Sonic Frontiers Power One - A concepção total
No início da década de noventa, a alta fidelidade atinge uma certa forma de apogeu. A abertura e o fim da URSS facilita a chegada das válvulas Russas ao Ocidente.
Os maravilhosos tríodos 6C33-CB, e várias outras, passam a ser utilizados por muitos construtores.
Os chineses atingem um nível de cópia muito elevado e começam a atacar os velhos tríodos míticos, como a 300B, 2A3, 211 e 845, mas sem igualar os originais.
Países como a Itália fazem aparelhos magníficos como os OTL da GRAAF do Giovanni Marianni (uma referência).
Os transístores evoluíram, estão tecnicamente maduros, e marcas como Etalon, Krell, Threshold, Naim, etc fazem a vida dura às válvulas de alto nível.
Mas os valvulados estão em plena ascensão, e nunca houve tanta marca especializada nesta tecnologia.
Os Chineses começam a penetrar neste micromercado em força. Os preços são muito mais baixos, que os dos aparelhos ocidentais, e utilizam componentes de marcas europeias ou americanas célebres para credibilizar os produtos. Mas são essencialmente cópias dos aparelhos clássicos, que segundo a marca e a fábrica, soam bem ou mais ou menos.
Mas, o importante é que essas marcas Chinesas democratizam o mercado das válvulas, e permitem aos que não tinham possibilidade de comprar um aparelho ocidental, de provar o som dos valvulados.
A escola audiófila Japonesa é enfim reconhecida em todo o ocidente, e os tríodos em Single-ended ou em Push-Pull tornam-se a moda. Todas as marcas reclamam-se como Audiófilas (que paradoxo), e empresas como a Cary e a Bel canto vão mesmo especializar-se nesse sector dos tríodos.
Os alquimistas Japoneses, saboreiam com ironia, a vitória da maestria e do empirismo da escola oriental, trinta anos após a sua criação. Tudo parece idílico e a andar pelo melhor, mas o espectro da queda já se avizinha.
Apogeu e começo do declínio, ocupam sempre o mesmo espaço na história!!! As grandes marcas aburguesaram-se, e tanto a Conrad Johnson, como a Audio Research, deixaram de possuir o espírito visionário que as alimentava. Gerem tranquilamente o património do passado, sem fazer nada de verdadeiramente novo. É na brecha entre estes dois mitos (cansados) que uma marca Canadiana, se irá introduzir, e criar a sua própria lenda. À imagem do seu nome "Fronteiras sonoras", em quinze anos esta empresa irá revolucionar tudo o que tocará , do digital até aos amplificadores a válvulas.
Chris Johnson pode estar orgulhoso do caminho percorrido. A sua marca, Sonic Frontiers, continua (mesmo que tendo já falecido) a ser um diamante imaculado e um exemplo para todos os designers do mundo inteiro.
Os últimos aparelhos da marca, os amplificadores a válvulas da série Power são modelos puros, de génio conceptual e os primeiros que os designers irão baptizar como sendo a "Concepção total". O que isto quer dizer?
Como compreenderam durante esta saga, nos anos 50/60 o circuito é considerado como a alma de um aparelho, nos anos setenta a alimentação começa a ter uma grande importância, e nos anos oitenta o som dos componentes começa a ser admitido, e mesmo reconhecido por alguns como a CJ. Com os anos noventa uma certeza aparece: ao mais alto nível, nada pode ser discriminado e a atenção a TODOS os detalhes é imperativa. É isto a Concepção total.
Apresentação
O SF Power One é o mais pequeno de uma série de três aparelhos. O One debita 55/60 watts e é um Push-Pull de tétrodos 6550, o Two dá o dobro da potência e é um duplo Push das mesmas válvulas, finalmente o Three é uma versão em dois blocos monofónicos de potência mais elevada, com cerca de 240 Watts.
O Power One cristaliza a tecnologia, que derivará para os seus dois irmãos maiores. A construção é muito optimizada. O corpo é feito em duas partes. Uma em aço inoxidável não magnético que cobre o circuito (zona activa), e outro em aço de ferro magnético (melhor blindagem electromagnética) que cobre os transformadores e a alimentação.
O andar de entrada e desfasador simétrico é muito elaborado, utiliza três duplos tríodos 6922 russos por canal. Estes andares são estabilizados por uma alimentação regulada a transístores de comutação rápida e sem barulho de fundo. O aparelho é simétrico da entrada até à saída das colunas como o D78 da Audio Research.
Mas a realimentação negativa é muito mais elaborada. Completamente simétrica e sectorizada entre os andares, adopta a estrutura criada pelo Matti Otalla (físico Filandês, descobridor da distorção de intermodulação transitória), cujo trabalho foi aplicado desde a nascença pela marca Norueguesa Electrocompaniet.
Concebido e artilhado assim intelectualmente, é óbvio que à medida em laboratório, o Power One não tém nada a perder contra um transístor, em medida de distorção e não só. Os componentes, todos escolhidos à escuta, são de alta qualidade. Os transformadores de saída, perfeitamente adaptados ao aparelho possibilitam atingir 10 a 70000 hertz a plena potência!
O sistema de polarização (bias) é muito prático, sendo uma variante do sistema da Conrad Johnson com diodos Led, verdes e encarnados.
Todos os tipos de conexão estão atrás, ou seja, entrada simétrica (XLR) ou assimétrica em fase 0° ou fase inversa 180° (Cinch). Todos os conectores são de marca Cardas, mesmo os de coluna. Do interior do aparelho até à embalagem, o sério e o rigor da construção está presente. Um modelo do que um aparelho, verdadeiramente high-end, deve ou deveria ser.
Muito haveria a dizer sobre este aparelho que eleva a tecnologia a válvulas (em amplificação áudio) a um nível quase último. A marca garantia cinco anos o aparelho, o que é uma prova directa da qualidade do mesmo.
Vantagens
O sistema simétrico do circuito, acoplado a alimentações "de corrida", permitem um controlo dos altifalantes praticamente ao nível dos melhores transístores. A distorção muito bem controlada a todas as frequências, assegura à escuta, contornos de nota finos e puros. O aparelho pode triplicar em picos a potência.
Como a música é uma sucessão de sinais por impulsos, isto explica o sentimento de potência "infinita" à escuta do Power One.
É um aparelho muito fiável, que pode atingir cinquenta anos de idade (ou mais) se bem acompanhado no tempo (esta frase é para aqueles que pensam que o material moderno é sempre mais mal feito que o antigo).
Inconvenientes
Existem aparelhos modernos clássicos, e modernos vanguardistas, visionários. O Sonic Frontiers pertence à segunda categoria, e isto é um inconveniente. Este amplificador não soa como um valvulado clássico, e será punido por isso, pois poucas vendas se fizeram no total. Na realidade o aparelho será um meio fiasco, pois embora bem vendido na Europa, irá acelerar o fim do cometa Sonic Frontiers.
Escuta
O Power One não é um amplificador, é um predador de colunas. Ele ataca os altifalantes, como a leoa os antílopes. Com garra, domínio e controlo. Não é um valvulado como os outros, é um guerreiro. Na realidade os aparelhos que têm um som parecido com o seu, são os série ML do Mark Levinson a transístores!!! O médio e os agudos possuem a riqueza harmónica das válvulas, mas sem calor excessivo. Os agudos são cinzelados, delicados e finos. De uma finesa e elegância, que iguala os transístores bipolares.
Mas é na dinâmica sem limites, que o som a válvulas se reconhece, e que a tecnologia é traída. Sim o Sonic Frontiers é diferente de tudo, e é ou uma descoberta para a vida, ou uma decepção imensa. É um aparelho para os que vivem com as válvulas há muito tempo, e que querem mais, sobretudo mais verdade, e menos formalismo. Este amplificador é uma prova, que ao mais alto nível tecnológico, as válvulas e os transístores unem-se num som quase gémeo, como as rectas paralelas de Einstein se unem no infinito. Ora, na reprodução de alta fidelidade, só há uma verdade, mas muitos gostos e crenças.
Um dos mais objectivos e rigorosos amplificadores a válvulas da história.
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