

Júlio Guimarães, locutor ligado a estações portuenses, contava uma história bonita sobre as senhoras que o ouviam (e aos tangos que cantava): “Um sujeito a cantar e a falar e a meter aqueles discos com títulos carregados de sentimento e palavras de amor que cobra. Não caíam para o chão, não desmaiavam. Levavam-me flores, um bolinho de vez em quando para comer, dádivas. Gostava que me levassem coisas de comer porque o dinheiro não me sobrava. Uma coisa que não deixo de dizer em desfavor de mim próprio mas corresponde à verdade: é que elas encantavam-se com aquele rapaz que falava e cantava razoavelmente mas quando olhavam para mim diziam «ah, você é que é aquele»? Como quem diz: o original não corresponde aos elementos recebidos. Esperavam que fosse um homem alto, louro, de olhos azuis, e saiu um tarreco de 1,69, feinho. Havia um primeiro impacto que me era desfavorável. Depois, tinha de vencer essa onda com o meu poder de comunicação e aí era forte” (entrevista editada na RDP em 1993).
A fotografia foi publicada em 24 de março de 1940 e o desenho em 18 de setembro de 1947, as duas na revista Rádio Nacional. Uma representa a produção e a outra a receção. Ambas podem ver-se como caricatura. Num tempo em que não havia televisão, mostrar a imagem de um tenente acompanhado pela pianista, com aquele a fazer exercício com gravata e camisa de manga comprida, não podia ser levada muito a sério. Encenação, concluo. Era o ano dos centenários e a ginástica – como assim se chamava – parecia elemento identificador do regime político. O desenho de 1947 é verdadeiramente uma paródia. Até o gato faz exercício e o quadro na parede acompanha este esforço físico.