A rádio em África (8)

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Partindo da investigação desenvolvida por Graham Mytton, eu defendo a existência de quatro fases distintas no desenvolvimento da rádio em África. A primeira foi a do período colonial, quando a rádio serviu os colonos e os interesses das potências coloniais. Todo o continente ao sul do Saara, exceto Libéria e Etiópia, foi colonizado pelas potências europeias: França, Grã-Bretanha, Espanha, Bélgica, Itália, Alemanha e Portugal. No final da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha perdera as colónias africanas e a sua administração assumida por França, Grã-Bretanha e Bélgica; a partir de 1937-1938, a Alemanha começou a reivindicar o regresso a essa posse. Após a Segunda Guerra Mundial, a expansão das rádios na maioria das colónias africanas seguiu a política oficial britânica, na perspetiva paternalista de os serviços de rádio servirem para educar e informar os ouvintes africanos.

A terceira fase inicia-se na década de 1960, quando a maioria das colónias africanas conquistou a sua independência. Então, todos os territórios tinham serviços de radiodifusão e os empregados das estações adquiriam o estatuto de funcionários públicos ou com relação ao aparelho de Estado. Sem exceção, os novos governos africanos mantiveram por mais trinta anos o monopólio da radiodifusão estabelecido pelas autoridades coloniais. A fase mais recente é a da abertura dos países à radiodifusão privada e em concorrência com as estações públicas.

Mytton assinala dois modelos essenciais na emissão doméstica das potências europeias, monopólios à época. O mais conhecido é o do serviço público independente britânico da British Broadcasting Corporation (BBC). Um exemplo foi o que referi quanto à África do Sul: após experiências privadas, que resultaram em falências, a organização instalada foi uma cópia da estrutura da BBC. O outro modelo dominante na África colonial foi o francês. Enquanto nos territórios britânicos a mudança esteve na emissão em línguas africanas, para atingir o maior público possível, as emissões nos territórios franceses mantiveram-se durante muito tempo na língua da metrópole. Nas colónias francesas, a centralização e direção partiam de Paris, por meio da Société de Radio-Diffusion de la France d’Outre-Mer (SORAFOM). Tal ocorreu no Mali, Costa do Marfim, Níger, Chade, Gabão ou Senegal, este último caso ilustrado na tese de doutoramento de Bocar Niang, defendida em 2020. A rádio colonial francesa apontaria para legitimação, propaganda, educação e desenvolvimento.

Mytton defendeu dois submodelos, o da Nigéria, atendendo à federação de Estados que constitui o país, e o das colónias portuguesas. Mas ele não dá muitas indicações sobre estes submodelos. A minha proposta é analisar a situação das colónias portuguesas, a partir da investigação já feita, nomeadamente no interior do projeto de investigação BiPE – e onde se demonstra que não há total comparabilidade na radiodifusão em Angola ou Moçambique ou Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau).

Graham Mytton trabalhou na imprensa e na rádio na Tanzânia, na Zâmbia e no Reino Unido. Atualmente, é consultor independente dos media. O seu livro “Mass Communication in Africa” data de 1983.

(imagens retiradas da internet referentes a Senegal, Mali e Costa de Marfim)