Francisco Igrejas Caeiro

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Companheiros da alegria
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Em 1951, Francisco Igrejas Caeiro aceitou o convite para organizar espetáculos musicais nas cidades e vilas onde terminavam as etapas da volta a Portugal em bicicleta, ao longo das semanas da competição. Os espetáculos eram gravados no local do fim da etapa da volta em ciclismo, enviados de motocicleta ou de comboio para Lisboa e transmitidos em Rádio Clube Português no dia seguinte ou dias subsequentes, com uma grande audiência a somar às enchentes dos espetáculos nos locais onde eles se realizavam. Isso significava organização, transportes e artistas, numa forma de rentabilizar recursos. Em cada concelho onde a volta parasse, o espetáculo constituía a forma de dar a conhecer às pessoas do local os artistas que já ouviam da rádio.

A partir daí, o produtor organizou digressões regulares, usando um pequeno autocarro comprado em segunda mão em França para o transporte da equipa organizadora e dos artistas convidados. Nascia o programa Os Companheiros da Alegria, interrompido em 1954 por determinação política do Estado Novo, quando Caeiro disse, em entrevista a O Norte Desportivo, que o indiano Nehru era o maior estadista internacional da época. A Índia anexaria territórios que Portugal reivindicava como seus (Dadrá e Nagar-Aveli). Mais tarde, integraria igualmente os territórios de Goa, Damão e Diu (1961). A afirmação do produtor de rádio não caiu bem junto dos governantes, tendo o ministro da Presidência, João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), proibido a continuação do seu programa radiopublicitário em diversas partes do país. Francisco Igrejas Caeiro venderia o seu autocarro ao Benfica, o primeiro veículo daquele clube.

O programa continuou em estúdio do Rádio Clube Português, por solicitação do responsável da antena, o major Jorge Botelho Moniz, ao governo, até Marcelo Caetano ser nomeado ministro da Presidência e autorizar o regresso do programa à estrada. Francisco Igrejas Caeiro foi produtor dos diálogos de Zequinha e Lelé e gestor do teatro Maria Matos. Após 1974, foi deputado e dirigente da rádio pública.

(Rogério Santos, 2014, Sempre no Ar Sempre Consigo, 1941-1968. Lisboa: Colibri)