O REGA Planar 2 - A vitória da simplicidade
A Rega foi fundada no mesmo ano em que saiu o LINN LP12, ou seja em 1973. O primeiro gira-discos chamava-se Planet e era uma espécie de protótipo dos modelos futuros.
Em 1975 a marca apresenta o Planar 2, um novo ícone Inglês acabava de nascer, vamos perceber porquê.
Panorama
Em 1975 o Garrard 401 ainda é produzido (e será até 1977), o LP12 é aclamado pela imprensa e vende-se muito bem, mas o mundo do HI-FI já não é o mesmo.
Desde o início da década, o HI-FI Japonês entrou em massa no mercado ocidental. Os preços são mais baixos, e a qualidade visível é superior à dos aparelhos ocidentais.
Os novos construtores têm de ser engenhosos para conciliar qualidade, estética e baixo preço (ainda hoje esse problema existe).
Tony RElph e Roy GAndy compreenderam, que havia lugar para um produto de qualidade, simples, bonito, original e soando bem. O Tony Relph, simplificou tudo o que era possível num gira-discos, e o resultado é um novo aparelho, de um novo tipo, o REGA Planar 2.
O REGA Planar 2 - Apresentação
O Planar 2 é uma prancha de madeira, com um motor, um prato de vidro e um braço. Há também três pés e um interruptor.
Visto assim ninguém compreende o porquê desta análise. Mas o REGA é muito mais que isso no detalhe. A prancha é feita de uma espécie de aglomerado de madeira, lacado nas duas faces com uma folha de resina fenólica (do tipo fórmica) muito dura e resistente. Esta técnica possibilita à prancha (corpo) ter uma grande rigidez e uma boa resistência à torção por um preço baixo.
Visto que o critério preço/simplicidade não permite suspender o gira-discos, o Tony Relph opta por suspender o motor! E de uma maneira genial, pois vai utilizar uma correia idêntica à do gira-discos para sustentar elasticamente o motor. Simples, eficaz, barato e engenhoso.
O eixo industrial é de uma precisão média, mas a qualidade do prato é boa. Não existe nenhuma peça mecânica visível e solta, para além da chumaceira e a polia do motor. O prato em vidro de 8/10mm (fácil de fabricar e liso naturalmente) apoia num sub prato em plástico nervurado que amortece as ressonâncias do vidro.
Um tapete de feltro impede o contacto directo do vidro com os discos. Mas um detalhe salta aos olhos de toda a gente, é o braço. Muito bem fabricado para um gira-discos tão simples e modesto de aparência (o braço de precisão RB200 é fabricado no Japão pela Jelco).
Isto é a assinatura da REGA, até hoje, pois os braços da marca são muito bons, alguns são mesmo excelentes e utilizados por muitos construtores reputados.
Com esta análise compreende-se que o Planar 2 não é um brinquedo e que isto pode fazer música...
O REGA é a evolução (ideológica) do Garrard 301, ou seja, o pragmatismo Inglês, a simplicidade e a malícia inventiva.
Se permitem a comparação, o G301 é um cosido à portuguesa, o Planar 2 é uma salada de tomates. Um é bom no inverno com um tinto e o outro no Verão com um Rosado fresco, mas são verdadeiramente as faces opostas de uma mesma moeda… Um é um grande gira-discos, o outro é um pequeno gira, mas um grande produto.
Vantagens
Musicalmente, fora o braço não há muito a dizer. A massa pequena e a construção média, não lhe permite competir e ter vantagens em relação aos outros modelos já citados. Mas a sua simplicidade, a ausência de ajustes e a fiabilidade são pontos positivos.
Inconvenientes
O pequeno peso do Planar 2, e a ausência de suspensão, faz com que ele seja muito sensível às vibrações. É preferível metê-lo num móvel de parede que num móvel de chão, com os outros aparelhos. O motor pouco potente pode vibrar no arranque, é preferível ajudá-lo rodando o prato à mão.
Escuta
A principal qualidade do Planar 2 é a leveza. O som é limpo, audível, com uma boa dinâmica nos médios. A banda é curta no grave, mas apresenta uma fineza inesperada nos agudos. A qualidade do braço RB200 é a grande causa disto. Finalmente, é um gira-discos simpático, com um som de qualidade e que privilegia a luz, a vida e a frescura.
Não é um grande gira-discos intelectual, mas não foi feito para isso.
O REGA não faz tudo, mas o que faz, é bem feito e de uma maneira muito pessoal. Para sobreviver 33 anos, esta última qualidade é essencial.
Nota final
As fotos foram feitas pelo autor, e são as do Planar 2 dos anos setenta que foi emprestado para fazer esta crónica.
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