Leak TL12 - O primeiro dos grandes clássicos

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Leak TL12
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Leak TL12 - O primeiro dos grandes clássicos


Da mesma maneira que tínhamos fechado a Breve história dos gira-discos por um capítulo subsidiário dedicado à EMT, vamos fechar esta história com uma marca pioneira inglesa, a LEAK.

Este capítulo é dedicado aos que viram como uma injustiça que a breve história se tivesse aberto com a QUAD, sendo que a LEAK é mais antiga. Mas o fenómeno em jogo é o mesmo que tinha existido com a EMT. Os LEAK nasceram como sendo aparelhos profissionais (subsidiados pela BBC), embora a empresa vendesse também aos particulares quando podia. Esta dupla atitude (que a EMT teve também) não justifica, nem é uma razão para ocupar um espaço histórico particular.

Para alguns jornalistas ingleses, a marca LEAK é a pioneira da alta fidelidade e há livros dedicados à história da marca. A realidade é um pouco diferente, pois no domínio profissional, empresas americanas como a Bell company, Western electric e a Westrex são muito mais antigas.


Amplificador Leake TL12


O aparelho que vamos analisar é o mais conhecido e respeitado da LEAK, e um belo exemplo do que acaba de ser dito, trata-se do TL12.

Nascido em fins de 1948, este aparelho é uma versão simplificada (três andares em lugar de quatro) do Type 15 de 1945. Ambos foram criados para atacar a cabeça (braço) dos burins gravadores "record cutting heads", ou seja, as máquinas que cortam (gravam) a matriz original dos vinis.

Como se vê, o destino primeiro do aparelho, não era uma sala de escuta doméstica. O Type 15 é o primeiro aparelho da LEAK (e um dos primeiros no mundo) a merecer a célebre etiqueta de Point One "ponto um", que traduzido em português quer dizer "zero vírgula um". Isto porque o amplificador atinge 0,1% de distorção, à potência máxima e a todas as frequências, o que é uma proeza em 1945!

Este resultado extraordinário explica que todos os aparelhos seguintes, da série TL, serão acompanhados da etiqueta "Point One", afim de credibilizar o nível tecnológico dos produtos. Esta proeza tecnológica, à qual a BBC se habitua rapidamente, explica o altíssimo nível de exigência das medidas (para todos os produtos profissionais) desta venerável instituição, e isto até aos dias de hoje.

A meio dos anos cinquenta este aparelho evoluiu e tornou-se o TL12 Plus, com grandes diferenças ao nível do andar de potência que é em Ultra-linear. O LEAK TL12 é um aparelho admirado ou detestado. Os admiradores vêem nele o primeiro representante de uma escola objectiva que eleva e defende a melhoria das "performances" do material áudio. Os contras vêem nele um aparelho com muitas receitas, utilizadas unicamente com o objectivo de reduzir a distorção, e não de melhorar a qualidade da escuta.


Outra foto do amplificador Leake TL12


Quem tem razão? Como quase sempre em alta fidelidade, os dois!



Apresentação


Como a maioria dos amplificadores dos anos quarenta, o TL12 apresenta-se num chassis (corpo) pequeno e prático, com os contactos externos para alimentar e receber o sinal do pré amplificador separado. O circuito em três andares, compõe-se de um pêntodo em entrada para o ganho, seguido de um desfasador de Schmitt "long tail phase splitter", que ataca um Push-Pull de tétrodos KT66, configuradas em pseudo tríodo. A rectificação da alimentação é assegurada por uma válvula GZ32.

Visto assim o circuito do TL12 é uma combinação do circuito Mullard, com o andar de potência do circuito Williamson.

Este circuito que será o esquema clássico da LEAK para os vinte anos que se seguirão, alimenta a tese dos contras como a marca não inventou nada. Mas o esquema da realimentação negativa contradiz essa tese.

Partindo do secundário do transformador de saída, e retornando sobre a válvula de entrada, a linha de realimentação negativa (feedback em inglês) aplica-se sobre os três andares (mais o transformador de saída) e torna-se numa (quase) linha tripla, daí o nome do aparelho, ou seja TL para (triple loop). Isto é verdadeiramente original, e é a base de muitos aparelhos modernos, e de quase todos os que irão sair após o LEAK TL12.

Mas para obter um nível de distorção tão baixo, com um circuito tão simples, é necessário que haja uma taxa muito elevada de realimentação negativa. Ora isto é muito difícil de fazer pois os erros de linearidade e de fase do transformador vão converter o amplificador em oscilador. Para fazer isto é necessário um transformador de saída quase perfeito, e é o que o Harold Leak vai fazer. Contacta a prestigiada fábrica Partridge, que trabalha com a BBC também, e esta desenvolve um transformador extraordinário, que vai aceitar a taxa espectacular de 26 dB que o TL12 possui.

O verdadeiro segredo do LEAK TL12, e dos outros modelos da marca, chama-se PARTRIDGE transformers. Mas, pois há sempre um mas, esta taxa de 26dB é de 20 dB mais elevada do que a norma actual, para não estragar a escuta. Isto o H. Leak não sabia, pois a audiofilia não existia ainda, e porque de todas as maneiras o TL12 foi concebido para conduzir o burin gravador em primeiro lugar (garantindo que o sinal de entrada era a 0,1%, idêntico ao de saída amplificado) e não as colunas da época, mesmo sendo a impedância de ataque praticamente a mesma, nos dois casos.



Vantagens



Outra foto do amplificador Leake TL12


Fabricado com muita seriedade e com componentes de alta qualidade, o TL12 (como todos os LEAK) é de uma fiabilidade extraordinária. O circuito bem trabalhado e afinado, assegura uma grande estabilidade, mesmo com colunas difíceis de atacar. Não hà condensadores electrolíticos no aparelho, são todos em papel / óleo, o que assegura uma longevidade enorme, para um aparelho desta época.



Inconvenientes


A utilização em pseudo tríodo dos KT66 produz uma potência muito fraca de 12 watts, o que para a época é muito menos (-30 %) que os 16 watts do QUAD II. A taxa muito elevada de realimentação negativa, prejudica as qualidades de escuta do aparelho subjectivas, mas assegura um controlo das colunas único para os anos quarenta.



Escuta


O TL12 é apresentado como um belo exemplo das qualidades e dos defeitos, da realimentação negativa. É um aparelho que decepciona com a maioria das colunas modernas. O som é "stressado", com falta de vida e de espontaneidade. As qualidades (reais) de controlo e de rigor, não conseguem salvar a escuta, que é na maioria dos casos monótona, com uma dinâmica fechada, e uma rapidez pesada. Mas, e este será o nosso último mas, com altifalantes da época dele é uma outra história.

Casado com velhas Warfedale ou com o banda-larga Lowther-Voigt PM6, o TL12 é extraordinário. O som abre-se e torna-se majestoso, o rigor dos ataques tornam-se em qualidades apreciáveis. Com o Lowther, o casamento é esplêndido, é a melhor escuta que fiz do TL12 e do altifalante. O som é fluído, líquido e evidente. Os defeitos mútuos anulam-se e as qualidades multiplicam-se.

Isto prova (ao contrário do que alguns pretendem) que o H. Leak optimizou o TL12, não somente à medida, mas também à escuta com as colunas da época. Um belo clássico .