A EVOLUÇÃO DAS EMISSÕES
Em finais de Abril de 1925, cabia a vez a Jácome Dias, o patrão da loja ”Rádio-Lisboa”, de instalar um posto emissor, com o indicativo P1AC, passando a fazer ensaios em telefonia. Organizou também emissões de rádio-concertos, que se puderam ouvir por altifalante a 400 quilómetros de distância, com 50 watts. Todas estas emissões eram feitas num comprimento de onda de 250 metros.
Num domingo, 3 de Maio de 1925, a partir das 21:30, deu início a um programa ao vivo, com a presença de um quarteto
próprio da
emissora:(1)
Lê Calife de Bagdad, ouverture pelo quarteto Sansão e Dalíla, de Saint-Saens;
Selecção, pelo quarteto Madrigal, de Drdla, solo de violino, por Américo Santos;
Vissi d’arte, da Tosca, de Puccini, cantada por madame Agathe Baretti;
Cavatina de Raff, solo de violino, por Américo Santos;
Fados à guitarra, por um distinto amador;
Liebeslied, de Kraissler, solo de violino, por ; Américo Santos;
Barcarola, de Rackmaninoff, solo de piano, M por Luís Alagarim;
Flor de Outono, de Popper, solo de , violoncelo, por Filipe Loriente;
Fados à guitarra, por um distinto amador;
Euphigénie, de Gluck-Wagner, ouverture, pelo quarteto Manon, de Massenet, por madame Agathe r Baretti
As experiências duraram, contudo, pouco tempo. A 7 de Maio de 1925, quatro dias depois do primeiro concerto de P1AC, a polícia, através de ordem da Administração-Geral dos Correios e Telégrafos, selava cinco postos emissores de telefonia sem fios: P1AA, de Abílio Nunes dos Santos Júnior, P1AB, de José Joaquim de Sousa Dias Melo, P1AC, de Eduardo Dias, P1AE, do engs tenente Eugênio d’Avillez, e P8AM, de Maurice Mussche. A origem estaria na suspeita do envio de notícias para o estrangeiro de acontecimentos políticos recentes através desses emissores. Mas a razão oficial foi a inexistência de legislação para radiodifusão. A sanção seria levantada quase dois meses depois, a 2 de Junho de 1925; com os esforços da Sociedade Portuguesa dos Amadores de TSF, a polícia política retirava os selos colocados nos postos emissores particulares.
Depois, o movimento das rádios em Portugal conheceu uma expansão notável. Entre 1925 e 1928, transmitiram-se concertos de música gravada (grafonola) e de bandas militares. No ano seguinte, vários factores contribuiram para o nascimento da radiodifusão profissional:
Exposição de Dezembro, com a presença de Carmona na inauguração, concertos de CT1AA ouvidos no certame, saída das revistas RádioCiência em Abril e Rádio-Programa em Outubro, e empenho do ministro do Comércio, Antunes Guimarães, na regulamentação daradiodifusão.
As alocuções da campanha do Trigo, a partir de Novembro de 1929, despertariam um maior interesse político pelo meio.
No Porto, uma emissora que iniciou a sua actividade foi a Rádio-Porto,)2) no inverno de 1926, com um pequeno posto. O seu grito de chamada era ”Daqui SPIL - Rádio-Porto”.
Em Outubro do ano seguinte, fazia a inauguração oficial de um novo estúdio. O grito de chamada passou para ”Daqui PRP 1 Rádio-Porto”.
Por sua vez, a Sonora Rádio começava a trabalhar com 1 KW,(3) tendo recebido cartas de cidades no sul de Espanha, confirmando a boa recepção da estação naqueles locais, bem como ”cartas e bilhetes postais de todos os pontos do país”.
Traçava-se o caminho para a profissionalização da rádio e o aparecimento de estações mais poderosas e organizadas. Anunciou-se o nascimento da Emissora Nacional, que emitiu experimentalmente a partir de 1933 e, oficialmente, em 1935.
Despontava outra figura emblemática da rádio, Jorge Botelho Moniz, com o CT1GL, mais conhecido por Rádio Clube Português. Para além desta estação, nascia outra grande estação, a Rádio Renascença.
As rádios amadoras experimentais de finais dos anos 20 desapareceram ou agruparam-se em torno de uma frequência única, repartindo os horários de emissão entre si, como os Emissores Associados de Lisboa e os Emissores do Norte Reunidos (Porto).
Referências:
(1) ”Henrique Queiroz (1925) ”Os concertos radiofónicos da casa Rádio-Lisboa” Rádio-Lisboa Magazine, n.9 9, Junho, p. 4.
(2) ”Rádio-Porto - o seu desenvolvimento” (1930). RádioCiêncía, n.e 12, Abril, pp. 301-304.
(3) ”R. Beça (1932). A rádio no Porto”. Rádio-Ciência, n.a 35, Março, p. 262.
Este artigo é uma cortesia de Rogério Santos para "A MINHARADIO"