podem fazer concorrência entre eles no palmarés das obras-primas do analógico.
A nobreza perturbante de um anniversary, a grandeza demoníaca de banda de um Verdier, a subtileza do grave/médio de um 124, os médios/altos únicos de um G 301, o veludo fel trado do baixo/médio de um LP12, não podem ser igualados facilmente, mesmo por certos monstros tecnológicos.
É isto que eu quero dizer por bom gosto: um grande gira-discos é uma imagem simbólica do homem que o criou, e da intenção inicial ao fazê-lo.
Há gira-discos que nasceram para serem bonitos, outros para serem impressionantes, alguns simplesmente para alimentar a vaidade dos proprietários e do criador, mas outros nasceram para fazer música.
Saber reconhecer estes últimos é ter conhecimento e bom gosto.
O gira-discos é uma disciplina e uma « arte nobre », que torna o objecto apaixonante. Por detrás da sua simplicidade, que consiste em rodar com uma velocidade determinada, compreendemos juntos que a realidade é muito diferente. Um grande gira é uma alquimia complexa e estável entre o homem, a mecânica e a ciência. Sem este equilíbrio não há grande som, e, evidentemente, não pode existir grande aparelho.
Mas um gira-discos não pode fazer tudo sozinho, e um braço/célula adequado, é tão importante quanto o resto.
Todos os que citei, foram escutados em condições de funcionamento ideais. Afinação e escolha da célula, do braço e a carga do phono.
Cada gira-discos é uma individualidade que é necessário aprender a conhecer. Um grande gira nas mãos de um aprendiz pode soar mal, e um gira médio pode ser perturbante se afinado por um mestre.
Compete a cada um de recuar, de aprender, de duvidar, para melhor avançar neste mundo instável, perturbante e generoso que se chama analógico.
Li de novo tudo o que escrevi, não pude dizer tudo, mas disse muito e se calhar o principal. Se misturarem as diferentes frases e ideias traçadas em cada Capítulo da saga, os segredos do analógico vão tornar-se familiares.
Espero ter ajudado a esse objectivo.
Comentários
Jorge Guimarães... (não verificado)
Dom, 2009-10-18 20:19
Ligação permanente
Re: Epílogo
Gostei de ler. Embora discorde de algumas opiniões expressadas - mas no mundo do hi-fi é assim mesmo - acho os textos de uma importância enorme, até porque nesta temática são raros. Parabéns ao autor.