O radioamador do milénio

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O RADIOAMADOR DO MILÉNIO


Nota prévia de "A Minharadio":
Este artigo foi escrito por Dirceu Pivatto da Silva - PY3IT em 1992 e é agora publicado postumamente. O título original da matéria é "O radioamador do próximo milenio" e foi convenientemente adaptado para "A Minharadio". Há que ressalvar a clarividência e capacidade de prever e adaptar-se ao que é novo deste saudoso radioamador.


Foto de CT2FUH, radioamador


Talvez o título deste artigo não seja o mais adequado, por levar o leitor, provavelmente, a pensar em ficção científica. Mas ele é verdadeiro!

Consciente desta realidade e por acompanhar, tão de perto quanto possível, o desenvolvimento actual, os meus pensamentos começaram a aproximar duas variáveis: EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA - RADIOAMADORISMO, e gerar as ilações correspondentes.

Comecei por comparar o Radioamadorismo actualmente praticado com aquele do início da década de 30, quando foram criadas as principais associações de radiotransmissão, quando foi construída a figura do radioamador, como a ponte entre o desespero pelo contacto e a solução salvadora. Num mundo tecnologicamente quase mudo, ele era a efectiva caixa de ressonância dos pedidos de socorro. Esta figura cresceu e impôs-se aos seus semelhantes, por toda a face da Terra, com histórias sem-fim, da sua dedicação, da sua persistência, da sua abnegação, dos seus conhecimentos de rádio ao serviço do ser humano.

O protótipo do radioamador, assim tão justamente cultuado (graças ao bom Deus!), foi gerado apartir de dois factores básicos:
- A necessidade imensa de contactos entre pessoas altamente necessitadas, nas mais variadas regiões; e
- A descoberta do emprego das ondas de rádio, começando pela Telegrafia e desembocando na Fonia.

Despertado para a Radiotécnica, o radioamador embrenhou-se pela senda deste conhecimento, ligado a uma estrutura associativista revestida de profundo sentido humanístico e social.

Colocava ao alcance dos isolados, dos perdidos, aquilo que dispunha e sabia manejar: “Uma máquina de comunicar” movida por um coração desejoso de servir.

Durante anos a fio este modelo foi válido e o radioamador, com ele, buscou evoluir, mas o fez sem se aperceber, apenas, na variável tecnológica (Radiotécnica).

Durante sucessivas décadas, as comunicações evoluíram lentamente, usando a voz ou o Código Morse com o acompanhamento dos radioamadores, que cresciam no seu número, estudando alguns, outros pesquisando, poucos e raros fazendo novas descobertas, mas aproximando-se uns dos outros, levando prontamente a informação onde ela se fazia necessária.

Assim, o comportamento do radioamador ponteava, de forma prática e operacional, o que a tecnologia lhe oferecia de mais avançado, ano após ano, e a despeito de alguns que insistiam em permanecer com a tecnologia que dominavam e com a qual estavam já acostumados.

A chegada do sistema de transmissão SSB - Single Side Band, em substituição do AM - Amplitude Modulada, é o mais claro exemplo do que estou a referir-me e que afectou apenas a variável tecnológica do Radioamadorismo. Os radioamadores novos, que ingressavam naquela ocasião, fizeram-no pela porta do SSB enquanto que muitos dos antigos continuaram a insistir no AM (alguns até hoje!).

A novidade do Código BAUDOT - no RTTY (Radio Teletype) - empregando 5 sinais ao contrário de 2 da Telegrafia, como também o AMTOR, são exemplos de resistência à chegada de novas tecnologias. As novidades estavam oferecidas mas poucos foram os radioamadores que a elas se entregaram. No Radioamadorismo, todavia, sempre existiram os grupos de vanguarda. É importante aqui assinalar que as mudanças acima citadas ocorreram no segmento da tecnologia e os seus impactos não trouxeram maiores estragos à actividade.

Hoje, é o sistema de Packet Radio que está a sacudir o radioamador, principalmente porque é operado apartir da conjunção RÁDIO-MICROCOMPUTADOR-MODEM. Esta novidade, no meu entender, vai atingir o cerne, não da tecnologia operacional do radioamador mas sim da sua tipologia, das suas finalidades.

Assim, nesta histórica caminhada, o próprio modelo do servir quedou-se relativamente estacionário, talvez em razão da lenta evolução tecnológica. Mas...

No costado do rádio surgira, também no início deste século, outro instrumento para o qual o radioamador jamais dedicou qualquer atenção e que, no entanto, viria, no futuro, abalar a sua tipologia, a sua majestade. Refiro-me ao telefone.

Actualmente, com a disponibilidade dos DDD e DDI é mais fácil falar com alguém em Tóquio do que realizar a mesma proeza via rádio, nos 20 metros, com toda a propagação favorável.

Com a monumental proliferação dos terminais telefônicos e a presença, cada vez maior, dos satélites, a “necessidade” de utilização do rádio “para servir” está diminuindo... diminuindo...

Entretanto, o impacto que afectou mais profundamente o Radioamadorismo não foram os já citados, nem o próprio transistor surgido no pós-guerra, que permitiu grande avanço tecnológico. Foram os CI, os Circuitos-Integrados, os populares “chip” a grande descoberta que se seguiu ao transistor... E dentre os Circuitos-Integrados o mais formidável é, sem sombra de dúvida, o microprocessador - a alma dos microcomputadores.

Há muitos anos atrás, em artigo para o nosso saudoso “Minuano”, afirmava que o microcomputador estaria, muito breve, no “shack”, ombreando com o microfone.

Se as comunicações telefônicas actuais abalaram o sentido do Radioamadorismo, o microcomputador e a teleinformática colocarão, já antes do início do 3º Milênio, aquela clássica tipologia de Radioamadorismo, em algum museu.

Aí está o problema! A maioria dos radioamadores está a praticar um modelo de Radioamadorismo que não se amolda à evolução tecnológica, está em descompasso com ela. A tendência disso será a marginalização, se insistirmos neste “statu quo”, se não aderirmos ao estado-da-arte do rádio, se não estudarmos, se não ingressarmos a fundo na Informática.

Desde 1982 uso, em minhas palestras de administração, uma expressão que serve para os radioamadores:
“O profissional que não aderir ao microcomputador cairá em Quadro Extinto”.

Passados 10 anos, vejo o quão profética era esta afirmativa.

Há uma dificuldade para o ser humano aceitar a evolução, pois ela costuma matar, destruir, arrasar com o que já estamos acostumados, com aquilo em que sempre acreditamos e temos por certo que é imutável.

Este artigo busca consciencializar todos os colegas radioamadores, como eu, para o modelo de Radioamadorismo, para a forma de fazer-rádio, que ainda estamos a praticar, que já não tem mais lugar nos dias de hoje e muito menos o terá já nas primeiras décadas do século (e milênio), mesmo considerando que nada venha a ser inventado em seguimento ao Circuito-Integrado, o que é totalmente ilusório. Precisamos mudar... urgentemente!

Em razão, talvez, da falta de maiores informações, de conhecimentos técnicos, de recursos materiais, grande é o número de radioamadores que não aceitam os “novos tempos”. A sua resposta é a expressão - “isto não é Radioamadorismo”. Não estão conscientes de que, assim procedendo estão, naturalmente, condenando esta actividade ao imobilismo, ao descrédito total. Os dois factos adiante narrados confirmam isto.

Em 1989, no Rancho do Radioamador Gaúcho realizado em Ijuí, RS, na minha palestra sobre “Um Shack Incrementado”, quase fui agredido quando mostrei a impressionante presença da Informática nas actividades radioamadorísticas. Quem lá esteve, deve lembrar-se deste episódio, do desespero dos despreparados para as mudanças que estavam a chegar.

Numa entrevista técnica, apresentada pelo Grupo de Radioamadores G9+, após um QTC da LABRE/RS, o apresentador era interrompido a todo o momento por radioamadores inconformados, que berravam: “Isto é uma barbaridade!... Isto não é Radioamadorismo!... Querem destruir o Radioamadorismo!” Estavam desesperados e nem declinavam os seus indicativos. Lembram deste facto?

Mas passemos para a parte mais difícil deste trabalho: Conversar sobre o Radioamadorismo do futuro.

É muito difícil alguém escrever sobre acontecimentos futuros, porque falta o principal: As novas descobertas que trazem, no seu bojo, a força da mudança. Mesmo assim, com a devida vênia, arriscarei alguns palpites em função da projecção do que hoje é o estado-da-arte no nosso campo, lembrando que o Radioamadorismo, naturalmente, é parte de um contexto evolutivo maior.



Aspectos Gerais:


- A sociedade moderna ainda não percebeu o furacão de mudanças que a Teleinformática imporá ao comportamento humano.
- Empurrado pela avassaladora presença da Teleinformática, o que restar do nosso praticado Radioamadorismo surgirá em nova forma.
- Revistas técnicas tipo QTC, 73, CQ, QST, AN-EP e outras, chegarão aos radioamadores-assinantes, no seus “shack”, via modem, digitalizadas e em belíssimas cores, tal como os jornais da época, que não serão mais em papel.
- As LABREs deste Novo Mundo serão grandes Bancos de Dados, com:
- registos completos dos seus associados;
- vasto volume de informações técnicas;
- Concursos centrados nas INFORMAÇÕES;
- amplas informações sobre a área que administram;
- Bibliotecas electrônicas em CD-ROM e seu sucedâneo;
- Correio electrônico - 24 horas disponível;
- Departamento electrônico de ofertas/aquisições.

Tudo automático! Esplendidamente administrado, quem sabe, por 2 pessoas.

- Telegrafia? Fonia? RTTY? AMTOR? Packet? Os clubes de tradição não deixarão morrer o que os nossos ancestrais e nós mesmos, hoje, fazemos.



A tipologia do radioamador:


- Por razão dos altos custos, imensa variedade de equipamentos e da amplitude das operações radioamadorísticas, ressurgirão, em novo modelo, e com força total, os Clubes de Radioamadorismo, onde cada membro é uma parte importante para o funcionamento da entidade. Antes de se inserirem no contexto, são treinados em cada tipo de operação.
- A antiga figura do radioamador, pronto para “estourar”os mais difíceis QTC, deverá dar lugar ao do Gerador e Administrador de Bancos de Dados, altamente especializado, e de cunho social e educacional. Ele será um catalogador de informações que, orgulhosamente, disporá para o mundo inteiro usufruir.

Um exemplo:
Você aprecia orquídeas? O colega VU7XX, das Is. Laccadive, dispõe de um volume tão grande de informações sobre o assunto que você nem em 5 anos será capaz de esgotar. Está à sua disposição, gratuitamente, 24 horas por dia. Use o Correio Electrônico dele para contactar com outros orquidófilos, sejam ou não radioamadores (via modem-telefone).

Outro exemplo:
Seu QTH é rural? E interessado em vacas holandesas? Precisa saber algo muito especializado e que você desconhece? Coloque o seu problema no Correio Electrônico da LABRE Nacional. PY6UUU tem um Banco de Dados sobre o assunto e tem a resposta para o seu problema. Não perca, agora, esta conexão.



No Campo Tecnológico:


Bem, aqui a coisa fica mais difícil de expor. Mas, vamos lá: - As antigas (actuais) transmissões em Fonia serão feitas na língua do emissor e recebidas na língua do receptor. Isto é, falo em Português no meu rádio e o meu colega russo recebe-me na sua língua e/ou dialecto. As dificuldades por desconhecimento da língua terão desaparecido.
- Contactos em padrão “free error”, mesmo em Fonia, serão a regra em qualquer comunicado.
- Complexas redes de satélites estacionários, geradores de Camadas de Reflexão, funcionarão também, com antenas para os contactos radioamadorísticos.
- Gigantescas, complexas e eficientes redes de “Packet Radio” ou seu sucessor evolutivo, estarão montadas e administradas por grupos de radioamadores.
- Os equipamentos serão em sistema “plug in” onde a simples substituição de um componente ou placa já o habilita para novas actividades.
- As conexões em fibra ótica darão aos equipamentos uma durabilidade e confiabilidade invejáveis.
- As estações de Radioamadorismo estarão no ar tempo integral e operadas em sistemas BBS - Bulletin Board System ou seu modelo evolutivo.
- Cursos e treinamentos, do que sonhar, estarão ao seu alcance, na ponta dos seus dedos, oferecidos por radioamadores do mundo inteiro.

Esta é a análise que há muito tempo me propusera realizar. Sempre um compromisso ou outro resultavam em adiamentos.

Tenho a medida do quanto este trabalho será combatido e até execrado. Seguramente é para estas pessoas que estou a escrever. Escrevi justamente para aqueles que não me aceitaram em Ijuí-RS, que se revoltaram com a Palestra Técnica do Grupo de Radioamadores G9+; para aqueles que, convidados, nunca foram a uma Conferência da LABRE/RS; para aqueles a quem mandamos, mês após mês, os Mapas de Propagação Ionosférica e nunca sequer acusaram o recebimento; para aqueles que, insistentemente convidados, nunca compareceram aos Encontros Radioamadorísticos da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos - FDRH; para aqueles que, convidados, também não apareceram ao Seminário de Teleinformática; que, convidados para as palestras técnicas na SOGIPA, nunca lá se fizeram presentes mas que, com certeza, após lerem este artigo, dirão para seus pares:
“O artigo do Pivatto? ... um monte de asneira”.


PORTO ALEGRE-RS, JULHO/1992
Por Dirceu Pivatto da Silva - PY3IT

Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail: ivanr@cpovo.net
Adaptado para “A Minharadio” por António Silva, CT1FIY



Comentários

Quando duas tecnologias permitem fazer a mesma coisa, uma do jeito mais fácil, outra do jeito mais difícil, a escolha econômica racional de todo ser humano é optar pelo que é mais fácil. Esta é a verdadeira razão pela qual o radioamadorismo vai morrer: porque é muito mais fácil contatar outras pessoas pelo telefone e pela internet do que pelo rádio.

Os critérios para "fácil" são vários: é mais simples, é mais rápido, é mais barato e é mais desburocratizado adquirir e usar um telefone celular do que um equipamento radioamador. O celular eu vou até qualquer loja, preencho o cadastro da anatel, pago e saio usando. O equipamento radioamador eu nem sei onde comprar, preciso fazer um curso, estudar uma linguagem esotérica, fazer uma prova, esperar uma licença... e pagar mais caro do que para adquirir um celular! Quem vai preferir o jeito mais difícil, mais complicado, mais demorado e mais caro quando há outra alternativa muito mais prática disponível?

Para "salvar" o radioamadorismo será necessário desburocratizá-lo, atualizá-lo e torná-lo atrativo para fazer coisas interessantes que não podem ser realizadas pelo telefone celular e nem pela internet, pelo menos não com o mesmo custo. E há pelo menos *uma* coisa que se encaixa neste perfil: a comunicação multilateral em deslocamento.

O radiomadorismo é uma verdadeira "sala de bate-papo virtual", aliás é a sala de bate-papo virtual pioneira no mundo! Não se pode conversar em grupo com baixo custo pelo telefone, e não se pode teclar na internet durante uma viagem de carro, barco ou uma expedição a pé. Este é o nicho de maior possibilidade de aproveitamento pelo radioamador.

Não faz muito sentido ter uma estação de radioamador em casa quando se pode conectar na internet com banda larga e fazer tudo que o radioamador faria, e além disso sem necessidade de cursos, provas, licenças e outros complicadores. O lugar da estação no mundo moderno deve ser o *automóvel*, e para quem curte trekking ou esportes junto a natureza o lugar do equipamento é a mochila.

Muita coisa útil poderia surgir em termos de serviços e redes de apoio mútuo, no bom e velho espírito dos pioneiros do radioamadorismo, se os *automóveis* viessem equipados com um radioamador. Enquanto as grandes montadoras não colaborarem com essa idéia, o que os radioamadores poderiam fazer seria instalar seus equipamentos em seus automóveis e começar a desenvolver uma rede de serviços especial para motoristas e viajantes. Utilidade sempre atrai público, sempre lembrando que a área também precisa ser desburocratizada e o acesso simplificado e facilitado.

Código Morse? Longas listas de códigos esotéricos? Provas e licenciamentos? Níveis de qualificação? O telefone e a internet não possuem nada disso, nem por isso são "terra de ninguém", e tomaram conta do mundo. O radioamadorismo NÃO irá desbancá-los nunca mais, e será morto por eles se não investir pesadamente nos únicos nichos onde tecnologicamente ainda faz sentido e onde pode produzir benefícios com vantagem sobre seus concorrentes.

Aos automóveis e mochilas, rápido!

Arthur Golgo Lucas
bio1968@ig.com.br

Retrato de Rutra1

Sim é a questão colocada, porque o verdadeiro, esse já morreu á muito tempo, "pelo menos desde que, foram e são vendidos equipamentos de todo o tipo, a qualquer pessoa encartada ou não, "pretendo dizer radioamador ou não" e a prova, ou provas de que fala o autor acha que no minimo as referidas deveriam ser como ? dispensadas, ora isso quanto a mim nunca poderiam nem devem ser, muito até pelo contrário, pois acho que já tem sido , e são facilitadas demais, perder-se-ia o espirito amadoristico e passaria a ser um ainda outro negocio, além do já existente e conhecido, onde os equipamentos cobrem bandas desde, até um lilmite que não tem, as potençias essas, e com as antenas então, as possiveis barreiras são quase inexistentes.
Orgulhemo-nos de ser RADIOAMADORES, e não apenas radiofaladores, conheça-se e procure-se dar a conhecer o essencial da questão, quantos desses radioamadores então chamados conhecerão "por exemplo" a Lei de OHM ?, alguns até desconhecerão os valores da resistençia "o codigo das cores", e já sem falar notras que a mencionar... perdoe caro "se é" radioamador.

Caro amigo, venho a concordar plenamente com o seu raciocínio, já que hoje o radioamador não sabe, digo a maioria não sabe nem como fazer o calcúlo de uma antena qto mais ter conhecimento sobre a lei de "ohm", mas tem uns que acham que tem que-se manter o código morse para se adentrar ao radioamadorismo, e no meu ponto de vista isso não vai dar qualidade ao mesmo, ou então faz-se testes de práticas digitais também. Já que hoje há inumeros tipos de modalidades, completamente desconhecidos dos pseudos "Classes As"

Retrato de Rutra1

Efectivamente é como narra, para quê a prova de morse se...
Actualmente as máquinas fazem e desfazem tudo?
Aprender, mas quem actualmente atribui o valor que noutros tempos era primordial "também concordo", mas esses já passaram, mas quanto a dizer no campo RADIOAMADOR ! Quem o pretendia ser, teria de construir o seu equipamento, e nem refiro as antenas, que para as adaptar, "eu" inseria uma lampada de filamento em série".
O meu abraço amigo, e muito OBRIGADO

Olhemos à nossa volta. Onde estão os desbravadoers de novas fronteiras, "indo audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve"?

Nós não encontraremos mais desbravadores numa garagem do fundo do quintal, romanticamente emaranhados em uma porção de fios e parafusos, decifrando um manual raro em língua estrangeira e fazendo experiências com mais ou menos voltas em uma bobina. Isto seria reinventar a roda, algo totalmente desnecessário em uma época em que este conhecimento não é mais novo nem "esotérico", podendo ser adquirido em diversas livrarias, consultado nas bibliotecas ou aprendido em um curso profissionalizante.

Os desbravadores de hoje utilizam as tecnologias já bem conhecidas e difundidas, produzidas pelos desbravadores do passado, para ir além, muito além de onde os antigos pioneiros já estiveram. É assim que se aprimora a ciência, e é assim que evolui o cabedal de conhecimentos da humanidade.

Eu entendo a mágoa dos veteranos ao ver qualquer guri mal saído das fraldas fazendo e desfazendo na internet, conversando com gente de outros países pelas salas de bate-papo ou pelos "programas mensageiros", sem ter a menor idéia de como funciona toda esta parafernália. Quem muito sofreu para construir o próprio rádio e passou noites levando choques, furando os dedos e ouvindo zumbidos para finalmente fazer um contato muito chiado com outro entusiasta dedicado certamente não vê com bons olhos a posibilidade de simplesmente comprar seu rádio pronto e sair falando. *Parece* uma certa "desvalorização" de todo aquele esforço. Mas não é.

Foi o esforço dos pioneiros que nos trouxe a novas fronteiras, e foi a produção dos pioneiros que nos forneceu a base para nos tornarmos *novos* pioneiros. Não temos por que redescobrir a Lei de Ohm, nem nos sacrificarmos enrolando bobinas que podem ser adquiridas solicitando-as a uma loja por um número de referência. Não temos nem por que mexar na bobina, contrata-se um técnico para fazer os consertos. Afinal, técnicos sempre existirão para preservar este conhecimento e prestar-nos assistência quando necessário, liberando-nos para outras atividades que utilizem a tecnologia não como fim, mas como meio. Meio para quê? Para honrar a memória dos pioneiros, alargando mais e mais as fronteiras que eles abriram, produzindo *novos* benefícios.

Eu sou um dinossauro da era da informática: tive em mãos - e usei - um floppy disk com DOS 1.0 no tempo em que ainda fazia sentido chamar o disquete de "floppy", pois ele era realmente flexível, com largura de cinco polegadas e um quarto. Naquele tempo a memória RAM era medida em kilobytes, e a memória em disco em megabytes. Hoje isso parece piada, tudo foi multiplicado por um fator não inferior a mil, e a complexidade atingiu níveis impressionantes. Pois bem, naquela época nós *digitávamos* os joguinhos em assembler, copiando de uma revista, e os gravávamos em fita K7. Demorava cinco a oito minutos para carregar um joguinho na memória, e quando "dava pau" tínhamos que começar tudo do início novamente.

Se eu tenho saudade daquela época? Sim, claro! Ainda tenho meu TK82-C, com 2 kbytes de memória, expansíveis para incríveis 16 kbytes, teclado de membrana, BASIC residente, processador Z-80. O PC-XT veio depois disso, com seu poederosíssimo processador 8086 de 4,77 MHz. Comprei um PC-AT com modem de 2.400 bps, o dobro da velocidade usual na época, e navegava rápido como um foguete na bitnet, antiga rede concorrente da internet que hoje ninguém mais nem sabe que um diz existiu. Mas ninguém aqui imagina que eu ainda insisto em utilizar estes equipamentos, certo?

Meu computador atual era top-de-linha há dois ou três anos atrás, e hoje ruma em direção à obsolescência rapidamente. Mais um par de anos e ele estará realmente obsoleto, necessitando substituição. Mas eu não vou chorar por isso: vou pegar meu carro, dirigir até a loja de informática e comprar uma máquina mais poderosa, como há de requerer o futuro.

Minha pergunta é: haverá ainda alguém para conversar comigo por radioamador, no caminho entre minha casa e a loja de informática? E quando eu estiver fazendo trekking, ou acampando, ou navegando, e quiser bater um papo, eu poderei conversar com os amigos pelo rádio? Ou haverá somente meia dúzia de remanescentes ainda vivos, socados no fundo das garagens, enrolados em fios e bobinas, resmungando contra estes novatos que não conhecem a Lei de Ohm?

Arthur Golgo Lucas
bio1968@ig.com.br

Interessante seu posicionamento sobre o radioamador do futuro. Em minha casa eramos três radioamadores. Meu pai PY3 KB Camini, já falecido, minha mãe, PU3 VKS Maria, ainda radioamadora aos 81 anos e momentaneamente fora do ar por problemas de antena e eu que a alguns anos substitui o radio pela internet mas nunca deixei de acompanhar e hoje auxilio minha mãe. O que questiono na chegada da informática ao radioamadorismo é o fato de alguns célebres radiomadores, já com avançada idade, se adaptarem ao presente. Para os jovens será fácil, para os idosos bem mais dificil e para alguns praticamente impossivel. Presente a tantos anos, madrinha de várias rodadas, com um rol de amigos espalhados por todo este mundo tão gigantesco, minha mãe, Tia Maria, assim carinhosamente chamada não seria capaz de se adaptar a tamanha mudança e quantas vezes foi da Estação Fraterno que muitos socorreram-se em busca de noticias de familiares distantes. Portanto, na minha singela opinião, para nós jovens, que a tecnologia avance para que dela possamos tirar todo o proveito mas acima de tudo, vamos respeitar aqueles que num passado nem tão distante, em situações de emergência, foram os únicos capazes de ajudar. Quem não lembra dos terremotos do México em que o único meio de comunicação era o Radioamador! O mundo evolui, as comunicações também. Nós, vamos nos adaptando as novidades e nos maravilhando com o que nos é colocado a disposição para uso, mas aqueles que um dia foram os pioneiros do Radiomadorismo merecem sentir saudades daquele tempo da "caixinha preta" e acima de tudo, manterem-se como sempre foram; os velhos radiomadores e suas sabedorias e conhecimentos guardados em um drive que qualquer humano possui e de graça: sua memória e o conhecimento adquirido nos bate-papos das rodadas. abraços e parabéns pela excelente página que lamento só ter descoberto agora.
Maria Angela Camini
Porto Alegre - RS
kokycamini@yahoo.com.br

Gostaria de receber, se possível, a linguagem usada no radio amadorismo.
Grato pela atenção.
Moura.

Não se sabe ao certo quem inventou essa maneira esquisita e irreverente de falar na faixa do Cidadão.
Acredita-se que foram os caminhoneiros Americanos não para simplificar, mas criar um modo só deles de falar e entender melhor.

" 51 - Aperto de Mão
" 55 - Desejar Felicidades
" 73 - Abraço
" 88 - Beijos
" 144 - Dormir
" 146 - WC Sanitário
" ACOPLAMENTO - Reunião
" ÁGUA DE ELOQUÊNCIA - Cachaça
" ANA MARIA (AM) - Amplitude Modulada
" ANEL - Primo
" ANZOL - Polícia Rodoviária
" APARATO - Rádio
" ASA DURA - Avião
" ATRÁS DO TOCO / CORUJANDO - Só Ouvindo
" BAILARINA - Caneta
" BAIXA FREQUÊNCIA LINHA DE 500 - Telefonema
" BALAIO DE GATO - Bagunça no QRG (Na Frequência)
" BANDA LATERAL - Rádio com as modalidades LSB e USB
" BANHEIRA - Mar
" BARRA MÓVEL - Automóvel
" BARRA NÁUTICA - Barco
" BASQUETE - Trabalho
" BATENTE - Trabalho / Serviço
" BATON A BATON - Pessoalmente (Ela / Ela)
" BICORAR / MODULAR - Falar
" BIGODE A BIGODE - Pessoalmente (Ele / Ele)
" BIGODE A METRO - Pessoalmente
" BIGODEIRA - Interferência, Batimento
" BIÔNICA - Estação Sofisticada
" BOBO - Relógio
" BOTINA - Amplificador de RF
" BOTINA BRANCA - Médico
" BOTINA PRETA - Policia Militar
" BREAK - Solicitação de QRG (Frequência Exata)
" BRUXA - Ventania
" CAIXINHA PRETA - Rádio Transmissor
" CÂMBIO ESPADA - Mensagem Longa
" CANALETA - Canal
" CAPACETE - Sogro
" CARGA PESADA - Caminhão
" CARGA PESADA BONEQUINHA - Ônibus
" CARVÃO - Esposo
" CASA DE BEIJO - Motel
" CENTELHA - Neto
" CHÁ DE PERIQUITO - Chimarão, Mate
" CHÁ DE URUBU - Café
" CHAPEU DE SCACK - Telhado
" CHUCRUTAR - Aumentar os Canais
" CHUVA ARTIFICIAL - Banho
" COMER BARBANTE - Esperar
" COPIAR - Escutar
" CORUJA - Escuta
" CQ - Chamada Geral
" CRISTAL - Esposa
" CRISTALINA - Filha
" CRISTALISSIMA / PRIMEIRÍSSIMA / Mãe
" CRISTALOGRAFIA - Família
" CRISTALÓRDE - Filho
" CURTO CIRCUITO - Briga
" DIAMANTE - Pai
" DOIS METROS HORIZONTAIS - Dormir
" DUCHA - Tomar Banho
" DX - Contato Distante fora do estado ou país
" ESPARADRAPO - Irmão
" ESPIRAS - Anos
" FEIJÃO QUEIMADO - Amante
" FEITICEIRO - Técnico de Rádio
" FILAMENTOS - Ligar Desligar Rádio
" FIO MARAVILHA - FM
" FUNDO DE POÇO - Sinal Fraco
" GORDURAMES - Comida
" GREGA - Viagem
" LAMBARI - Estação Fraca
" LEVANTA A SAIA BAIANA - LSB
" LILICO - Butina / Butinear
" LOURA SUADA - Cerveja
" MACACO PRETO - Telefone
" MACANUDO - Colega / Camarada / Amigo
" MODULAR - Falar
" MOSCA BRANCA - Zona de Silêncio
" MUNHECA DE PAU - Operador Novato
" MUNHECADA - Mancada / Erro
" MUSIQUEIRO - Rádio AM FM
" ORELHA - Vizinho
" PAPAI NOEL - Dentel
" PARA-RAIO - Sogra
" PÉ DE BORRACHA / BARRA MÓVEL - Carro
" PÉ DE FERRO - Trem
" PÉ DE PATO / BARRA NÁUTICA - Barco
" PÉ DE SOLA - A Pé
" PERNETA - ColegaPICA-PAU - Manipulador / Telegrafia Linguagem
" IPOCA - Afilhado
" PIRAMBEIRA - Sair, Desligar
" PITIMBADO - Doente / Quebrado
" PORTADORA - Transmissão Sem Audio
" PX-MAIOR - Deus
" QHT DE DESCANSO - Residência
" QTO - Sanitário
" RECO-RECO NAS COSTELAS - Abraço
" ROGER-ROGER - Câmbio,
" RR SANTIAGO - Sinal
" SHACK - Local de Estação
" TAPETE BRANCO - Papel
" TAPETE PRETO - Asfalto
" TEREZINHA VASCONCELOS - Televisão
" TKS - Obrigado
" TRAPIZUNGA - Aparelho de Transmissão
" TUBARÃO - Estação Forte
" TURMALINA - Namorada
" URUBU SAI DE BAIXO - USB
" VERTICAL - Conversa Pessoal
Fonte: Rancho da Terra

tem como meu celular trabalhar como fosse um radio amador fazendo transmissoes como

sim...
hoje estamos em 2011 e já existe celulares com vhf e uhf(radio amador),tv,radio fm,mp4 e muito mais.