Mergulho em aguas turvas

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Mergulho em aguas turvas


No começo da década de sessenta o mundo do HI-FI é límpido como agua. A EMT reina no mundo profissional, o TD 124 é a maior máquina deste planeta, e os Garrard 301 continuam a ser vendidos em Inglaterra e enviados para os Estados unidos e os outros países do "Commonwealth" Canadá, Austrália, Nova-Zelândia e Ásia.

A Lenco e outras marcas que estão a nascer como a Transcriptor, no momento são incapazes de modificar a hierarquia estabelecida. Mas esta situação não vai durar e a água vai turvar-se rapidamente.

Vamos perceber em três fases como o futuro vai mudar radicalmente.


1960 / 1963


A pesar do que se diz, a época dos gira-discos de roldana "idler drive", está a chegar ao fim. Dois acontecimentos são os responsáveis por isso: Em primeiro lugar o aparecimento em meados dos anos cinquenta do micro sulco "microgroove", que possui graças aos novos diamantes muito menos fricção de leitura que os 78rpm antigos, e em segundo o surgimento da prensagem estéreo no fim dos anos cinquenta, que obriga a ler dois micro sulcos, e para a qual o rumble e a modificação do anglo horizontal e vertical de leitura é um grande problema.

As tracções a roldana e os potentes motores associados já não são obrigatórios, e as marcas podem começar a pensar nas tecnologias do futuro.

A Thorens trabalha num projecto novo, e a tracção por correia (e motor síncrono de pouca potência) já é utilizada por algumas marcas. Mas uma novidade inesperada e incómoda chega dos estados unidos.

Uma marca desconhecida comercializa o primeiro gira-discos a correia e suspensão mole (contraplaca suspendida) do mundo. Trata-se do Acoustic Research XA.


Foto do Acoustic Research XA




1963 / 1966


A equipa de pesquisa da Thorens em St Croix está furiosa, este gira-discos americano é a cópia (em linhas gerais) do projecto deles. O que se passou? Pesquisa paralela, bom sentido comum, plágio ou verdadeiro roubo?, nunca se saberá, ainda por cima a Thorens tem vários problemas internos a resolver (são problemas de rico mas, são problemas na mesma).

Já há algum tempo que a EMT anda a piscar o olho aos americanos, porquê? Porque os americanos compram os TD124 como papo-secos, e no mercado americano é impossível vender um sistema com um McIntosh, Marantz ou Harman Kardon, sem que não haja um 124 (80% da produção será consumida pelos EUA).

Mesmo no domínio profissional o 124 esmaga o venerável Rek o Cut e os Garrard. A grande instituição de sua majestade a BBC, acaba de comprar 15, e a Decca London mais quatro. A EMT teme que a Thorens se lance no domínio profissional o que seria o fim deles (a questão não é a qualidade, é que nesta época a lembrança da grande guerra ainda está viva e que a EMT sabe que os países aliados (para qualidade igual), vão preferir comprar um produto Suíço em vez de um Alemão).

A EMT quer casar-se com a Thorens, mas qual é o interesse dos Suíços?

O interesse da Thorens é diferente mas é grande. A realidade é que a firma de St Croix é muito pequena. Mesmo se o TD124 propulsou o nome da Thorens até ao céu, o gira-discos é caro a produzir (todas as peças são sob medida), é de construção cara, (muitos ajustes finos), e é pouco produzido (um 124 contra mais de dez G301), e o que eles ganham em prestígio, perdem em dinheiro com o TD124.

A estrutura industrial da EMT pode ajudá-los a resolver esses problemas, e a produzir novos modelos.

Em 1965 a firma de St Croix faz sensação de novo ao apresentar o modelo definitivo do protótipo, trata-se do TD150. Este aparelho vai escrever de novo o futuro e o prestígio da Thorens no mármore. Mas também vai ser o fim da firma no firmamento do HI-FI.

O TD124 nunca poderá ser copiado nem ultrapassado, o TD150 vai ser copiado até aos dias de hoje, e melhor que o original (às vezes), mas paciência.

A Garrard reage parando a produção do G301 (snif, snif), que se transforma no G401, mais moderno no estilo, mas que vai ser muito mal recebido, no entanto será produzido até 1977 (50000 unidades).


Foto do Thorens TD150


Em 1966 a Thorens casa-se com a EMT, decide transformar o TD124 em MKII, e algumas peças vão ser feitas na fábrica comum da floresta negra na Baviéra (RFA).


1966 /1970


A pesar de tudo o que se passa, o sucesso do TD124MKII não se desmente, bem pelo contrário. A Bang&Olufsen e a Tandberg firmam um acordo com a Thorens para estampilhá-lo com nome deles com uma base diferente. Em 1968 o gira-discos deixa definitivamente de ser produzido e o TD125 toma o lugar dele. Entretanto o pequeno TD150 é um sucesso. Custa 4 vezes menos todo equipado que o 124, e soa muito bem.

É fabricado com inspiração e qualidade, e o seu nível de rumble de -68 dB é espectacular. Mas a Thorens, misturada com a EMT, perdeu o senso do génio, embusteou-se e vai pagar caro a arrogância.

O TD150 está no espírito de todos os « designeres » como sendo o futuro, e todos o tentam compreender e fazer melhor.

Em 1970, Hamish Robertson um designer inglês um pouco alcoólico (como muitos génios no reino de sua majestade), desenhou um gira-discos que é a versão última do TD150. Compreendeu o que a Thorens/EMT não quis (ou não pode ver). Utilizar um eixo tecnicamente ao nível do TD124, acompanhado de materiais para a contraplaca de muito alta qualidade.

Um jovem escocês apresenta ao HR o seu pai que tem uma firma de torneio de peças de precisão (a Castle Precision Engineering). Isto vai possibilitar à firma Ariston do HR produzir um gira-discos a contraplaca suspendida de muito alta qualidade, trata-se do Ariston RD11 (RD = référence deck / 11 = primeiro modelo da primeira série) que é uma maravilha esquecida.


Foto do Ariston RD11


Dois anos mais tarde esse jovem escocês que se chamava Ivor Tienfenbrun vai criar a fotocópia (quase perfeita) do RD11 com o seu próprio nome. É o gira-discos mais vendido e mais controverso do mundo, pois é adulado ou detestado.

Trata-se do LINN LP12 que será o nosso próximo Gira-discos a ser analisado.

O Hamish Robertson abandonou a Ariston e morreu um ano mais tarde em condições desconhecidas, suicídio ou assassinato.

Para a eternidade, o pai legítimo do "tipo LP12" será o Ivor Tienfenbrun e a LINN.



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