GARRARD 301 - O primeiro mito eterno
E.W. Mortimer pode estar orgulhoso. A máquina que criou em 1954 continua a desafiar o tempo e mesmo a lógica.
Contemporâneo dos grandes EMT profissionais, o G301 é anterior à gravação estéreo. Uma mecânica simples e robusta, materiais de qualidade e um belo equilíbrio das massas em movimento são qualidades reais do aparelho, mas que infelizmente não explicam o som perturbante que ele pode proporcionar.
Os segredos desta máquina foram impossíveis de compreender durante muitos anos e isto ajuda à manutenção do mito. Os seus defeitos são a sua maior qualidade e isto desafia a mecânica.
O laboratório SHINDO no Japão construiu uma versão melhorada desta máquina que se tornou lenda, sendo um dos gira-discos que proporcionam a maior "vertigem" na escuta.
O Garrard 301 - Compreendendo um pouco este fenómeno
Primeiro gira-discos considerado verdadeiramente de alta-fidelidade o G301 é um mito absoluto. A sua procura continua actualmente e os preços acompanham essa procura, sendo elevados para uma máquina que têm mais de cinquenta anos e um "idler drive" o que quer dizer que o prato é movido por uma roldana em borracha.
O motor possui 3 polias, que em contacto com a roldana (que está em contacto com o interior do prato) permitem obter as velocidades de 78, 45, e 33 voltas por minuto. Um travão magnético possibilita variar a velocidade de +/- 3%.
Não é um gira-discos no sentido lato mas um motor de reprodução "transcription motor", pois, de origem, não tem braço nem base, é feito para ser encastrado num móvel e ligado ao braço que se quiser.
Cerca de 100000 foram produzidos entre 1954 e 1966.
Existem dois tipos o "grease bearing" e o " oil bearing" que corresponde à lubrificação do eixo central por massa "grease" e a óleo "oil".
Os mais antigos são de cor cinzenta martelada, pois eram feitos com os restos do armamento da segunda grande guerra, depois a cor passou a branco creme.
O motor de 16 Watts é potente sendo uma das suas maiores qualidades e defeitos.
Vantagens
A trilogia motor potente, mecânica simples e pragmatismo conceptual inglês, fazem do G301 um verdadeiro camião. Isto nunca avaria e roda sempre a uma velocidade relativamente estável.
O sistema de roldana impede as micro travagens quando os sulcos são profundos ou com células com força de apoio elevadas.
O sistema de roldana permite também auto-amortecer o prato proporcionando um grave profundo e uma frequência de ressonância estável.
A escolha de um braço de 9 a 12 polegadas é mais fácil e a base pode ter a estética que se deseja.
O gira-discos pode ser facilmente melhorado com vários "tweeks" disponíveis.
Tudo ou quase é metálico e se desmonta com uma chave de fendas o que permite reparar facilmente um problema qualquer.
Inconvenientes
Muitos! A "sagrada" rigidez braço/prato não é boa (é mesmo muito má), o motor "polui" magneticamente as células com resultados estranhos (é o único ponto em que o G401 é superior), e vibra muito devido a potência e ao equilíbrio que não é muito preciso. A polia de pequeno diâmetro que roda a 1500rpm, derrapa (micro derrapagem) sobre a roldana e faz variar a velocidade do prato. Também a ausência de suspensão e as vibrações do motor conferem-lhe um rumble importante.
A simplicidade de fabrico e as largas tolerâncias do eixo principal fazem com que a precisão de leitura dos micro sulcos não seja A ideal.
Ultimo ponto, o barulho de ferro-velho dos cardans de comando, dão uma sensação de rafeiro ao gira-discos, mas os aficionados adoram-no, pois faz parte do objecto.
Escuta
O G301 é um aparelho mágico. A soma dos seus defeitos daria em qualquer outro gira-discos um lamentável fiasco. No G301 esses defeitos transformam-se em qualidades hipnóticas.
A dinâmica do 301 é fantástica, quase selvagem. A música tem vida, ritmo e abertura. As vozes têm um corpo e uma espessura única, devido ao braço separado do suporte do prato. A ausência de rigor e precisão (devido entre outras, às tolerâncias largas de fabrico) produz um som aveludado nas vozes, e nos saxofones que não existem em nenhum outro.
O 301 transforma a ausência de precisão e rigor, num som humano que enfeitiça o auditor.
É um dos raros gira-discos que marca o som da mesma maneira, qualquer que seja o braço, célula, ou phono associados.
Em resumo, o G301 brilha pela dinâmica e pela vida que confere à música, a subtileza e a elegância. A precisão deixa-a aos outros colegas que a fazem melhor.
Um gira-discos de raça, um pouco "rock", que quando se ama não há equivalente. Um mito legítimo que continua a perturbar os sentidos...
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