Ao longo das décadas em que a cassete foi o meio mais popular e democrático de armazenar música, surgiram, pela mão de grandes e pequenos fabricantes, vários tipos de aparelhos: duplos, auto-reverse, carregamento frontal ou de topo, etc. Sob o ponto de vista técnico, as variedades também são algumas: encravamento por teclado mecânico, por toque, 1, 2 ou 3 motores, tração direta, 2 ou 3 cabeças, etc.
Em face disto, quando o entusiasta quer adquirir um Deck e não tem conhecimentos técnicos ou não pertenceu à época de ouro em que estes brinquedos foram reis, fica na dúvida de qual comprar.
Abaixo serão descritas todas as variantes e tipologias dos Decks de cassetes.
Carregamento
- Carregamento de topo
- Carregamento frontal
Foram populares até meados dos anos 70. A cassete e todos os comandos, teclas, VUs, etc, estão dispostos na horizontal. Também são conhecidos como Decks de mesa. Embora tenham sido fabricados modelos com excelentes características para a sua época, são relativamente limitados quando comparados com os modelos das duas décadas seguintes.
São os mais conhecidos. Todos os comandos, teclas, VUs e compartimento da ou das cassetes é frontal.
Operação
- Teclado mecânico
- Soft Touch
- Uso de Solenoides
- Servo comando
Todas as operações de manuseio, reprodução, pausa, avanço e retrocesso, stop, etc, são feitas usando a força e o movimento do utilizador. A manutenção é mais simples, é mais fiável, mas não deve ser um fator determinante, muito pelo contrário: um equipamento dos anos 80 que tenha este tipo de mecânica pode ser indicador de menor qualidade e refletir apenas a necessidade de ser mais barato.
Nestes modelos, a maioria dos Decks de qualidade desde meados dos anos 70, o acionamento das funções mecânicas é feito através da pressão de teclas suaves. O controlo dos mecanismos de avanço e retrocesso, reprodução, stop, etc, pode ser assegurado de uma de duas formas:
O movimento necessário para cada função é assegurado por um eletroímã. Dentro de uma bobina circula livremente um veio magnético. Quando a bobina é percorrida por uma tensão eléctrica, o campo oposto faz mover o eixo. Este movimento aciona o respetivo mecanismo. Ao pressionar o botão, um circuito electrónico aplica tensão à respetiva bobina. Quando esta tensão é interrompida, o solenóide volta à sua posição inicial.
Estes equipamentos caracterizam-se por um são de pancada, como se fosse um martelo, sempre que é ativada uma função.
As funções são ativadas através de um conjunto de rodas dentadas e pinos que circulam no seu interior. São esses pinos que asseguram o acionamento das várias funções. Um conjunto de micro interruptores e sensores recebem e enviam informação a um microprocessador que determinará a posição exata de cada roda e pino.
A explicação exata é complexa, tanto como o próprio mecanismo. O problema mais comum é a quebra de alguma coisa, pino, roda ou mesmo algum dente dela. Quando este mecanismo se dessincroniza o esforço e confusão mecânica, pode provocar a destruição de peças.
Embora pareça temerário, o sistema tem provado ser muito fiável e robusto, mas de qualidade determinante em função da marca, modelo e mercado a que se destina.
O funcionamento destes Decks é muito suave, preciso e silencioso.
A opção por teclas de contacto electrónico também adiciona funcionalidades como auto-start, auto-record e comando à distância.
Motores
- 1 motor
- 2 motores
- 3 motores
Podem ter 1, 2 ou 3 motores.
Um único motor assegura o movimento do capstan e movimento da fita, tanto em reprodução como em movimento rápido. Em virtude da diferença de rotação entre o capstan e o mecanismo que assegura o enrolamento da fita, além da sua variação de tensão em função da quantidade de fita existente em cada rolo, a utilização de um motor não assegura uma regularidade de rotação (wow and flutter) precisa.
Em mecanismos que são servo controlados, também pode assegurar o movimento da roda de controlo.
Neste caso, um motor, geralmente de melhor qualidade e precisão, assegura o movimento do capstan e o segundo motor assegura o movimento de reprodução e movimento rápido da fita. Em mecanismos que são servo controlados, este motor também pode assegurar o movimento da roda de controlo.
O principal, de melhor qualidade e precisão, assegura o movimento do capstan e os outros dois o movimento da fita. Um deles também pode acionar a roda de controlo.
Outra alternativa é usar o segundo motor para o movimento da fita e o terceiro para o movimento da roda de controlo e abertura do compartimento da cassete.
A tração entre o motor principal e o capstan pode ser feita por correia, o mais comum, ou por acoplamento direto. Este último assegura uma regularidade de rotação muito superior, não só porque não existe escorregamento da correia, mas também porque o controlo electrónico destes motores é assegurado por uma frequência de referência controlada por quartzo.
Para garantir uma regularidade de rotação o mais elevada possível, existe um sistema de controlo da rotação do motor. Este sistema pode ser feito através de uma referência gerada por quartzo, o mais caro e menos comum, um motor síncrono (menos sensível às variações de tensão mas dependente da frequência) ou através de um regulador de tensão, que tenta proporcionar uma alimentação o mais estável possível ao motor. Este último é o mais comum e de pior qualidade. Com o tempo e as alterações das características de alguns componentes electrónicos, esta tensão vai-se alterando. Alguns fabricantes tentam reduzir este problema utilizando sensores taquimétricos que fornecem ao circuito de controlo uma referência dependente da rotação do motor. Mas isto é um luxo.
Cabeças
- 2 cabeças
- 3 cabeças
Podem existir modelos de 2 e 3 cabeças.
Quando se olha para a parte interior do compartimento da cassete, a primeira cabeça do lado esquerdo é a de apagamento. Como se depreende, esta cabeça gera um campo magnético que apaga qualquer som que esteja previamente gravado. Por isso tem de ser a primeira. A cabeça que fica no centro assegura a gravação e reprodução. É uma cabeça única que trata destas duas funções.
Neste caso, a cabeça que fica no centro está dividida em duas, uma encarrega-se da gravação, a da esquerda, e a outra da reprodução.
Uma dúvida muito frequente é se um Deck de 3 cabeças é melhor que um de 2. Na realidade não existe uma relação direta entre o número de cabeças e a sua qualidade. A diferença é que um Deck de 3 cabeças possibilita a monitorização em tempo real do que está a ser gravado. Assim, será sempre possível compensar o ajuste de BIAS, caso exista, ou o nível correto de gravação para aquela fita especificamente. Pelo facto de ter alguns circuitos duplicados, um para a gravação e outro para a reprodução, p.e. Dolby, DBX etc, um equipamento de 3 cabeças é naturalmente mais caro. Um raciocínio possível é partir do princípio que, se um fabricante investiu num aparelho com 3 cabeças, logo mais caro, a sua qualidade global será melhor. Mas a lógica pode ser uma batata!
Auto-reverse
Inicialmente muito comum nos equipamentos de automóvel, começou a ser muito comum nos modelos de mesa dos anos 80. Basicamente, quando a fita chega ao fim do lado A, um mecanismo inverte a posição das cabeças, capstan, roler e movimento, e é iniciada a reprodução do lado B. Isto implica uma mecânica muito mais complexa em que alguns componentes existem em duplicado, p.e. o capstan e rolo de pressão. A cabeça de gravação / leitura roda 180º a cada inversão do movimento da fita. O grande problema é a precisão do ajuste do azimute (altura da cabeça de leitura). É quase impossível assegurar que o ajuste efetuado para o lado A esteja rigorosamente correto para o lado B. Pela complexidade mecânica, problemas de ajuste de azimute, possibilidade de se quebrarem as conexões da cabeça devido ao movimento de rotação da mesma, a opção por um modelo auto-reverse deve ser ponderada, sobretudo se este for o equipamento principal.
Decks duplos
A dúvida é compreensível, simples ou duplo?
Os modelos duplos tornaram-se muito populares nos anos 80 uma vez que facilitavam a duplicação de cassetes. Estes modelos existem em versões em que um dos Decks grava e reproduz e o outro apenas reproduz, ou ambos gravam e reproduzem. A desvantagem é que a mecânica é duplicada, além de alguns circuitos electrónicos, daí que o preço possa ser mais elevado para um produto que não tem assim tanta qualidade.
Funções especiais
- Dolby B, C, S
- DBX
- HXPro
- Selecção automática do tipo de fita
- Auto dolby
- Ajuste automático da BIAS
- Ajuste automático da equalização
- Ajuste automático do nível de gravação
- Ajuste automático do azimute
O esforço dos fabricantes, principalmente japoneses, em melhorar a qualidade de um suporte magnético que não foi pensado para a alta fidelidade, levou à criação de funcionalidades especiais (algumas delas engenhosas), filtros de ruído, ajustes automáticos, etc.
São filtros que pretendem limitar o ruído de fundo da reprodução através do reforço de determinadas frequências durante a gravação e o correspondente corte durante a reprodução. Ao cortar estas frequências, reduz-se o ruído da fita, mantendo-se a qualidade da reprodução.
Este filtro em vez de actuar no reforço e correspondente atnuação das frequências altas, expande durante a gravação e comprime na mesma proporção durante a reprodução.
Funciona só na gravação e não pode ser desativado. Actua sobre o nível de BIAS, reduzindo-o quando a gravação tem excesso de frequências altas, aumentando este valor para compensar a deficiência nas frequências baixas.
Este recurso é normal nos modelos a partir dos anos 80 e selecciona o tipo de fita, I, II, IV, através da ativação de microinterruptores situados no topo do compartimento da cassete. A sua activação depende de da correspondente ranhura existente na cassete e que varia com o seu tipo.
Identifica as gravações feitas em Dolby. A vantagem é que, quando uma gravação não usa este recurso, o Dolby é activado nos momentos de silêncio da fita, reduzindo o seu sopro.
Determina a melhor tensão e frequência de BIAS em função da qualidade, tipo, envelhecimento, etc, da cassete.
Ajusta o valor da equalização em função da qualidade, tipo e envelhecimento da cassete.
Ajusta o valor ideal em função do tipo, qualidade e envelhecimento da cassete. Estes 3 parâmetros, BIAS, equalização e nível, são, muitas vezes presentes e ativados num único ajuste antes de cada gravação
Este recurso, de luxo, ajusta a melhor posição da cabeça de reprodução, escolhendo o ponto em que a reprodução é melhor nas frequências mais altas.
Conclusão
- Simples ou auto-reverse;
- Simples ou duplo.
Perante tantas opções, pode não ser fácil a escolha.
Resumimos as opções, limitando as escolhas:
Se é opção duplicar cassetes, o duplo é uma boa escolha. Se o objetivo é ter um equipamento de extrema qualidade, a opção passa por um modelo simples.
Note-se que estas variantes, duplo, auto-reverse, acabam por tornar mais caro o o produto, não pela via da qualidade mas pela sofisticação e complexidade.