RARET - RADIO AMERICAN RETRANSMISSION
Breves notas
Perdida na planície, a 70 km de Lisboa, há uma aldeia, quase desconhecida, que assumiu um papel preponderante na Guerra Fria: Glória do Ribatejo.
As suas tradições centenárias mantêm-se vivas não só na memória como no quotidiano do povo gloriano que orgulhosamente as perpetua, porque desse mesmo orgulho nasceu a sua identidade.
Este povo isolado, tendencialmente temeroso, viu-se invadido pela rivalidade de Blocos que nem sabia existir.
No início dos anos 50 foi construído na Glória do Ribatejo um centro retransmissor em onda curta da Rádio Europa Livre (RARET), que transmitia para os países do Leste europeu o American Way of Life.
Abrindo a Glória ao mundo e ao desenvolvimento, a RARET constituiu um marco na história da aldeia (hoje, vila) que contactou com novas gentes e com um nível de vida muito superior.
A 4 de Julho de 1951 foi emitida a primeira transmissão da Rádio Liberdade com destino aos países do Leste Europeu, para os “informar acerca da sua realidade”, numa acção de contra-propaganda norte-americana ao regime soviético.
A partir de um transmissor instalado no lendário camião de campanha estado-unidense, o “Bárbara”, se emitiam as gravações vindas dos estúdios de Munique, em Glória do Ribatejo.
Assim nasceu a RARET – o maior complexo de rádio-retransmissão do período da Guerra Fria, contrastando na majestade de suas antenas com a pobreza de um mundo rural temeroso, perdido entre a Lezíria e a charneca ribatejanas.
No final da década de 80 e início de 90, o colapso da União Soviética e do “seu” Bloco de Leste, ditaram o fim da RARET na Glória do Ribatejo.
Texto e fotos: Roberto Caneira