Lectron JH30 - O manifesto da terceira via

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Lectron JH30
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Lectron JH30 - O manifesto da terceira via


Desde o início dos anos setenta um fenómeno evidente começa a constatar-se. O mundo dos audiófilos está repartido entre os aficionados da válvula e os do transístor. Os primeiros celebram a riqueza harmónica, a vida, a classe e o natural da reprodução, mas os segundos argumentam que a transparência, o controlo, o rigor e o equilíbrio de banda está do lado do "Solid State". Quem tem razão? Os dois evidentemente.

Daí a imaginar-se uma terceira via, ou seja um aparelho que possa reagrupar as qualidades de ambos, foi um pequeno passo.

A ideia do híbrido acaba de nascer, e marcas como a Philips vão criar, desde os anos 70, aparelhos interessantes.

Mas são sobretudo os Amplificadores OTL do Futterman nos EUA que estabelecem os códigos desta nova disciplina. Mas se a ideia é nobre, na prática a concretização patina, e está longe de atingir o ideal da sua promessa.

Os aparelhos do Futterman são frágeis, às vezes instáveis e utilizam válvulas e mesmo transístores raros. Mas sobretudo o som não é o esperado, pois é parecido com uma, ou com a outra das tecnologias empregadas.

A terceira via está bloqueada, e muitos designers começam a vê-la como uma utopia ou como uma disciplina rafeira e sem nobreza.

Um outro fenómeno (e esta frase é medida) irá agravar a situação nos anos oitenta. Um jovem engenheiro de génio (o fenómeno) acaba de lançar uma serie de aparelhos a transístores que revolucionam a escuta e os princípios desta tecnologia. É a série ML do Mark Levinson, os verdadeiros, os únicos.

O golpe é duro para o mundo das válvulas. Em apenas quinze anos o transístor atinge um nível de evolução tecnológica e de escuta que a válvula levou mais do dobro a atingir. A Audio Research e a Conrad Johnson ultrapassam-se a si próprias e atingem de novo os níveis impostos pelo "Solid State". A Audio Research pelos híbridos, e a Conrad Johnson pela série Premier. Mas a terceira via continua a afastar-se da realidade concreta, e fecha-se a si própria, numa espécie de caixa de Pandora.


Amplificador Lectron JH30


Mas o impensável acontece, e chega do lado de onde se esperava menos. No fim dos anos oitenta de uma jovem empresa Francesa sai um amplificador híbrido a válvulas, que será o manifesto da terceira via. A utopia torna-se realidade e da maneira mais brilhante que se possa imaginar.

O criador deste aparelho J. Hiraga, grava de novo o seu nome no mármore, e escreve a grande história à maneira dele.

O Lectron JH30 é aclamado por uma imprensa unânime, da Alemanha até ao Japão, como um aparelho musicalmente extraordinário e único.

Este aparelho é ainda produzido nos dias de hoje pela Jean Maurer na Suíça.

O Pai deste amplificador é um audiófilo completo, e uma lenda viva. Filho de pai Japonês e de mãe Francesa, é um jovem estudante quando a escola audiófila nasce nos anos sessenta no Japão. Será iniciado na audiofilia por três deuses, o Sr Sugano (Koetsu), o Sr Anzaï (Anzaï Zaïka) e o maior perfeccionista do Japão o Sr Tanaka.

No início dos anos setenta três dos seus aparelhos já foram analisados pela Radio Jitsu, e o estatuto de mestre e de fundador da escola já está ganho. Sendo o mais jovem dos pioneiros, as suas criações são quase todas a transístores.

De volta a França nos anos setenta cria uma revista, L’Audiophile, que irá influenciar até hoje a audiofilia Francesa e ocidental.


 Outra foto do amplificador Lectron JH30


Especialista dos tríodos, da 300B em particular (que ele sabe metamorfosear em magia), irá misturar o seu conhecimento das válvulas e dos transístores desde a metade dos anos oitenta. Em 1989 nasce o Lectron JH30, a partir de um exercício de estilo começado na revista L’Audiophile.



Apresentação


O Lectron JH30 é um aparelho simples na aparência, mas um golpe de génio no detalhe. Os andares de entrada a transístores são simples e eficazes. Um andar cascode, de ganho elevado, com um transístor Fet e um Bipolar, asseguram o andar de entrada, de ataque e inversor, como no QUAD II. Só há dois andares, o de entrada a transístores e o de potência com um duplo Push-Pull dos maravilhosos pêntodos EL84.

Os transístores são regulados individualmente por uma alimentação simples e diabolicamente eficaz. Os componentes são todos de nível audiófilo, ou seja, o melhor, do melhor à escuta da época.

Os transformadores de saída são de desmaiar. O J. Hiraga utilizará o seu renome com o fim de convencer a firma Inglesa Partridge Transformers (a Rolls-Royce absoluta da matéria), a construir sob medida os transformadores áudio. Dimensionados para 90 watts, podem passar três vezes a potência do aparelho, com uma linearidade de 10 Hz – 90 KHz a 0dB.

O JH30 é um verdadeiro integrado, e um phono universal (a transístores Fet) separado e alimentado pelo amplificador, pode-lhe ser adicionado.

Uma astúcia deve ser mencionada em relação à utilização. No painel frontal há dois atenuadores (um por canal) com onze posições. Estes atenuadores servem para equilibrar o ganho, em função da fonte e das colunas, afim de utilizar o potenciómetro principal, de marca audiófila NOBLE, na sua zona linear, ou seja, de um quarto a três quartos do volume, e isto é uma ideia genial e única.

Seriam necessárias várias páginas para abordar cada detalhe deste aparelho que por detrás de uma aparente simplicidade é na realidade de uma grande originalidade e dotado de um "saber fazer" único. O corpo é em alumínio e os transformadores são recobertos por uma capa em inox não magnético. O circuito impresso é montado sobre suspensões, para evitar o efeito microfónico sobre as válvulas de potência, os suportes destas últimas são arrefecidos.


 Outra foto do amplificador Lectron JH30


O aparelho é integralmente auto polarizado e auto equilibrado, sem nenhuma necessidade de manutenção ou de afinação. É um aparelho que conjuga a originalidade conceptual e o rigor obsessivo, a França e o Japão, e é deste choque cultural, que nascem a magia e o encanto .



Vantagens


O circuito que se resume a dois andares, beneficia um nível de transparência excepcional. A qualidade extrema dos componentes, faz o aparelho fiável e musical. A auto polarização torna-o quase tão simples de utilização como um transístor. O phono separado é de uma qualidade fantástica. O tamanho modesto do aparelho permite integrá-lo em qualquer móvel hi-fi. Visualmente é um belo objecto, muito bem construído.



Inconvenientes


A potência modesta de 30 watts, e a utilização de válvulas EL84, que são menos conhecidas que as EL34 ou KT88, não favorecem o acolhimento do aparelho como sendo, um verdadeiro representante do topo de gama. O preço muito elevado é justificado pelo emprego de componentes caríssimos, será mal compreendido, pois a audiofilia ainda é confidencial.

O JH30 é um aparelho culto, como o 8B da Marantz.



Escuta


O JH30 é hipnótico! Imagine-se um aparelho rigoroso, transparente e definido, mas com sonoridades em permanência humanas, anti electrónicas. É isto a terceira via e a nobreza dos verdadeiros híbridos. O nível de performance é absoluto, e faz dele um dos raros aparelhos a saber reproduzir "O pássaro de fogo" do Stravinski separando perfeitamente os 84 instrumentos da orquestra, e preservando a identidade própria de cada instrumento.

A subtileza na micro modulação é fantástica, e os finais de nota são de uma complexidade formal e harmónica, que transforma o auditor em actor.

Este aparelho não faz ouvir a música, faz senti-la, e a experiência atinge uma forma de êxtase sensual. Os timbres não são nem aveludados como nas válvulas clássicas, nem austeros como nos transístores. é o meio termo, ou seja, o da perfeita medida. Um aparelho que prova que a verdade é mais bela, do que o mais fantástico dos sonhos.



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