RARET - RÁDIO EUROPA LIVRE
por Mário Portugal Bettencourt Faria
Quando do fim da última guerra na Europa, em 1949, e a tomada pela força, dos países de Leste europeu pela Rússia, gerou-se em especial nos E.U.A. uma onda popular de interesse de, pelo menos, fazer chegar àqueles países, como Polónia, Checoslováquia, Hungria, etc, e via rádio, programas de ajuda pela Democracia, criando-se uma organização com o nome "Cruzados pela Liberdade", com a qual se obtiveram elevadas quantias para a montagem de emissores capazes de poderem chegar por ondas curtas, àqueles países.
A Empresa ficou conhecida por "Rádio Free Europe" e sediada em New York.
Com a chegada de muitos foragidos dos países de Leste a Munich, ficou ali montada uma estação de recolha de depoimentos e de Holskirshen, uma estação de rádio emissão, com as suas antenas apontadas para Portugal, fazia cá chegar os programas de Munich, feitos por esses foragidos, desejosos de fazerem chegar notícias à suas terras e às suas famílias.
Isso foi necessário, porque dada a proximidade da Alemanha, dos países de leste, as ondas curtas "saltavam" por cima, indo cair muito longe, para cima de 1000 Km.
Era necessário servir de apoio a estas comunicações, algum país amigo dos EUA, tendo sido Portugal escolhido, aliás como já se havia feito com as Bases Aéreas dos Açores, na ilha Terceira.
O nosso Presidente Salazar, só permitia que servíssemos de "espelho", ou seja, que recebêssemos e transmitíssemos aqueles programas e, daí, o nome RARET de RAdio RETransmissão.
Como era natural, nenhum funcionário poderia ser simpatizante dum Partido Político contrário ao Estado Novo e para a sua entrada na Empresa, o seu passado político era profundamente investigado pela polícia politica, a PIDE.
Como os americanos só desejavam pessoas habilitadas em técnica electrónica e de comunicações, para entrada imediata em serviço, e com vencimentos levemente superiores aos que o nosso Estado pagava, ficava-se muito aquém dos vencimentos que os próprios americanos pagavam nos EUA e na Alemanha, na mesma Companhia.
Por este motivo, só entraram para a RARET meia dúzia de radioamadores como técnicos, alguns engenheiros e engenheiros técnicos e, para a operação dos programas, exigiam-se profissionais de telegrafia, como os que se encontravam na Marinha, Aviação, Exército, DSR e pouco mais.
À distância de 56 anos, a que estamos destes acontecimentos, a população portuguesa foi sempre mal informada dos propósitos da RARET, julgando que se tratava da voz dos EUA que já possuía a VOA (Voz da América), a CIA, enquanto o que o povo americano queria fazer, seria ajudar financeiramente, os povos de Leste europeu, montando-lhes uns estúdios em Munich, onde estes povos, com as suas próprias línguas, as suas entrevistas, as suas musicas, as suas missas, os seus conhecimentos da vida dos povos do ocidente, com todo o género de músicas em que várias vezes se ouviu Amália Rodrigues e muitos outros cantores, pudessem montar os seus programas radiofónicos, coisas que os russos não aceitavam e até perseguiam ferozmente.
Assim, muitos disparates foram postos a correr entre alguns portugueses, como se estivéssemos a irradiar na língua russa, coisa que nunca foi feita.
O contrato feito com os EUA, seria de que poderiam enviar um emissor de ondas curtas de 7,5 KW, de tipo móvel, montado em brutos camiões, (VAN’s) e o material apropriado para a recepção.
A vinda dos EUA do material, foi aguardada com imenso interesse pelo pessoal de Lisboa que subia ao terraço do edifício da Standard Eléctrica, onde estavam os nossos escritórios, para acompanhar a chegada do navio, como se estivessem à espera da vinda do nosso Rei D.Sebastião!
Em Novembro de 1975, iniciámos uma publicação mensal na Companhia, de um Boletim Técnico, e no seu numero 9, de Julho de 1976, começamos a publicar artigos escritos por colegas que viveram os primeiros dias do funcionamento da RARET em Portugal, onde se contam os mais curiosos e hilariantes acontecimentos!
No nº11, de Setembro de 76, choramos a rir dos imensos episódios vividos e muito bem contados pelo colega Eng.Tec. Fernando Rocha.
A sua entrada para a RARET foi tão rocambolesca que ele até chamou de "safari", pois a viagem entre Salvaterra de Magos e o sítio onde estava o emissor da Glória, era autêntico mato e em muitos buracos, o jeep de transporte de pessoal, tinha de meter tracção às 4 rodas, para de lá sair!... (Anos mais tarde a RARET ajudou financeiramente, a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, a asfaltar aquela estrada, com milhares de dólares).
Quando Fernando Rocha chegou finalmente ao "Centro Emissor" chamado pelos próprios americanos de "Bárbara" (por motivos ainda desconhecidos...) foi lá encontrar 6 camiões, sendo que um tinha o emissor de 7,5 KW, um outro com uma espécie de sala de áudio, outro com um estúdio, outro com material de antenas, outro com dois geradores de corrente eléctrica a Diesel e um carregado de gasóleo.
Este conjunto de material, mais parecia um circo rodeado de arame farpado e guardas GNR. O pouco pessoal até sentia um certo orgulho na sua "Barbara"!
Este material havia sido transportado pelo navio Latona. Como a Empresa já tinha arrancado um ano antes, já se estavam a montar uma data de emissores de alta potência numa vasta área de vários hectares e a umas centenas de metros da "Bárbara", à qual estavam ligados por linhas telefónicas e RF.
O descanso era feito num "hotel" a que chamavam por graça, e pomposamente "Hotel Jackson" e que não era mais do que um palheiro coberto a chapa de zinco... muito semelhante ao que já estava a servir de "Centro de Recepção" . Era tudo improvisado!
Um outro funcionário de nome Horácio Costa, que havia sido recrutado para ajudar a montar a secção de recepção e electrificação, em Benavente, num sítio chamado Maxoqueira, em conjunto com um electricista de nome Fernando Cordeiro, via-se aflito para entender o americano Mac Lomasly, mas lá foi ajudando a montar o equipamento de recepção extremamente confuso para ele até que chegou o momento de ligar a corrente eléctrica.
Mas mal ela foi estabelecida, e perante o pasmo e aflição de todos, apareceu fumo a sair por todos os lados, mas de imediato se verificou que era o fumo dum cigarro de um funcionário brincalhão, um tal Martins que, certamente por graça ou malandrice, assustou imenso Mac Lomasly que o pôs de imediato na rua! !!
A RARET foi montada por pessoal muito jovem, quase todo solteiro e sempre pronto a galhofar uns com os outros, mas todo muito responsável.
Mas voltando um pouco atrás, em 1950, a engenharia agregada à nossa Emissora Nacional, Eng. Bívar e Liot ficava encarregada de descobrir e alugar terrenos suficientes para não só o material dedicado à recepção, mas também o da emissão, com as respectivas antenas.
Eram vários hectares...porque as antenas Rômbicas ocupavam enormes áreas...
Tanto para uma estação como a outra, seriam convenientes terrenos planos e assim a escolha recaiu sobre o Ribatejo, ficando nas proximidades de Benavente a recepção, junto do povoado da Barrosa e pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Benavente, e descoberto pelo agora falecido Lopes Vieira, (Radioamador CT1CW) técnico de som da EN e, na povoação da Glória, pertencente a Salvaterra de Magos, o emissor "Bárbara".
Este funcionário Lopes Vieira, tinha um feitio um tanto difícil e como tinha a "faca e o queijo" na mão, todo o pouco pessoal estremecia quando ele aparecia...
No alto da sua careca e alta testa, usava um quico de pala comprida e um bigodinho à laia do poeta Fernando Pessoa, e usava calções que sobre uma enorme barriga, deixavam aparecer umas pernas muito magras... Era uma figura bastante ridícula, na realidade...mas o calor era tremendo!
Um dia, vendo-o passear no campo, onde algum gado estava a pastar, lembramo-nos de fazer uma caricatura dele, marinhado a uma torre, com as pernas encaracoladas na torre, cheio de medo dum touro que o aguardava cá em baixo.
O raio da caricatura estava mesmo parecida, mas antes que ele a viesse a descobrir, e depois da malta se ter rido um bom bocado, amachucámo-la e deitámo-la para o caixote do lixo.
Infelizmente o papel começou a abrir-se e ele veio a dar com ela, chamando rispidamente o autor da "gracinha". Quando entrámos naquela espécie de gabinete de 6m2, ele tinha à sua frente a caricatura toda amachucada e perguntou rispidamente, com o seu costumado ar autoritário: -Foi você que fez isto?
Estávamos a poucos dias da nossa entrada na empresa e sentimos que tinha chegado a nossa fatídica hora de ir para a rua! Tínhamos nessa altura 24 anos.
Mas ao respondermos que sim e a pedirmos desculpa, logo ele acrescentou: -Pois faça este desenho em grande e papel apropriado, para eu o emoldurar e guardar na minha sala de visitas... Mas lá que foi um susto e peras...isso foi!
O povoado da Glória do Ribatejo, os "glorianos" sentiram no início da chegada da RARET, muito receio do seu pessoal e toda a gente se escondia à sua passagem.
Era um povo rodeado de crenças estranhas como o de festejarem o Natal, no dia 26 de Dezembro, e como estavam muito isolados, eram todos primos uns dos outros, porque não sabiam dos perigos dos casamentos entre primos, o que desde há muitos anos, fez gerar pessoas com muitos defeitos físicos e psicológicos.
Mais tarde, alguns partidos políticos aproveitaram estes factos, para investir contra a presença naquela zona, de potentes emissores de rádio, da RARET, para tentarem justificar, as doenças estranhas que lá existiam desde há centenas de anos...
Se isto fosse verdade, todos os funcionários da RARET que viviam por baixo das antenas, há muito que teriam morrido "queimados...
A este propósito, toda a gente sabe dos tratamentos com fisioterapia por Ondas Curtas, em que a energia recebida pelos corpos dos doentes, é imensamente superior à recebida de qualquer estação de rádio, a ponto de os aquecer...
Mas pouco a pouco, foram-se habituando à nossa presença e imensas pessoas foram contr atadas para trabalhar na RARET, não só nos trabalhos de campo, mas também como magníficos e prestáveis ajudantes dos técnicos, o que originou rapidamente o seu desenvolvimento.
Nas suas crenças específicas, a noite de núpcias tinha de ser passada num palheiro, para que o casamento resultasse feliz, e no dia seguinte, o povo devia poder ver se os lençóis utilizados, tinham sangue....
Muitas esposas dos funcionários da RARET, sabendo das dificuldades daquelas gentes, resolveram juntar-se e ajudá-las, contribuindo com imensas roupas que elas próprias construíram e ofereciam.
Os "glorianos" viviam tão afastados do resto do "mundo", que nem se lá podia entrar de táxi, devido ao péssimo estado das suas ruas esburacadas.
Mas por volta de 1958, um funcionário da RARET, de nome Catarino, e já referido anteriormente, e conhecedor da forma como se levavam estas terras a obter a sua Junta de Freguesia, e depois de muito trabalho e despesas, e com a ajuda da Administração da RARET, lá conseguiu que os "glorianos" passassem a ter a sua Junta de Freguesia.
No Natal de 1953, já estavam a irradiar na Glória, 4 emissores de 100 KW, montados no tempo record de um mês!
Dada a velocidade dos acontecimentos, a minúscula "Bárbara" de 7,5 KW, deixou de ser usada e lá se foi para outro lado, acompanhada por batedores da PSP.
Tudo aquilo era novo e empolgante para aquela rapaziada!
Num certo dia, o Eng. Manuel Rocha, Director Técnico, (não o Eng.Tec. Fernando Rocha) pediu um "corajoso" para entrar no compartimento do andar final do emissor e lá permanecer uns minutos, com uma lâmpada fluorescente fundida na mão, enquanto ele procedia às sintonias. Cheio de medo, ofereceu-se um colega de nome Bugalho, para que os técnicos cá fora, pudessem observar os pontos de sintonia, pelo seu brilho . Com tensões mortais à sua volta, de muitos milhares de Volt, mal o emissor foi alimentado, todos os pelos das suas pernas se eriçaram e a dada altura, até as calças começaram a subir com a brutal potência! Quando terminaram os ensaios e lhe abriram a porta, desapareceu numa corrida tremenda para longe do edifício, feito um louco, com toda a malta a gozar!
A montagem dos novos e potentes emissores, usava antenas já calculadas pelo Eng. Horácio Neto, enquanto a sua construção e montagem, foi supervisionada pelo Eng. Aleixo Fernandes, coadjuvado por Eng. Victor Faria, Eng.Tec. Morais, Eng.Tec. Pombeiro, etc.
Na operação dos novos emissores, estavam vários eng. Técnicos, como Antonio Grilo, Eng.Tec. Dias, Eng.Tec. Delicado, e colaboração de Catarino, etc.
Quando já não fosse necessário o material usado pela RARET, todo ele seria revertido a favor dos nossos Correios Telégrafo e Telefones, (CTT) .
Como eram línguas completamente desconhecidas entre nós, foi necessário requisitar pessoas originais dos países de leste, para servirem de tradutores e que cá residiam como imigrantes.
Um dos primeiros, foi um jovem italiano, de nome Pasqualino, que tinha estado preso nos países de leste, mas que havia aprendido várias línguas e também falava perfeitamente o português. Foi até devido à sua facilidade em aprender línguas, que conseguiu escapar de um campo de concentração dos países de leste, fazendo-se passar por guarda à paisana e fugiu para Goa, onde veio a casar.
Pessoa muito simpática e que até articulava o português melhor do que uma enorme parte dos portugueses, tal era a quantidade e qualidade de vocabulários e gramática que dominava. Segundo nos comunicou, falava fluentemente 12 idiomas!
Este facto deu-lhe entrada imediata na PIDE, onde era muito admirado. Ele vinha de automóvel, de Lisboa para Benavente, passando de barco em Vila Franca de Xira, porque ainda não havia a Ponte, todos os dias e ali ficava ao nosso lado, no Centro de Recepção da Maxoqueira, a ouvir os programas que estávamos a receber da Alemanha e a orientar a gravação em fita magnética, nas fabulosas AMPEX-300 recentemente inventadas, para de seguida serem transportadas as bobines, também de automóvel e irem ser irradiados pelo emissor da Gloria na "Bárbara".
Nessa época, 1951, só se recebia e emitia durante algumas horas de cada dia. Foi um trabalho um tanto difícil para o pessoal operador da recepção, porque a Rússia também cá nos chegava e até, como chegava muito mais fortes, eram mais fáceis de sintonizar, pelo que o Sr. Pasqualino logo nos advertia de que estávamos numa frequência errada... a Rússia! Felizmente que ele ali estava atento, pois para o português médio, a fala russa é mais ou menos como as dos países de leste e, se não fosse a sua ajuda, certamente que iríamos retransmitir não a Rádio Europa Livre, mas sim os noticiários e propaganda russos...Seria, o que se pode chamar de "uma grande bronca"!
Isto era muito fácil de acontecer, porque os receptores eram de banda corrida, os célebres e caríssimos receptores Hammarlund SP-600, mas não tinham uma grande precisão de frequência, pelo que nunca se sabia se se estava mesmo na frequência exacta. Era ali mais ou menos....
De pé, ao lado das máquinas de gravação, os operadores tinham de meter papelinhos a todo o momento, com as bobines a , para marcar o sítio onde posteriormente, os tradutores iriam parar e compor os programas que nos estavam a chegar em catadupa e tanto podiam ser noticias urgentes, como comentários e reportagens recolhidas dos foragidos de Leste europeu, que estavam em Munich, a usar os Estúdios facultados pela Rádio Free Europe.
A todo o instante, os tradutores gritavam "marca", e com muita habilidade, e rapidez, enfiava-se entre as espiras das bobines os pedacinhos de papel.
Um dia lembrámo-nos de colar ao lado duma máquina de gravação, uma caixinha onde podíamos ter à mão aqueles "malvados" papelinhos que o vento nos procurava arrancar das mãos...e conseguia!
Logo nesse dia, o já referido Lopes Vieira, enfiou-nos uma grande descompostura, por termos "pensado" naquela ideia "peregrina" e acrescentou que não estávamos ali para pensar e que éramos simples acessórios daquelas máquinas...
Os americanos pensaram que em pouco tempo, aqueles países se revoltassem à procura da sua liberdade, investindo na democracia, mas foram-se passando os anos, sem que nada acontecesse. Todos os anos, todo o pessoal da empresa estava à espera de ser despedido, por já não ser necessário, mas lá se foram dilatando os prazos, de ano para ano, até se atingirem mais de 35 anos...
Entretanto o dinheiro dos Cruzados para a Liberdade acabou-se passado pouco tempo, mas o governo dos EUA resolveu patrocinar aquela iniciativa e assim, podermos aumentar a eficiência das nossas transmissões, cada ano com mais potência irradiada.
Em 1960, já tínhamos montado 12 emissores de alta potência. Para tal, houve que construir volumosos edifícios, em forma de um enorme "T", em especial para a emissão e, passados poucos anos, já podíamos irradiar potências acima dos 100 KW, muito mais do que a nossa própria Emissora Nacional montada em Pegões!
A entrada de mais pessoal português, deu origem a magníficos edifícios, não só para os jovens solteiros, a que os americanos chamavam BOQ, (quartéis do pessoal solteiro) e várias pequenas moradias para a chefia, não só portuguesa como americana.
No entanto, quanto maior era a nossa potência irradiada, mais "guerra" nos faziam os russos, interferindo as nossas frequências de recepção, para que nada conseguíssemos receber e irradiar para lá da Cortina de Ferro!
Com enorme habilidade do nosso pessoal da recepção em Benavente, e da emissão na Alemanha em Holskirshen, mais ou menos sempre se conseguia fugir das frequências interferidas, substituindo-as por outras, em poucos minutos ou até segundos!
No Centro de Recepção, também se melhoraram as condições, com a aquisição dos melhores equipamentos de recepção do mundo, e após os Pioneer, de tripla diversidade, porque usava 3 antenas distintas, os Crosby de dupla diversidade, ambas as marcas com receptores Hamarlund SP-600 e por fim os RCA, já com magnifica estabilidade e precisão de frequência, por usarem sintetizador, até porque já estávamos a irradiar para 8 países de Leste, e 24 sobre 24 horas diárias!
Para coordenar estes programas, foi necessário montar uns estúdios em Lisboa, no Areeiro, para onde enviávamos os programas recebidos em Benavente, e por via de VHF, UHF e finalmente em SHF. (Super Altas Frequências)
Ali, em 8 salas, os tradutores lá iam fazendo as montagens dos programas, sempre rodeados de pessoal português, os quais eram irradiados também por rádio, para o Centro Emissor da Glória, para serem irradiados em altíssima potência.
Entretanto os nossos emissores passaram a vários de 100 KW e mais vários de 250 KW, com brutais antenas de cortina, de altíssimo ganho.
Nos Estúdios de Lisboa, foi lá empregada como tradutora, uma senhora checa, de nome Olga, que era muito bonita e dava a volta à cabeça da jovem rapaziada...mas não falava uma palavra de português.
Certo dia ela desejou saber como se dizia em português, "Feliz Natal e Ano Novo". Um dos operadores muito malandro, logo a ensinou cuidadosamente a dizer o que ela desejava, mas como "Vá para o diabo que o carregue"...
A pobre dona Olga, lá empinou aquelas palavras portuguesas, o melhor que pode e começou a "despejá-las", toda vaidosa, para toda a gente que ia encontrando, ficando muito admirada com a cara das pessoas, até que uma senhora secretária dum americano, Mr. Cotton, a D. Vrena, lhe chamou à atenção do disparate. Coitada D.Olga, a pensar na "barraca" que tinha estado a dar... e certamente pensando "malvados portugueses! !!"
A RARET estava cheia de rapaziada entre os 20 e os 30 anos, pelo que sempre se encontravam situações deveras trágico-cómicas...
A certa altura, fomos destacados para trabalhar nos Estudios em Lisboa, onde havia uma Sala de Emissores que só servia para enviar para o Centro Emissor da Gloria, os programas gravados. Essa sala de emissores de pequena potência, (50W) desde há muito que tinha problemas estranhos de se interferirem uns nos outros, o que deu cabo da cabeça aos seus vários responsáveis, como foi o técnico Asse, os Eng. Ride, Eng.Redondo e Eng.Tec.Calhau e ao pessoal técnico da Gloria, como o Eng Tec.. Delicado, Félix Lopes e Nunes Pinto.
Eles levavam dias e dias, todas as semanas a tentarem dar a volta aos problemas. Estes ensaios entre Lisboa e Gloria, eram ouvidos no Centro de Recepção, pelo que já sabíamos da existência daqueles endiabrados problemas, quando fomos colocados em Lisboa e nos deram a responsabilidade técnica daquele "ninho de víboras"...sala horrível, dado o ruído de dezenas de ventiladores e calor gerado pelos emissores! Aquilo era um autêntico inferno!
Esses emissores e eram 8, funcionavam na banda dos 460 MHz, e por defeito do fabricante, havia uma etapa defeituosa e muito escondida, totalmente blindada.
Um certo dia, resolvemos inspeccioná-la a fundo, etapa a etapa, até porque a sua anomalia, originava que houvesse uma destruição a curto espaço de tempo, de umas válvulas muito caras, as 5894 que estavam a seguir noutra unidade. Este consumo obrigava a que os serviços dos Armazéns, estivessem sempre a mandar vir grandes lotes destas caríssimas válvulas.
Quando descobrimos o mal e que era falta de indutância no circuito de placa e, sem dizer nada a ninguém, fizemos a alteração necessária em todos os emissores, o que originou que se passassem muitos meses, sem que as válvulas se estragassem, além de que se tinham feito desaparecer as interferências entre uns emissores e outros. Assim, passaram-se a fazer só ensaios de 8 em 8 dias, para aquilatar da sua segurança e podermos fugir o mais depressa possível daquele endiabrado ambiente, contribuindo no Laboratório, pela reparação e conservação de outros equipamentos electrónicos.
A certa altura, o chefe do Armazém, Estrela Rodrigues (já falecido), ao ver-se confrontado com mais um lote de válvulas novas acabadas de chegar dos EUA, e sem espaço para elas, que havia encomendado, foi queixar-se ao seu chefe directo, Mr. Bowman, que de imediato foi falar com o engenheiro de ligação Carlos Ride (já falecido) e este com nosso chefe, Eng. Carlos Redondo (já falecido) e ao Encarregado da Técnica, Eng. Técnico Calhau (também falecido), de que algo se havia passado de estranho, pois há muitos meses que aquelas válvulas se tinham deixado de consumir e tinha o armazém cheio delas...
De imediato fomos convocados para aparecer na Sala destes emissores, que estavam a funcionar espectacularmente estáveis há muitos meses, e fomos encontrar este "exército" de pessoas, à espera que encontrássemos uma resposta para aquele facto.
Era uma situação difícil, pois a nossa resposta teria de ser a de que havíamos descoberto a etapa deficiente e a havíamos modificado... o que viria por em causa a competência técnica de todos eles e desde há vários anos....
Um tanto furibundo, o Eng. Redondo acaba por nos perguntar, muito encarnado, se achávamos que todos os presentes intervenientes no problema, eram estúpidos ignorantes...
A nossa resposta foi simples e directa: -Que não tínhamos culpa de eles não terem descoberto o problema antes...
A coisa ficou por ali, até porque o Mr.Bowman já entendia um bocado de português e acabou por "por água na fervura" e dando o assunto por encerrado e ordem de parar com a aquisição de mais válvulas.
Em Janeiro de 1975, iniciou-se na Maxoqueira, em Benavente, a publicação interna dum Boletim Técnico, no qual se descreveram em detalhe os equipamentos de rádio em uso e imensos outros assuntos técnicos diferentes, como aerogeradores, náutica, energias alternativas, a Xerografia, a fotogravura, circuitos impressos, a gravação magnética e em acetato, televisão, ignição electrónica, aviação, metalurgia, noticiário científico, astronomia, o planeta Terra, robótica, química, os PLL, os motores lineares, computadores, etc.etc.
Este Boletim Técnico foi publicado durante 11 anos e nele colaboraram alguns colegas, em especial Horácio Costa, Eng.Tec. Fernando Rocha, Eng.Tec.António Grilo, Eng.Tec. Fernando Calhau, João Branquinho, Augusto Urbano, António Pinto e Mário Portugal como coordenador/editor.
Estes boletins foram todos escritos sobre ceras e impressos folha a folha numa impressora rotativa manual de nossa propriedade. Ainda não haviam sido inventadas as máquinas de cópias electrostáticas, as xerografias.
Foi por esta altura que nos entusiasmámos pela construção de placas de circuito impresso, conseguindo-as executar com nível profissional e, a Tramagem da fotografias para poderem ser impressas nos jornais e revistas. Aquilo foi um trabalho extremamente interessante e que nos consumiu centenas de horas, a fazer banhos de fotografia, exposições fotográficas e revelações em câmara escura.
O nosso chefe máximo em Portugal, era um tal Mr. Harry Black, que já sendo desde há muitos anos, radioamador americano, havia conseguido indicativo português como CT1PE, constante numa lista de QRA’s de 1966, com a ajuda do nosso colega Pinto, CT1UT, que também conseguiu ajudar o americano do Centro Emissor, Mr. Campbell, a obter o indicativo português CT1PD.
Mr. Black gostava muito de montar circuitos electrónicos por ele mesmo e veio a saber que nós conseguiríamos construir-lhe as necessárias placas de circuito impresso para as suas montagens. Assim, começou a entregar-nos uns desenhos dos circuitos necessários, para que estudássemos as referidas placas. Obviamente que tínhamos o máximo cuidado para que elas saíssem perfeitas...o que sempre aconteceu.
A Rádio Europa Livre tinha no seu pessoal, tanto americano com alemão, umas dezenas de radioamadores.
Tendo-se entusiasmado também pela recepção em RTTY, (sistema que recebe sinais via rádio e escreve e letras normais, num rolo de papel) e necessitando dum filtro de áudio muito aguçado, certo dia telefonou para o nosso Laboratório, no andar de baixo e quem o atendeu, foi o nosso chefe, Eng. Redondo, pedindo para que fôssemos ao seu gabinete falar com ele.
Estamos mesmo a pensar no que estaria a pensar o Eng. Redondo, da sumidade máxima da RARET, querer falar com um técnico e não com ele...
Como estávamos a trabalhar sem gravata e de mangas arregaçadas, foi mesmo assim que quando íamos a sair da sala, o nosso chefe nos gritou: -Então é assim que vai falar com o Sr.Black?
Toda a gente dos Serviços Administrativos, andava engravatada e perfumada, mas sendo nós radioamadores, estávamos um tanto aparte daquela malta... e assim fomos recebidos pelo Sr.Black que, em poucos segundos, nos pôs ao corrente do que necessitava e que até poderíamos construir com o nosso material caseiro. Assim, no dia seguinte, e na mesma, sem gravata e de mangas arregaçadas, voltámos a subir ao primeiro andar e fomos entregar-lhe o aparelho de que ele necessitava, o que o deixou radiante. No dia seguinte, voltou a chamar-nos para mostrar um escrito magnífico em RTTY, coisa que nunca antes havia conseguido.
Noutra altura, em que todo o pessoal da técnica já tinha saído, entrou no nosso laboratório a já aludida D. Vrena, secretária do americano Mr.Cotton, que era o Chefe dos Estúdios, pedindo-nos para ir ao seu gabinete. Ali o Sr. Cotton, que tinha metido na sua secretária, um receptor Collins 51J4, um dos melhores receptores do Mundo nessa época, com um pouco de fio a fazer de antena, perguntou-nos se era possível alguma alteração, para que ele pudesse ouvir perfeitamente, a BBC e outras estações, todo o dia. Como ele ia sair de imediato, fomos verificar que raio de antena lá estava montada, pois realmente a escuta das estações era muito débil para um receptor daquela categoria!
Vai daí, calculámos uma antena dipolo para a frequência da BBC que era nessa altura 15.070 KHz, fomos ao armazém arranjar o material e passada uma hora, subimos ao terraço do edifício e esticámos esse fio entre duas torres, levando a baixada pelo lado de fora do edifício, até à janela do Sr. Cotton, aí fazendo um orifício e depois de certa ginástica por dentro da sua secretária lá conseguimos ligar a antena. Isto é do mais trivial para qualquer radioamador, como éramos. Aquilo ficou óptimo e o sinal da BBC passou a ser fortíssimo!
No dia seguinte, a Dona Vrena veio ao laboratório, e muito sorridente, pediu-nos para ir ao gabinete do seu chefe, o que estranhámos um tanto, mas quando lá chegámos, estava ele regalado a ouvir a BBC e todo sorridente, pergunta: - Então o que acha disto?
Ouvimos uns segundos e porque nos pareceu bem, limitamo-nos a responder que nos parecia bem. De imediato ele nos respondeu que estava mais que bom! Estava óptimo!
Mas mal nos viemos embora, aparece novamente a Dona Vrena, mas agora a chamar o nosso chefe Redondo para lá ir ao americano e viemos a saber que o Sr. Cotton lhe havia dado um raspanete dos antigos, por não ter ele resolvido aquele problema desde há muitos meses e que nós o tínhamos resolvido numa noite...
Bem, como nós havíamos feito o trabalho sem sua autorização...lá recebemos também, um valente raspanete...coisa que pouco nos amargurou, porque os americanos estavam muito acima dele e gostavam de nós!
Na RARET, aquilo era uma autêntica "guerra" de gatos e de ratos!
Por telegrafia, o nosso pessoal operador de Benavente e, por códigos secretos e constantemente trocados, pedia à Alemanha para irradiar noutras frequências e sempre assim se foi fazendo até 1986.
Os códigos eram muito simples, como por exemplo AWP, o que poderia dizer que um emissor na frequência de 14.230 KHz,(A) fosse metido o programa Polaco (W) na banda lateral superior e Húngaro (P) na banda lateral inferior, dado que em cada emissor de Holzkirshen se injectavam dois programas distintos. Era pois uma emissão em Bandas Laterais Independentes (ISB).
Estas emissões em ISB podiam ser recebidas por qualquer pessoa que tivesse um receptor de Ondas Curtas, mas não se entendia nada, por estarem presentes duas línguas em simultâneo e muitas vezes eram com músicas diferentes! Eram necessários receptores especiais e dotados de filtros de banda lateral.
Os programas por nós recebidos, eram muitas vezes destruídos pelos russos com as suas brutais e intencionais interferências e, por isso, e em horas diferentes, os tínhamos de receber novamente da Alemanha.
Como só irradiávamos da Gloria, o que estava perfeito, a KGB na Rússia devia ficar muito admirada por não nos ter destruído SEMPRE a recepção...
Mal sabiam eles, que quando começavam a apontar as suas baterias de interferência, o nosso pessoal da Recepção, muito atento, trocava de frequência e assim, os russos, ficavam ali horas e horas, a interferir NADA...
Para tentarem dar a volta ao problema, os russos "despejaram" milhares de emissores de baixa potência, em imensas cidades, "gemendo" ruído sobre as frequências irradiadas pelo nosso Centro Emissor da Glória, mas sempre havia alguém que conseguia ouvir.
Em certa altura, a Empresa, que desejava ter a certeza de que as nossas emissões para os países de Leste europeu, estavam a acertar EM CHEIO, contratou uma sumidade americana, para inventar uma forma de nós, de cá de Portugal, termos a certeza de que as nossas emissões estavam a chegar exactamente aos alvos de Leste, mas isso obrigou a um estudo e projecto muito caro, a que se agarrou um tal Mr. Write.
Aquilo exigia que fossem montadas numa torre com 150 metros de altura, 27 antenas cúbicas, todas com os seus cabos de alimentação, exactamente iguais em comprimento e viriam a uma sala onde, por combinação entre elas, se poderia descobrir se aquilo que se estava a receber, chegava realmente do alvo, no ângulo correcto porque se isso assim não fosse haveria de alterar o "ângulo de fogo" das nossas antenas de emissão da Glória.
Os técnicos da Glória, sob a direcção do Eng.Técnico Pombeiro, construíram as 27 cubicas e o pessoal das antenas, dirigido pelo Eng. Aleixo Fernandes, viria a Benavente, montar aquela "trapizonga" toda!
O projecto ficou conhecido por PPM, como Método de Previsão de Passo.
A ideia era genial, porque se partia do principio de que parte da Radiofrequência que lá chocasse no solo do alvo, alguma deveria voltar para trás e exactamente pelo mesmo caminho. Assim, se se pudesse saber com precisão o ângulo de chegada, e fazendo as contas à distância dos alvos, poderíamos saber onde os nossos feixes de RF tinham batido.
Mas a coisa foi mais complicada do que esperava Mr.Write, porque os sinais de RF de vinda, eram extremamente fracos...
O "truque" residia na ideia de que poderíamos saltar uns 6 KHz para fora da frequência dum dos nossos emissores de 50 KW, que estavam a irradiar programas, e mandar pequenas "rajadas" de impulsos, tipo telegráficos, continuando com as emissões.
Certamente que os ouvintes da Europa de Leste, notariam algum defeito na emissão, mas aquilo era por poucos minutos. Tínhamos de aproveitar os momentos em que os locutores estavam a respirar, para desviar a frequência e mandar as "rajadas"! Mas como ninguém sabia aquilatar esses momentos de pausa, houve que engendrar um método em que duas máquinas de gravação, com a fita magnética em pescadinha, dava tempo ao operador, de carregar no gatilho da sua "metralhadora", crrre crrre crrre!
Assim, havia que aumentar a potência dos impulsos que para lá estávamos a enviar, mas só se conseguiram resultados fiáveis, quando esses impulsos foram enviados por um emissor de 200 KW! .
Estavam na Sala de Comando do PPM, uma data de americanos e chefias portuguesas, prontas a ver as fotografias que se tinham de fazer em máquina Polaróide, quando o raio da máquina empanou e ficou de obturador escancarado! O técnico português que estava ao serviço daquela complexa "artilharia", o meu amigo João Branquinho, pessoa dotada de muito engenho e persistência, infelizmente já falecido, sabendo na nossa vocação para as engenhocas, e perante a aflição de toda aquela malta, disse-lhes: -Não se preocupem, porque temos cá uma pessoa que vai por isto a funcionar, num instante!
Toda aquela gente se entreolhou um tanto confusa e lá vem aquela malta toda até ao laboratório onde estávamos a trabalhar e o nosso colega Branquinho nos entrega a bruta Polaróide, dizendo e mostrando que ela estava avariada e era urgente a sua reparação...
Na realidade, desmontar aquela enorme objectiva não constituía qualquer problema para nós, tantas tinham sido já as oportunidades de as desmontar noutras velhas máquinas, e vai de por uma toalha branca em cima da bancada e vai de desmontá-la, perante o espanto e curiosidade daquela malta toda, ao ver tantos parafusos, molas, alavancas e lâminas espalhadas sobre a toalha. Às tantas ouço um deles dizer:- Acabou-se a máquina fotográfica...
Mas enganaram-se redondamente, pois dali a poucos minutos, o obturador já fazia o seu cli,clic,clic, abrindo e fechando perfeitamente, e aí vai aquela "tropa" toda atrás do Branquinho todo ufano por poder continuar a disparar a grande e caríssima máquina.
Ainda ouvimos um deles comentar: -Estes portugueses são o diabo...
Mas para que o americano tivesse a certeza de que não havia falhado nos cálculos, tivemos de construir um minúsculo emissor a cristal, com transistores, dos quais não se conseguia mais do que um Watt, e uma antena de aro, calculada pelo Eng. Neto e construída pelo Eng.Tec.Pombeiro, foi montado entre as pernas dum helicóptero Alouette, fretado à Base de Tancos, onde nos deslocámos propositadamente para estudar a sua aplicação.
Para os vários voos necessários, mesmo na vertical, e em frente à bruta torre de 150 metros de altura e, à distância de 2 Km, toda a chefia estava à volta da aparelhagem electrónica, para assistir propositadamente, ao caríssimo evento, pensando que aquilo seria muito fácil de fazer, mas a ideia era a seguinte:
De terra, e com um teodolito montado muito perto da torre, o operador teria de apontar o instrumento ao helicóptero e teria de informar via rádio, na banda de CB, para que o helicóptero se mantivesse na mira... Aquilo era de doidos...
Infelizmente, nós a bordo do aparelho, mal a turbina arrancou...adeus óh vindima, nada se podia ouvir...Era um ruído tremendo! Mesmo assim, o piloto fez um voo muito lento na vertical, mas como estava de lado à antena, porque o vento estava a 90º, não sabia se estaria ou não na posição certa.
Nós é que muito atentos ao que se estava a passar, verificámos que era muito mais fácil sermos nós a informar o piloto se estávamos ou não em frente à torre, mas quando o aparelho aterrou, fomos encontrar toda a gente numa pavorosa excitação, porque o tipo do teodolito bramava que o helicóptero fugia, os radiotécnicos não sabiam o que registar nas variações da intensidade de campo, e estava tudo doido! .
Assim, e perante tamanha confusão, que parecia insolúvel, decidimos sugerir que se prescindisse do foco do teodolito na horizontal e o seu operador fosse à procura do ângulo vertical, para informar os técnicos desses ângulos, e que nós e o piloto, conseguiríamos manter o aparelho no feixe das antenas, mais grau, menos grau, o que não tinha qualquer importância, dado o lóbulo das cúbicas. Tudo se tornou muito fácil, pois já tínhamos visto que arvores em frente da torre, nos serviriam de "agulha" de referência e lá fomos para bordo, enquanto a tropa enchia o depósito de combustível.
Logo por azar, estava um dia péssimo, a chuviscar e frio, mas lá conseguimos retomar os voos, e eram necessários uma data deles, para que em terra, os técnicos pudessem avaliar se os ângulos escolhidos, desde os 3 aos 30º, estavam certos com os cálculos do Mr.Write, que estava presente.
No final deste segundo voo, viemos encontrar toda a malta sorridente e encantada com os resultados, até porque as medidas das intensidades de campo, estavam exactamente sobrepostas aos cálculos! Aquilo era de espantar!
Enquanto o piloto se mantinha muito atento às nossas ordens de ligeiramente atrás ou à frente, levávamos as mãos no comando Global e no Cíclico, enquanto decorria a operação e de repente, no fim do último voo, e estando a 2000 metros de altura, sentimos os comandos presos! Ao olhar, muito surpreendidos, para o piloto, que devia estar atento às manobras que não estávamos a fazer... verificámos que ele havia largado os comandos e com gestos repetidos a esticar o seu queixo para a frente, nos indicava que podíamos pilotar a máquina!
Ele devia de estar extenuado, esfregando as mãos doridas e nós contentíssimos pois havia que pilotar o helicóptero por forma a virmos para terra, lá em baixo a 2000 metros...
Assim, comando Cíclico um pouco em frente e Global um pouco para baixo e aí viemos nós contentíssimos, com o total controlo da poderosa máquina, dando um pouco de pé à esquerda ou à direita, para o fazer voar direitinho! Quando já estávamos a poucas dezenas de metros do solo, o piloto agarrou os comandos e deu-nos um grande piropo!
Nesta altura, estará o curioso leitor a perguntar: -E depois?
Depois, foi enfiar as nossas aludidas "rajadas" de "metralhadora" em vários emissores, como ficou aludido já. Para nossa grande satisfação, tudo indicava de que estávamos a usar exactamente os ângulos mais favoráveis e assim, não era necessário fazer qualquer alteração dos nossos ângulos de fogo.
Embora já não fosse necessária aquela brutal torre de 150 metros de altura, toda espiada a fibra de vidro, ainda lá se manteve, para gáudio do colega Branquinho que se fartou de gozar com ela e aperfeiçoar os seus conhecimentos dos combinadores e filtros necessários para melhorar a recepção.
Foi por esta altura que um malvado filtro activo desenhado e fabricado na Alemanha, com imensos circuitos integrados, entrou em avaria e com ajuda dum dos nossos técnicos mais habilidosos, de nome Dias Urbano, que seguindo pacientemente, durante horas, o malvado e complexo circuito, se conseguiu dar com a anomalia.
Toda a RARET vivia dependente dos contactos em telegrafia, entre Portugal e Alemanha, usando um emissor, que estava montado no Centro Emissor da Glória, a uns 30 Km de distância de Benavente e era um projecto do Eng. Manuel Rocha, que de colaboração com o Eng. Tecn. Fernando Rocha, e aproveitando um excitador de 5KW Collins, passou a irradiar 25 KW. Aquilo não podia falhar! !!!
Certo dia, o chefe americano na Alemanha, Mr. Koerner, veio visitar-nos à Maxoqueira, em Benavente, e logo nos apercebemos de que trazia algo na manga, dadas as perguntas sobre a aparelhagem que estávamos a usar no Centro de Recepção, porque ao ouvir na Alemanha, as nossas emissões da Gloria do Ribatejo, notava uma grande diferença na qualidade do audio, para pior, do que estava a ser gerado nos Estúdios de Munich, e estava convencido de que seria em Benavente, no Centro de Recepção, que algo estaria errado, mas depois de ter observado cuidadosamente os gráficos de todo o nosso sistema, lá se foi embora, com cara de meio chateado ...
Nós levávamos a vida a aperfeiçoar todos os nossos equipamentos, dia após dia, e tínhamos a certeza de que tudo estava nas melhores condições possíveis. Nalguns casos, até superámos as características dos fabricantes, como por exemplo a relação sinal/ruído de 45 dBs, indicados pelo fabricante, nos DDR’s, para 55 dBs nas unidades de desmodulação!
Os americanos em Portugal, lá iam sabendo das nossas técnicas e até chegaram à altura de convidar chefes de técnica de outras estações americanas, como VOA, por exemplo, para nos virem visitar e compreender como tínhamos solucionado situações que eles ainda não haviam solucionado, e tinham muitas unidades fora de serviço.
Isto deveu-se ao facto de que o fabricante do nosso equipamento, a RCA, igual ao da VOA, já ter deixado de construir as unidades de recepção e nem forneciam material de substituição. O mais curioso do problema, era que não havia nos EUA mais nenhum fabricante destes receptores e a VOA ter várias unidades postas de lado com avarias estranhas. Numa altura em que os chefes da VOA falaram com o chefe da Rádio Europa Livre, vieram a saber que os portugueses tinham conseguido manter em perfeito funcionamento uma data destes equipamentos, passados mais de 20 anos do seu fabrico.
É-nos muito grato relembrar as visitas dos chefes de técnica destas estações que se mostraram muito admirados por verem que não tínhamos uma única unidade desmantelada ou inoperativa, por sempre termos arranjado uma solução para os problemas que iam aparecendo e, como se diz entre nós, "com a prata da casa"., muita cabeça, muito trabalho e muito amor.
No entanto nessa altura ainda não sabíamos o porquê dos programas recebidos da Alemanha, não terem, como deviam de ter, alta fidelidade...
Umas semanas depois da visita de Mr. Koerner, apareceu-nos uma senhora alemã, muito nova e muito linda, com uns 25 anos, sozinha, vinda da Alemanha, e que se apresentou como secretária de Mr. Koerner, a quem mostrámos a nossa impecável estação, mas no meio das nossas explicações, sugerimos que era uma pena não estarmos a usar tanto e caro material numa melhor qualidade de som final.
Mal poderíamos esperar que ela, de regresso à Alemanha, fosse meter no ouvido do seu chefe americano, que em nossa opinião, se deveria inspeccionar toda a rede de audio desde os Estúdios em Munich, até Portugal, para se poder descobrir onde estaria a falta, também para nós muito preocupante. De imediato este Mr.Koerner chamou a chefia do Centro de Recepção, nessa altura o Eng. Carlos Ride, infelizmente já falecido, para lhe propor um ensaio que nós havíamos proposto e que estes importantes testes fossem orientados por nós, portugueses. Era uma honra para nós!
De imediato pedimos por código Morse, que fosse colocado um gerador de audio nos Estúdios de Munich e que ele gerasse uma nota de 1000Hz, o que foi feito em poucos minutos. De seguida pedimos para subirem a frequência aos 5000 Hz e logo se constatou cá, uma perda considerável de nível, da ordem dos 20 dBs!
Como da Alemanha eles diziam que estava tudo correcto, ... pensámos numa "rasteira técnica" e que consistia em que nos informassem qual a potência que os 1000 Hz estava a originar à saída do emissor em teste, e que logo nos disseram ser de 50 KW.
De seguida pedimos para passarem aos 5000 Hz e nos informassem da potência irradiada, mas a resposta levou imenso tempo a chegar! Tínhamos acertado em cheio, porque em transmissão de SSB (Banda Lateral Única) qualquer sinal de audio entregue ao emissor, origina uma certa potência irradiada, muito fácil de ler no medidor de potência de saída de qualquer emissor!
Depois da nossa insistência, acabaram por dizer que estavam à procura de entender o porquê do emissor estar a mostrar somente, cerca de 1 KW, em vez dos 50 KW!
Ficámos radiantes, pois NUNCA se havia feito este ensaio muitas vezes por nós sugerido, (embora sempre encontrando relutância por parte da nossa chefia, porque se dizia que esse ensaio iria colocar muitas chefias em causa...), e fomos verificar, de imediato que tudo estava correcto na Alemanha, desde os Estúdios em Munich, até à entrada dos emissores em Holskirshen, mas daí para a frente a qualidade se deteriorava, devido aos maus filtros de Banda Lateral usados nos emissores.
A "bronca" era tão grave para o pessoal técnico responsável de Holzkirshen, que algum foi despedido, por ter andado anos a convencer os americanos, que os problemas da qualidade de som, teriam de ser em Portugal...e nunca do lado deles...
Ainda hoje não entendemos o porquê dos técnicos de Holkirshen nunca terem ensaiado a saída dos seus emissores! !!
Felizmente que em Portugal, tínhamos filtros de altíssima qualidade e disponíveis, que tinham sido usados anos antes, nuns receptores de dupla diversidade, os já aludidos Crosby, pelo que de imediato foram enviados para a Alemanha e lá montados com pleno êxito, poucos dias depois.
Desta vez, foram os nossos colegas técnicos da Alemanha, que nos vieram pedir a repetição dos ensaios e logo se verificou que, usando os filtros que lhes tínhamos enviado, aquilo era outra coisa! O som parecia de FM!
Agora, os 50 KW de potência com 1000 Hz, era a mesma potência com 6000 Hz!
Foi a partir destes ensaios, que todos os emissores de Holskirshen, foram alterados para funcionarem em alta fidelidade.
Foi por esta altura que os nossos técnicos dos emissores, num estudo do Eng.Tec. Fernando Rocha, conseguiram juntar com 4 combinadores, 8 emissores de 50 KW, dois a dois, perfazendo uma potência de 4 vezes 100 KW!
Entretanto no Centro Emissor fervilhava-se de entusiasmo para aumentar ainda mais a potência. Num projecto do Eng.Tec. Fernando Rocha e do Eng.Tec.Mário Dias, em que cada um tomou mão de 2 emissores de 250 KW acabados de receber dos EUA, eles verificaram que havia uma "tramóia" técnica dos fabricantes, que possivelmente ofendidos por de Portugal não sentirmos a necessidade da sua presença na montagem, haviam trocado certos e importantes ligações.
Felizmente que a "tramóia" foi descoberta a tempo de não haver qualquer problema e os 4 emissores foram postos no ar em perfeitas condições.
Do interessante trabalho feito pelo Eng.Tec. Fernando Rocha, na sintonia das antenas e combinadores de potência, levou a que o americano chefe em certa altura na Alemanha, um tal Mr. Klue, conhecedor da capacidade técnica deste nosso colega, o requisitasse para alinhar as antenas alemãs, trabalho esse que até aí, tinha sido feito por um engenheiro suisso que se fazia pagar principescamente! Esses ensaios resultaram de forma espectacular, iguais aos obtidos pelo eng. suisso! .
Como o Centro de Recepção deixou de ser necessário, a RARET montou mesmo ao lado, a uma centena de metros, 6 magníficos emissores de 500 KW em Amplitude Modulada, super modernos que viveram poucos anos, devido ao desinteresse de continuar com a Empresa, por grandes alterações na política mundial, nacional e internacional.
Assim, passámos a ter duas Estações de emissão; a da Gloria e a de Benavente.
As 4 torres de 300 metros de altura, seguravam as antenas e atrás, os elementos Reflectores. No solo uma imensidão de linhas de transmissão, permitiam as sintonias das antenas em muitas frequências e a sua combinação de funcionamento.
No entanto, alguém na RARET, não tomou em conta que a irradiação destes novos emissores, iria incomodar, por interferências, o povo da freguesia da Barrosa, que ficava mesmo em frente às antenas e isso resultou em protestos que chegaram a ser discutidos na Assembleia da República, em 22 de Julho de 1993.
As suas antenas de cortina, com mais de 20 dBd de ganho, elevavam-se a uma altura de 300 metros e constituíram, durante alguns anos, um magnífico ponto de referência aos pilotos das aeronaves ligeiras, ULM, cujo campo de operação, ficava ali mesmo ao pé, a poucos quilómetros de distância, na estrada entre Benavente e S.Estevão, até porque podiam ser avistadas desde muitas dezenas de quilómetros.
Antes da sua montagem e dadas as tremendas potências em jogo, o colega Eng. Tec. Fernando Rocha à cautela, estudou e realizou uma imponente ligação de terra, projecto este que recaiu mais uma vez na colaboração do Eng.Tec. Pombeiro Fevereiro, além dos técnicos mecânicos.
Essa "rede de massa" foi construída com centenas de Kg. de varetas de cobre, todas soldadas a prata umas às outras e este conjunto todo soldado a uma enorme quantidade de varões de cobre espetados no solo. Por cima, foi tudo coberto a cimento.
Interessante notar que a alimentação destes emissores, era feita pela primeira vez na RARET e no Mundo, com uma enorme quantidade de fontes de alimentação a transistores, todas em série, e por forma a que, se uma entrasse em curto-circuito, a tensão final só baixaria 100 V, dos 9000 V existentes, para 8900 V.
Com o ganho de mais ou menos 20 dB’s obtido pelas antenas, estes emissores viam a sua potência irradiada em 100 vezes mais!
Ainda das mãos do Eng.Tec. Fernando Rocha, foram elaboradas 4 unidades Triplexers, que permitia que na mesma antena, fossem usados 3 emissores cada um na sua frequência e com 500 KW cada um!
Esse imponente projecto, segundo constou, foi o primeiro no Mundo para tão elevadas potências!
A partir dessa altura, as nossas emissões passaram a ser das melhores do Mundo em potência e qualidade!
Só um emissor de 500 KW, com 20 dB’s de antena, irradiavam 50 MW! !!!! A poucas centenas de metros das antenas, passava a estrada nacional e alguns automóveis dotados de computadores electrónicos de bordo, como são hoje quase todos, ficavam muito admirados e intrigados, por verem os limpa-brisas a funcionar automaticamente... por ainda não possuírem filtros apropriados.
Como entretanto havíamos deixado as Ondas Curtas por falta de propagação, e havíamos passado à recepção por satélite, com a colaboração da Companhia Marconi, os russos ficaram completamente desarmados.
A situação estava pois muito alterada e, a RARET sabendo já das interferências que estava a ocasionar no povoado da Barrosa, resolveu desmontar os 6 emissores de 500 KW, até porque já não eram necessários.
Há distância a que estamos dos acontecimentos relatados, sentimos que os russos nunca chegaram a entender a força e habilidade de meia dúzia de portugueses, e subestimaram os rádio operadores do Centro de Recepção e dos Alemães de Holskirshen que, muito habilmente lhes foram "tirando a areia debaixo dos pés" e fazendo-os gastar milhões e milhões de rublos com tantos emissores de alta potência, sempre na mira que nos iriam bloquear a recepção e não termos nada para retransmitir.
Como entretanto passou a haver uma certa calmaria técnica, crescia tempo a alguns funcionários da engenharia e assim surgiu a ideia de serem vários aproveitados como professores de uma Escola Técnica que a RARET construiu na Glória do Ribatejo e onde tudo era gratuito, não só para os filhos dos funcionários, mas também para todos os jovens que o desejassem.
Dado o amor e entusiasmo dos professores, apareceram imensos alunos que se distinguiram nos seus exames. Também foi nesta altura, que a RARET resolveu construir um posto médico, em que todo o seu pessoal era pago pela Empresa assim, não só toda a população da RARET mas também o povo da freguesia da Glória, passou a usufruir de assistência médica imediata e até ambulância possuíamos.
Entretanto, em 1989, dá-se a destruição do Muro de Berlim e a largada dos Russos para a União Soviética, deixando aos países até aí ocupados, a possibilidade de gerirem os seus destinos.
A RARET deixou de ser mais necessária e, só por curiosidade, o falado BOQ de Benavente, foi entregue aos Correios de Portugal, sendo actualmente e, depois de grandes alterações, a imponente Estação dos Correios de Benavente, desde 7 de Outubro de 2002.
Dos muitos edifícios do Centro Emissor da Glória, ainda não se sabe o que a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, irá fazer, mas parece que foi vendido a empresas particulares e estará nesta altura, a ser tudo destruído! .
Entretanto, todo o velho material de rádio se havia tornado obsoleto e foi oferecido à Junta de Freguesia da Glória, que o vendeu como sucata. Foram os nossos herdeiros.
Dos seus mais de 300 funcionários portugueses, só restam vivos cerca de 60, em Agosto de 2006.
A RARET nunca faltou nem se atrasou com os ordenados do seu pessoal, nem com os descontos para a Segurança Social, pelo que todos passaram à reforma, depois de receberem as respectivas indemnizações.
Inclusivamente, nunca houve qualquer greve de pessoal, durante os 37 anos da sua existência.
A nossa saída da RARET deu-se em Outubro de 1986, embora a Empresa ainda se mantivesse por mais alguns anos, embora com muito menos pessoal, porque os programas recebidos via Marconi, eram canalizados para os nossos emissores, tanto da Gloria como da Maxoqueira, e aqui, eram programados em computador, para irradiarem em certas frequências e às horas mais convenientes, tudo feito automaticamente.
É no entanto curioso verificar que havendo tantos radioamadores em Portugal, mais de 3500 pessoas, que vivem a electrónica por amor, só entraram para a RARET muito poucos, como o já aludido Lopes Vieira, (CT1CW), Manuel Antunes, (CT1CO), Antonio Pinto, (CT1UT), Mário Rios (CT1KJ), Antonio Grilo (CT1DY) e este comparsa Mário Portugal (CT1DT).
Benavente 2006
Comentários
Rutra1
Ter, 2008-01-22 14:01
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Re: RARET a Mario Portugal CT1DT
Permita; Exmº Senhor MARIO PORTUGAL "CT1DT" de respeitosamente endereçar os meus humildes agradecimentos pelo óptimo trabalho de divulgação dum saudoso, mas meritório trabalho da RARET "da qual fêz parte", solicitando-lhe permissão para imprimir para M/arquivo, as 20 páginas que o constituem.
Muito e muito OBRIGADO, cumprimentos,CT4LZ.
Anónimo (não verificado)
Seg, 2008-02-11 14:16
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
Meu caro colega radioamador CT4LZ, uma das mais de 1300 pessoas que tiveram a curiosidade de ler este extenso artigo sobre a RARET.
Quem lhe escreve, é exactamente esse seu colega Mário Portugal Bettencourt Faria, CT1DT e que viveu apaixonadamente esses 35 anos de lindissima actividade electrónica na Empresa e, desde há muitos anos, colaborador mensal da revista de Telecomunicações QSP, publicada em Viseu, e mum BLOG pessoal, de nome: www.engenhocando.blog.com
Como pôde constatar, muitas mais coisas ficaram por referir, mas dada a extensão do artigo, tivémos de encurtá-lo.
Foi-nos muito grato ver que o BLOG AMINHARADIO, se interessou por este trabalho, retirando-o do anonimato.
Assim, para o seu Director, os nossos mais profundos agradecimentos.
Jose Manuel Lopes
Ter, 2008-02-12 00:29
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
Não sou rádio amador nem CB, apenas uma pessoa que se interessa pela rádio em geral, sou mais um estudioso da electrónica em geral, só fiz transmissões na tropa (era a minha arma) Transmissões.
Li e imprimi todo o artigo sobre a RARET e a sua e suas Histórias que por ela passaram, gostei imenso.
Também sou assinante da revista QSP e leitor atento dos artigos que lá escreve, sempre muito interessante, diria mesmo são daqueles artigos que prendem a nossa atenção.
Cá espero por outras histórias da rádio da sua parte.
Cumprimentos,
José Manuel Lopes
José Manuel Lopes
Herminia Loureiro (não verificado)
Qua, 2009-08-19 12:51
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
Bom dia,
Nao consigo ler o artigo dedicado à RARET sem depois deixar um comentario.
Sou uma ex-aluna da Escola da Raret na Gloria do Ribatejo, resido em Marinhais, tenho 39 anos e partilho da mesma "paixao" e quem sabe "saudade" dos tempos vividos nesse Centro Retransmissor.
Muitos dos nomes que referiu sao-me muito familiares, porque alguns ainda residem em Marinhais, outros já nao porque a vida assim o quiz. Refiro-me aos Eng.'s Fernando Rocha, Aleixo Fernandes, Pombeiro Fevereiro, Estrela Rodrigues (paz à sua alma), Mário Dias (que Deus o tenha também), Barragan ... entre outros.
Faço questao de referir que o ensino usado nesse tempo naquela escola era de qualidade e que nada tem a ver que o ensino estatal de hoje. Ja no meu tempo havia diferença!
Em Junho de 2006 houve um encontro convivio organizado por ex-alunos da RARET no qual que se reuniu professores e alunos que já havia muitos e muitos anos nao se viam. Estive presente e foi muito emocionante. Nesse encontro foi proporcionado uma visita às antigas instalaçoes da escola. O actual proprietario concedeu uma "ultima" visita às mesmas, a qual tambem foi feita com muita emoçao e recordaçao de tantos cantinhos que fizeram parte das nossas vidas.
Agradeço este momento de alegria, emoçao, fantasia vivido ao ler este artigo que muito me informou da historia da RARET que desconhecia.
Bem haja
Herminia Loureiro
aminharadio
Qui, 2009-08-20 18:42
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
Cara Hermínia Loureiro, muito obrigado pelo seu comentário.
Enviamos este seu comentário ao autor do artigo, Mário Portugal, que ficou muito feliz por saber que o assunto, mesmo depois de tantos anos, continua ainda a provocar lembranças agradáveis.
Cordialmente,
António Silva
António Silva - aminharadio.com
Anónimo Liza Fe... (não verificado)
Sáb, 2010-05-22 16:21
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
Cara Herminia Loureiro
Cheia de saudades de Portugal busquei em Google alguma coisa e encontrei Raret Radio Europa Livre!
Tambem passei muitas ferias no final dos anos 50, principio dos 60 na Raret em casa dos meu tios,
Fatima e Aleixo Fernandes assim como uns meses em Marinhais em 1965 onde a minha tia Maria Veneranda
foi professora!Tenho muitas saudades desses tempos que ja nao voltam.Vivo em Barcelona mas nao esqueço
nunca Portugal!Um grande abraço
liza fernandes
Ana Paula (não verificado)
Ter, 2010-08-24 13:17
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
haha...Liza ... e brincámos juntas muitas vezes...que saudades da Professora Veneranda e dos Tios Aleixo e Fátima, amigos de meus pais (Alberto (já falecido) e Maria Helena)
Um Beijo
Saudades
Ana-Paula
Anónimo (não verificado)
Dom, 2011-06-05 17:42
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
Ola Ana-Paula! So hoje li a sua resposta! A minha tia Maria Veneranda faleceu em 2002! No outro dia falei com o
tio Aleixo sobre esta pagina! Os primos Jose Antonio,Paulo,Fatinha e Joao e Pedro estao todos bem.
Tenho muitas saudades da Raret e de Marinhais, os anos passam tao depressa! Um grande beijo desde Barcelona,
liza (Lizarda)
NunoSousa (não verificado)
Qua, 2009-09-02 15:00
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Re: RARET - Rádio Europa Livre
Ao ler o artigo, não pude deixar de comentar, há que não confundir os sentimentos de quem de alguma forma teve alguma relação com a a raret, alunos, funcionários, etc, com a sua verdadeira razão de existência.
Na sequência da dita "onda popular" sem opinião do povo, mas apenas do governo dos EUA, a dita "Rádio Europa Livre" que tinha como principais objectivos fazer chegar a paises da Europa de Leste onde se praticava o Socialismo, que tanto assusta os Estados Unidos, onde os povos tinham todos sem excepção os mesmos direitos, educação gratuita, Saude, habitação, trabalho, férias, liberdades sindicais, etc., uma série de ideias e propaganda capitalista, afim de fragilizar estes países, para tal era necessário um ponto estratégico de retransmissão e que sítio melhor senão Portugal?
Abrigado pelo Regime Fascista de salazar, foi em Portugal que surgiu então o centro retransmissor raret, onde como é caracteristico de tais regimes, mais uma vez as diferenças eram notórias, quem era funcionário, professor, aluno, filho do funcionário, etc. tinha acesso a saude, educação e os demais privilégios a troco da ausência de opinião politica. Do lado de fora ficava mais uma vez o restante povo sem quaisquer direito nem regalias!
Era basicamente este o funcionamento da GRANDIOSA RARET, Ajuda pela democracia?? Qual?
Rádio Europa Livre?? Livre de quê?
Claude Moreira (não verificado)
Sáb, 2010-07-31 12:09
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Re: RARET - Rádio Europa Livre -
Segundo o Camarada Nuno Sousa a RARET existia para "fazer chegar a paises da Europa de Leste onde se praticava o Socialismo, que tanto assusta os Estados Unidos, onde os povos tinham todos sem excepção os mesmos direitos, educação gratuita, Saude, habitação, trabalho, férias, liberdades sindicais, etc., uma série de ideias e propaganda capitalista,"
Francamente, como é possivel que haja ainda gente que acredite em tais baboseiras ideológicas ...
O que eu gostaria de saber é se a RARET foi alguma vez infiltrada pelo PCP, a mando do seus mestres do KGB em Moscovo ?