O que é preciso para restaurar um rádio

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O QUE É PRECISO PARA RESTAURAR UM RÁDIO....?


Receptor: AGA BALTIC 332
Ano de fabrico: 1943
Restaurado por: Júlio Branco


Rádio AGA BALTIC 332, tal como foi encontrado



Introdução

Nunca trabalhei em madeira, nem tinha lido nada sobre como se trabalha. Não sabia o que era uma plaina, uma goiva, um arco pua, um formão, etc., etc..

Um dia senti necessidade de aprender a trabalhar a madeira, por um episódio que se passou comigo, e que me tocou no “fundo”: Num dos exercícios físicos que faço pela manhã na minha Aldeia, ao passar por um contentor de lixo, reparei que ao lado dele jazia um rádio no chão “moribundo” e pareceu-me ouvi-lo a pedir-me socorro.

Então olhei para ele..... pensei...pensei.... e decidi transportá-lo para casa.


Outra imagem do rádio tal como foi encontrado


Mas estava com um dilema, como ressuscitá-lo? Na electrónica não haveria problema, mas a caixa? Estava partida, não tinha o tampo de cima, era forrada em folha de madeira de cerejeira..... e como recuperá-la?.

Então adquiri uns livros sobre a técnica de trabalhar a madeira, as ferramentas indispensáveis, e outros livros sobre restauração de madeiras antigas, acabamentos etc..

Depois de umas leituras e auto estudo, (tenho um pouco de auto didacta), pus-me a fazer ensaios em retalhos de madeira que ia encontrando, ao pé dos caixotes do lixo que as pessoas colocam lá para serem removidos pela Câmara, e assim fui praticando e aperfeiçoando os meus conhecimentos e também gosto pela madeira.

Durante este período não me esquecia do meu rádio “moribundo”, de marca AGA, cujo fabricante era sediado na Suécia, e como tal, ia tomando atenção a esses restos mortais de mobílias depositados ao lado dos contentores, se havia alguma madeira com o padrão da do meu doentinho.

Até que um dia encontrei um móvel, uma espécie de sapateira, muito mal tratada, que me pareceu ser do mesmo padrão e da mesma origem, ou seja de cerejeira, também forrada em folha, depois de analisá-la melhor, retirei umas peças que me pareciam estar em melhor estado de conservação, levei para casa. Com muito cuidado lixei, até ao osso, como se costuma dizer na gíria da marcenaria, até isto aprendi, fiz o mesmo num dos lados do meu enfermo, comparei-os, pareceu-me que eram iguais, mas só depois de dar uma aguada de bioxene e um verniz incolor sintético acetinado em ambos os ensaios, é que confirmei que era igual até parecia ser uma folha de madeira do mesmo ano e da mesma árvore. Bem podem calcular como eu fiquei depois daqueles ensaios.


O restauro

Agora havia que arregaçar as mangas, cortar a madeira para fazer o tampo de modo a enquadrá-lo com o padrão do resto da caixa. Trabalhei-a cortando-a à medida, nos bordos afaguei, depois do corte, a 45 graus, fiz um rasgo à volta para assentar e encaixar e colar com maior segurança.

Depois de o tampo estar fixado, seguiu-se a preparação da caixa para o acabamento final. Reforcei toda a caixa por dentro com pequenos retalhos de madeira, colando-os com cola apropriada, depois de bem seca, testei a caixa para ver se estava bem firme, se não “gingava”, o que não aconteceu.

Então já podia passar a lixa em toda a caixa até ao “osso” e ter o cuidado de não danificar a folha com que a caixa estava ornamentada, para retirar todo o verniz velho. Dei uma aguada em toda ela com bioxene, pré preparado para lhe dar a cor que eu julguei ser o aproximado da cor original, (tinha uma foto, retirada da Net), deixei secar muito bem e num ambiente sem humidade, (aprendi nos livros), de seguida dei várias demãos com intervalos de uma semana, com verniz acetinado e incolor sintético, e está aqui o resultado.


Rádio visto por trás


Este é o rádio depois de restaurado.


Rádio AGA BALTIC 332, depois de restaurado


Outra imagem do rádio, depois de restaurado


Quanto à parte electrónica, só tinha uma válvula, (UBF11), todas as outras tive de as adquirir através da Net, num site alemão. Também tinha o transformador de saída, queimado, mandei-o bobinar, substitui alguns componentes, tais como, condensadores electrolíticos, condensadores de papel, ainda do meu velho stock quando era jovem e algumas resistências, e lá está a trabalhar como se fosse novo e todo vaidoso. O altifalante tinha a bobine colada ao núcleo magnético devido à ferrugem, teve de levar um cone novo.

É esta uma das histórias do coleccionador de rádios a válvulas Júlio Branco. Pode saber mais sobre a sua colecção no Agregador de coleccionadores e saber também se Seria o rádio que me marcou o futuro?


Comentários

Fantástico, parabéns. Não somente refizeste o rádio, acrescentaste mais conhecimento a sua vida.