Em Maio de 1951, o Jornal Diário do Norte, organizava, como habitualmente, a Volta a Portugal em Bicicleta.
Este matotino nortenho entra em contacto com Igrejas Caeiro, convidando-o a organizar um espectáculo no final de cada etapa.
Inícialmente Igrejas Caeiro recusou, mas dado à insistência por parte do jornal, este acabou por ceder e logo iníciou a estruturação da digressão.
A descrição que se segue é do próprio Igrejas Caeiro, publicada no livro"Telefonia" de Matos Maia:
«Contactei o RCP para comprar espaço para uma emissão diária a partir das 22 horas. Programei tudo para um mês, dado que tinha pensado o concurso "À Procura de Uma Estrela", seleccionando um concorrente em cada etapa, que estaria na final em Vila do Conde, com o prémio de oito dias de estada, naquela localidade, com tudo pago.
Verifiquei ser mais vantajoso, em vez de alugar transporte, comprar um pequeno autocarro, que foi encomendado à Renault, pensando que terminada a tormé facilmente o venderia.
Contactei dois excelentes técnicos, o Álvaro Espírito Santo e o Ribas. E reuni um elenco muito popular de bons artistas e organizei um conjunto musical. Eu próprio com a Irene fomos a França para trazer o autocarro e ter a certeza de que estaria pronto para 11 de Agosto de 1951.
A Volta começou no Porto onde fizemos a estreia de Os Companheiros da Alegria, no Cinema Carlos Alberto. Recorda-se que foi nesta Volta que o Alves Barbosa teve o seu primeiro triunfo. Os artistas fundadores foram Belita, Guilherme Kjoiner, Luiz Horta, Luiz Piçarra, que veio propositadamente de Paris, Maria Amélia Marques, Maria Odete Coutinho, Maria de Lurdes Resende, Maria Pereira, Mimi Gaspar e um quinteto constituído pelo professor Arnaldo Silvério, Francisco Carvalhinho, João Aleixo, Luiz Vilar e o professor Martinho da Assunção.
A música e os versos de apresentação d'Os Companheiros da Alegria ainda hoje são lembrados e muita gente me saúda repetindo: "Uma nota de quinhentos não se pode deitar fora."
Alguns nomes de colaboradores literários: Manuela de Azevedo, Olavo D'Eça Leal, Mário Castrim, Manuel Mendes, Francisco Mata, Ferro Rodrigues, Santos Fernando, Nelson de Barros, Aníbal Nazaré, Artur Varatojo, Mário Domingues, Vasco Lemos Mourisca.
Os Companheiros da Alegria terminam com a inauguração do Teatro Maria Matos, em Novembro de 1969
Pode dizer-se que Os Companheiros da Alegria passaram a ter tanto ou mais interesse que a Volta a Portugal.
Quando se realizaram as finais em Vila do Conde, perante milhares e milhares de pessoas no enorme recinto do mercado local, existiam já dezenas de pedidos de espectáculos de todos os pontos do País e foi assim que nunca mais parou o entusiasmo pelo programa, muito solicitado para actuações a favor de obras de solidariedade. Os concursos atraíam as multidões. Todos ambicionavam ir ao palco para "Tem um Minuto para Mostrar o que Vale", "À Procura de Uma Estrela", "Adivinhe se É Capaz", "À Conquista da Felicidade", "Antes que Cases Vê o que Fazes", "Palavras Escusadas", "Onde Está o Gato", "O Tempo éDinheiro", "Não Casa quem Quer", "Pelo Andar da Carruagem", "O Maestro É Você".
Alguns concursos apelavam aos conhecimentos e ao discernimento dos concorrentes; outros constituíam motivo de permanente gargalhada: "A Dança da Batata", "A Prova do Esparguete", "O Rei dos Bebedores de Cerveja por Biberão", "A Dança das Cadeiras"; outros ainda apontavam para circunstâncias pessoais que permitiam a conversa com os concorrentes e motivo de muitos prémios. Lembram-se: "Os Gémeos mais Iguais". O casal mais antigo e o mais recente (muitos procuravam aparecer mesmo no dia do casamento): "O Dia de Aniversário", "A Prova das Farófias".
A continuidade dos espectáculos e a transmissão diária pelo Rádio Clube Português exigiam acrescentar o elenco e passaram a ser também companheiros: Eugenia
Lima, Fausto Caldeira, Maria Adelaide, João Armando, Luiz Guilherme, As Três Marias, António Baião, Manuel Fernandes, Mena Matos, Os Boémios do Ritmo.
Com agrado geral, passaram a ser frequentemente utilizados os elementos seleccionados nas várias finais regionais:
António Alvarinho, Ana Dolores, Júlio José, Bertine Branco, Alcino Soares, José Afonso, Dilma Melo, Virgínio Monginho, Carronda Mendes, Carlos Santos,
Armando Cardona, Ulisses Fernando, Fernando Almeida, Artur Borralho, Alberto Ramos, Os Dois Odemira (mais tarde Trio Odemira), Helena Maria, Maria Pais,
Maria Emília Fernandes, Lisete Costa, Diná Luísa, Honorato de Sousa, Arménio Pedro, João José Lopes, Mariano Calado, notável poeta e excelente recitador,
Maria Guiomar (jovem acordeonista), Lídia Ribeiro.
Do quinteto musical passou-se à Grande Orquestra dirigida por Ferrer Trindade.
Para a segunda série do concurso "À Procura de Uma Estrela" foram percorridas todas as ilhas dos Açores e da Madeira.
Passaram a incluir-se momentos de teatro com os episódios da "Família Alegria", originais de Ferro Rodrigues e Santos Fernando e sempre num crescendo de popularidade.
Foi encomendado um grande autocarro para cinquenta lugares, apetrechado com cozinha e casa de banho.
Nos finais de 1953, decidi alugar o Teatro da Trindade, com promessa de compra, com o objectivo de aproveitar o êxito d'Os Companheiros da Alegria para criar uma companhia de teatro, dispensando quaisquer subsídios estatais.
O poder de atracção do espectáculo radiopublicitário ia ser o apoio ao espectáculo teatral. Contratou-se a companhia e simultaneamente preparava-se a grande surpresa: pela primeira vez o elenco artístico d'os Companheiros da Alegria ia apresentar-se numa opereta cómica para o Carnaval de 1954, escrita por Ferro Rodrigues e Santos Fernando, com música de Ferrer Trindade.
Com as lotações esgotadas para todos os espectáculos de Entrudo e já com grandes marcações para os dias seguintes, tudo se encaminhava para um êxito clamoroso, quando surge o histórico e malfadado despacho ministerial do professor Costa Leite proibindo-me de trabalhar e impedindo, não só os espectáculos, como toda a actividade que dependesse da Inspecção dos Espectáculos. Tudo isto por ter dito, numa entrevista concedida ao jornalista Rolo Duarte, para o jornal Norte Desportivo, em 11 de Fevereiro, que o pandita Nehru era o maior estadista da nossa geração.
Foi um momento inesquecível de revolta e profunda tristeza não apenas de todo o grupo. Milhares de entusiastas dos nossos programas e principalmente das centenas dos que se apresentavam no Trindade para os espectáculos para que haviam adquirido bilhetes. Muitos recusavam o reembolso do que haviam despendido, em tocantes gestos de solidariedade perante esta prepotência e mesquinhez do regime autoritário e persecutório.
Não chegámos a estrear o famoso autocarro que acabou por ser entregue ao Sport Lisboa e Benfica.
Graças ao major Jorge Botelho Moniz foi possível continuar, como produtor independente, no Rádio Clube Português, transformando Os Companheiros da Alegria num programa de cabina.
Surgiram então algumas rubricas de variado leque, atingindo os mais diversos gostos dos radiouvintes. Alguns títulos:"
"O Perfil de Um Artista", "O Casal Caeiro Dá-lhe Uma Ajuda", "Ensaio Geral", "O Casal Caeiro Conversa com o Companheiro Ouvinte Acerca de Literatura", "O Parque Infantil", "As
Mais Belas Histórias de Amor", "A Família Alegria", os diálogos de Olavo D'Eça Leal , "A Lelé e o Zequinha", "Lições de História Universal".»