Roksan XERXES - A revolução delicada

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Revolução delicada
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O Roksan XERXES - A revolução delicada


1983. A técnica de isolamento vibratório por suspensão mole (contraplaca ou placa suspendida) acaba de festejar os seus 20 anos de existência desde o nascimento do Acoustic Research XA. Muitos gira-discos (quase todos) utilizam esta técnica (ou uma derivada) para evitar o terrível rumble. O CD já nasceu, e no espírito de todos, os dias do vinil estão a chegar ao fim.

Mas um homem, em Inglaterra, está convencido que o vinil ainda não se encontra moribundo, e que a técnica de suspensão deve ser completamente redesenhada para evitar os problemas que lhe são próprios.

Já falamos do comportamento aleatório de uma suspensão por molas, que se move nos três eixos espaciais. Esta suspensão tem um movimento como a gelatina, com uma ondulação incoerente e aleatória. A tracção do motor (fixo ao corpo do gira-discos) sobre o sub prato pelo meio da correia, dos micro puxões, e da elasticidade da mesma, agrava enormemente o fenómeno, (o que explica a vantagem dos "idler drive" e mesmo das tábuas do tipo Rega », no ataque da nota e no aspecto imediato, rápido do mesmo sobre os suspendidos).

Parece mesmo impossível conceber que uma técnica com tantos inconvenientes graves, se tenha tornado a norma de fabrico durante tanto tempo. Mas isolando o grupo braço/prato do meio (corpo do gira/suporte/motor), a suspensão permite atingir a leitura dos micro sulcos de uma maneira única, e que só tem como limite as tolerâncias de fabrico.

Dois anos mais tarde, um homem irá conciliar as vantagens, com a ausência de defeitos e fazer uma obra-prima de uma pureza conceptual que só o TD 124 tinha atingido. Chama-se Touraj Moghaddam, é um jovem engenheiro genial, e vai ser o pai de um dos maiores gira-discos contemporâneos, o Roksan XERXES, também chamado no pequeno círculo dos especialistas o Fórmula 1 dos gira-discos.


Foto do Roksan XERXES


É o primeiro a destronar o LINN LP12 no coração dos jornalistas ingleses.


O Roksan XERXES - Apresentação


O XERXES é um gira-discos dito semi multe suspendido, vamos ver em que consistem as múltiplas originalidades e traços de génio desta máquina, que vista de fora é parecida, esteticamente, com um LINN, Thorens, Pink Triangle etc.


Outra foto do Roksan XERXES


O balanço lateral (horizontal) das suspensões é um verdadeiro problema para que as células leiam os sulcos estéreo que como sabem estão gravados nas encostas laterais do sulco. O "Touraj" (vamos dizer TM), vai fixar a placa suspendida só lateralmente (perpendicular ao eixo de tracção do motor) e por quatro parafusos ligados a bolas em borracha agarradas ao fundo do gira-discos. Assim a placa suspendida, em alumínio maciço de 8mm, não funciona em pressão mas em torção. O único movimento possível e livre é vertical.

Mas esta solução genial (que já é meio problema resolvido) não muda quase nada ao problema do motor e da tracção deste sobre o sub prato e os micro puxões mecânicos e elásticos. Não vai montar o motor fixo no corpo (como todos os outros), mas vai montá-lo em equilíbrio num braço fixo num ponto único, permitindo a este de se mover horizontalmente, e detido por uma pequena mola com uma elasticidade inferior à da correia. Genial, agora a cada micro puxão, é o motor que se move e que amortece o fenómeno, a tensão correia sub prato fica constante a todo momento. E o ponto único de fixação motor é ideal para amortecer as vibrações do mesmo.

Como se isto não chegasse, vai isolar o alto do corpo (que contém o motor), do baixo (que contém as bolas de borracha que aguentam a placa do eixo/braço) por meio de 3 suspensões elásticas, de movimento livre nos eixos vertical e horizontal (ajustáveis pelo topo por baixo dos suportes de tampa), estão a perceber a revolução que este gira-discos representa? (tudo é móvel e em eixos determinados, controlados e equilibrados).

Um último ponto que é extremamente original (e controverso) é o eixo. Muito fino e longo, acaba em ponta como o LINN, mas apoia-se sobre uma esfera em volfrâmio que repousa na base da chumaceira. Se o eixo muito longo e muito fino (tolerância de 5 microns) é ideal para reduzir o barulho de fricção, ele diminui a "sagrada" rigidez braço/prato.

O motor de grande qualidade de 24 pólos é alimentado e regulado por uma alimentação exterior muito sofisticada (vários modelos serão disponibilizados com o tempo).

O prato é em alumínio maciço e não em Zamac, com um sub prato/eixo como os outros. O corpo é contraplacado lacado, com um nível de acabamento muito elevado.

O gira-discos só aceita os braços Roksan, LINN ou REGA de overhang próximo. Muitos outros detalhes poderiam ser ditos, mas são menos preponderantes na escuta.

O TM irá desenvolver um braço magnífico (um dos melhores de sempre) e muito original, dois anos mais tarde, para a XERXES. Algumas (muitas na realidade) ideias desse braço serão copiadas pela LINN, SME e outros, para alguns dos respectivos modelos. Esse braço é o ARTEMIZ. A Roksan é até hoje uma das raras firmas a ter desenvolvido internamente, braços e gira-discos de uma qualidade tão equivalente.


Vantagens


O aspecto multi suspendido do XERXES, e a possibilidade de ajustar todos os parâmetros técnicos da suspensão, permite obter o equilíbrio sonoro que se deseja.

Com as suspensões ajustadas duras, o gira-discos soa rápido, potente, franco, quase como os idler ou os rígidos. Com um ajuste mole o XERXES aproxima-se de um som fel trado e envolvente como o LINN mas com uma definição superior, e um veludo inferior. Os ajustes múltiplos, permitem compensar a influência do móvel onde o gira-discos está pousado.

O aparelho é fiável (se bem oleado e seguido regularmente) e muito bem construído. A beleza e a qualidade dos acabamentos fazem dele um belo objecto.


Inconvenientes


Alguns, e todos ligados às vantagens da máquina! Tudo se ajusta num XERXES, mas só há um ajuste ideal. É um verdadeiro Fórmula 1, e é mais fácil de desequilibrar que de ajustar correctamente. Um Artemiz deve ser fixado e mantido a 50Kg de pressão na placa suporte para que a ressonância Primaria (ou baixa) prato/braço seja inferior a 11Hz, para o Tabriz é mais ou menos 38Kg. A placa suspendida deve estar nivelada mas perfeitamente ajustada entre dureza/moleza. A mola do motor tem de ser mantida a uma elasticidade de metade da da correia. Os dois blocos do corpo superior/inferior, devem ficar o mais moles possível para filtrar correctamente. O eixo muito ajustado, deve ser limpo e oleado com regularidade.

Este gira-discos é um quebra-cabeças e um verdadeiro gira para especialistas. Aqui em França deve haver menos de cinco pessoas a saber correctamente afinar esta máquina.

A isto junta-se o facto de a Roksan fazer desde sempre gira-discos de topo de gama e electrónicas de gama média e de entrada. O consumidor não compreende a lógica da empresa. Isto tudo junto explica aqui e no mundo, os maus, e às vezes ilógicos discursos sobre a escuta, o número de lojas que não querem vender este gira-discos, e ou, que não gostam dele.


Escuta


Bem afinado o XERXES é um gira-discos paradoxal, é uma forma de veludo rijo. Acalma o tempo musical (é uma característica própria de todos os grandes gira-discos), e desfasa o tempo horário.

Tudo é diferente, as notas parecem mais ricas nos detalhes, e na fineza do timbre. É um gira-discos que coloca a "carne à volta do osso", e encontra assim um equilíbrio entre matéria e leveza que é único. É a sua principal assinatura. De uma riqueza harmónica e formal que entontece, e pode perturbar mesmo os grandes iniciados, e os habituados.



Nota final

Este capítulo é tão objectivo como os outros. Se o autor escreveu mais, é porque conhece muito bem a máquina, havendo muito a dizer sobre ela, e o contexto Técnico sobre o qual ela nasceu.

Como podem ver numa das fotos, o autor afinou um XERXES 20 + Tabriz ZI + Sumiko Evo III para escrever a análise da escuta. Esta foto tinha servido há uma semana para uma adivinha.

Há dez anos atrás, já tinha escrito um artigo para uma revista audiófila sobre este aparelho. O autor copiou algumas frases, mas copiar-se a si mesmo é copiar?



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