Luxman MB300 e LAMM ML2.1 - Os tríodos são eternos
Estamos a chegar ao fim da nossa saga. Não podíamos fechar esta breve história sem falar dos amplificadores Single-ended. Estes aparelhos, verdadeiro culto para muitos melómanos, são objectivamente um paradoxo, e, nas linhas abaixo, iremos explicar porquê.
Os amplificadores mono válvula ou "Single-ended", nasceram no fim dos anos vinte, para amplificar os teatros e o cinema, quando este se tornou sonoro. Visto assim, estes aparelhos são os primeiros amplificadores da história, e a pré-história do áudio electrónico.
O apogeu desta tecnologia, foi nos anos trinta nos Estados unidos, com marcas como a Western Electric, que era especializada no cinema.
Desde os anos quarenta os tétrodos começaram a tomar o lugar dos tríodos e o Push-Pull (mais potente) eclipsou definitivamente o Single-ended. Mas a história dá muitas voltas, e desde o começo dos anos sessenta os japoneses irão tirar esta tecnologia da cova.
Em comparação com os amplificadores Push-Pull da época, os amadores reconhecem que os Single-ended soam de uma maneira mais natural. É o começo da escola audiófila japonesa, que irá duvidar da evolução musical do áudio.
Começam a construir amplificadores com todos os antigos tríodos disponíveis, e a utilizar componentes modernos no seu fabrico. O resultado é espectacular, e as demonstrações públicas são eloquentes. Os Single-ended são verdadeiramente muito mais musicais que as outras tecnologias.
Certos artesãos japoneses especializam-se nesta tecnologia e no fabrico dos componentes associados, aos quais será dado mais tarde, o nome de "componentes audiófilos".
Uma hierarquia de qualidade dos tríodos, aparece rapidamente e unanimemente, os japoneses constatam que o melhor tríodo à escuta é a 300B, vão chamar-lhe a "Rainha dos tríodos áudio".
Esta válvula criada pela Western Electric em 1928, teve uma longevidade extraordinária, pois foi fabricada até fim dos anos oitenta, sem interrupção. É uma válvula muito difícil de copiar (e a mais copiada), pois a Western Electric possuía um saber fazer único, e os segredos escondidos neste tríodo, são até hoje quase impenetráveis.
A linearidade do 300B é fantástica (ultrapassa quase todas as outras válvulas), e a robustez é única (mais de 10000 horas de funcionamento).
Esta robustez explica que a partir dos anos sessenta a 300B passa a ser utilizada nas alimentações de radar militar.
Um dos aparelhos em destaque será equipado com essa válvula.
Efectivamente o radar militar, utiliza alguns tríodos conhecidos. Porquê utilizar válvulas na era do microprocessador? Simplesmente porque graças aos Russos, todos os países compreenderam desde os anos oitenta, que em caso de guerra nuclear, só os tubos é que funcionam durante a tempestade electromagnética que acompanha a explosão. E é justamente da Rússia que a nossa segunda válvula tríodo vai chegar.
Fabricada e concebida para uma utilização militar a 6C33-C, é um tríodo muito diferente, mas tão espectacular como a 300B. É um tríodo de muito fraca resistência interna, pois esta atinge 30 ohms contra vários milhares para a 300B. A placa é em grafite puro, torneado na massa e o bolbo é em Pirex espesso, afim de resistir às altas temperaturas de funcionamento.
A linearidade é fabulosa e equivalente à da sua colega americana, mas com uma potência superior.Os aparelhos que vamos analisar utilizam, cada um, válvulas tríodo míticas, com qualidades excepcionais. De um lado o MB300 da Luxman. Este aparelho foi fabricado em série limitada entre 1984 e 1986 somente para o mercado Japonês. Foi lançado ao mesmo tempo que a Luxman decidiu parar a produção de amplificadores a válvulas.
Impulsionado pelo A. Miura que fundou a Air Tight, este aparelho é uma homenagem à escola japonesa e ao saber fazer audiófilo deste país. O Luxman MB 300 possui todos os códigos de um aparelho artesanal de alto nível. Do outro lado um aparelho muito diferente, a todos os níveis, o ML2.1 da LAMM. Verdadeiro representante da escola russa o ML2.1 é um aparelho fora do comum, e de uma complexidade rara.
Concebido pelo Vladimir LAMM, especialista Russo da rádio militar emigrado nos Estados Unidos. É um dos aparelhos mais modernos em concepção que existe, e um dos últimos grandes Single-ended a serem concebidos, pois o aparelho data de 1995.
Apresentação
Cada um dos aparelhos é feito de duas unidades monofónicas. O Luxman utiliza o tríodo americano 300B e o LAMM o tríodo russo 6C33-C. O luxman tem como particularidade utilizar um circuito japonês baptizado "stereo Gallery", e de permitir extrair 10 a 12 watts do 300B em vez dos 7 a 8 watts habituais, mas sem perigo para a vida da válvula.
Os componentes são de um nível muito elevado. Poucos sabem que a Luxman antes de fazer electrónica era um fabricante de transformadores áudio de alta qualidade. Para o MB300, utilizam os transformadores Luxman da série OY, que só são ultrapassados pelos Partridge ingleses. São obras-primas bobinadas à mão pelos mais velhos artesãos da marca. Cada transformador de saída pesa 12Kg e é uma obra prima aparada e assinada pelo bobinador.
As resistências são as Allen Bradley de carbono aglomerado, e os condensadores vêm do artesão Shizuki, e são feitos à mão em polpa de bambu e seda. É um aparelho muito refinado ao nível da construção, e da atenção dada ao mínimo detalhe.
O LAMM é de uma filosofia totalmente diferente. Cada componente é de norma militar americana, e cada válvula possui o sufixo militar soviético ou seja CB. É um aparelho de alta categoria de fabrico. Caso único o aparelho é totalmente regulado ao nível da alimentação, mesmo para o andar de potência.
Uma 6C33-C é utilizada para regular a outra que é activa. É um caso único no áudio, e digno do rigor da escola russa.
Isto é feito para assegurar um comportamento igual do amplificador com qualquer coluna.
Páginas inteiras seriam necessárias para descrever o génio oposto destes dois aparelhos, mas o principal foi já dito, afim de facilitar a compreensão dos antagonismos em jogo.
Vantagens
A este nível de delírio conceptual é difícil discutir vantagens e inconvenientes. O LAMM tem a vantagem de ser totalmente regulado e de controlar melhor as colunas, enquanto o Luxman tem o privilégio de se apoiar sobre a experiência do passado, mas com os melhores componentes disponíveis à escuta.
Inconvenientes
Fora a potência fraca de 11watts para o LUX e de 17 para o LAMM, o que obriga a escolher bem as colunas, não vejo nenhum outro inconveniente. Ah, sim o preço...
Escuta
O Luxman é complexo e deixa perplexo à escuta. Desde as primeiras notas, o coração diz "É isto, é assim a música...", o nível de naturalidade no desenvolvimento harmónico é de endoidecer. O aparelho é sempre justo e sem esforço. Dá a impressão de convencer QUALQUER coluna a fazer música com ele, apesar da dezena de watts.
A definição é média, mas não dá a impressão de falta. A distorção é elevada mas inaudível. O sentido rítmico é sem falhas, e faz passar certos Push, por aparelhos rústicos, sem elegância. As notas derramam-se na sala, andam no ar e acabam por vestir a alma do auditor. Uma iniciação à nobreza diabólica dos grandes Single-ended, que não deixam o auditor em paz.
Um aparelho que pode perturbar para sempre os sentidos, e que só pode ser ultrapassado pelos aparelhos artesanais do tipo Anzai Zaika, Hiraga ou os da Shindo labs. um sonho que se vive acordado.
O LAMM é diferente, o natural (próprio do Single-ended) é acompanhado de performances de alto nível. A transparência e a dinâmica são exemplares. O controlo sobre as colunas é total e o aparelho parece dar uma potência dez vezes superior.
É um amplificador orgulhoso, majestoso e dominador que agarra a música, enquanto que o Luxman a acaricia.
As qualidades dos dois juntas, fariam o amplificador perfeito...
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