Versão textual do áudio
Nota: Esta conversão foi feita utilizando inteligência artificial e, como tal, pode conter alguns erros.
Bem-vindos.
Hoje vamos fazer aqui uma análise aprofundada às origens da emissora nacional, a E.N.
Aquela voz oficial do Estado Português durante...
Bem, durante décadas.
Exato.
E vamos usar investigações sobre a história da rádio em Portugal para tentar perceber como é que ela nasceu, o que é que passava e, claro, como refletiu a época.
A missão é mesmo essa, desvendar os primórdios.
Então vamos lá.
As emissões mais a sério, digamos, arrancam em 1934.
Ainda numa fase um bocadinho experimental.
Como é que soava a EN. nesses tempos?
Olha, o som era sobretudo musical.
A emissão era mais ao serão, ali entre as oito da noite e pouco depois da meia-noite.
Ok.
E o destaque era, sim, música erudita, música ligeira e, claro, fado não podia faltar.
O fado sempre presente.
Sempre.
E havia um interesse particular na música popular de raiz rural, mas com uma condição.
Qual?
Tinha de ser considerada rigorosamente folclórica.
Isto encaixada na política nacionalista da altura, não é?
Que andava à procura de expressões autênticas da identidade nacional.
Música com uma agenda, portanto.
Mas não era só música, pois não?
Imagino que houvesse mais qualquer coisa.
Não, claro que não.
Desde a primeira hora houve também programação infantil.
Coisas como o Senhor Doutor.
Ah, sim.
E o Meia Hora de Recreio.
Esse vinha da equipa do jornal O Papagaio, do Adolfo Simões Muller.
Que interessante.
E tinham que objetivo?
Tinham um lado recreativo, claro, mas também educativo.
Procuravam fomentar a tal consciência cívica.
E, olha, a própria organização artística, criar orquestras e tal, foi logo uma prioridade da primeira comissão administrativa, lá em junho de 1934.
Pronto.
Mas depois chegamos a 4 de agosto de 1935.
A EAN é oficialmente inaugurada.
O que é que muda aí?
É um marco importante, suponho.
É um marco muito importante.
Muda a liderança e a orientação geral.
Entre o Henrique Calvão para a administração.
Uma figura de confiança do regime, certo?
Sim, claramente.
A missão dele era basicamente impor ordem e fazer com que a emissora refletisse o espírito organizado que o Estado Novo queria projetar.
Havia problemas antes, então?
Sim, aparentemente um relatório interno tinha apontado não só alguma desorganização financeira, mas também lutas internas sobre o rumo a seguir.
Portanto, a EAN tinha que passar a ser um espelho do rigor do regime.
E na prática, como é que isso se notou?
O que é que mudou no dia-a-dia da rádio?
Bem, a EAN tornou-se, sem rodeios, a voz do Estado.
O Calvão queria que ela servisse superiormente à política nacionalista.
E mais, queria que se expandisse para o império e para o mundo lusófono.
A partir de 1936, com melhorias técnicas, começaram transmissões regulares para as colónias, Angola, Moçambique.
Ah, interessante.
E também para outros países, Europa, Brasil, Estados Unidos.
E o conteúdo era adaptado?
Quer dizer, falavam da mesma maneira para Angola e para os Estados Unidos?
Exatamente, era adaptado.
Para a África, por exemplo, os noticiários focavam-se muito em assuntos coloniais.
Para os Estados Unidos faziam propaganda turística e em inglês.
Faz sentido.
E o que é fascinante aqui é a criação de programas como A Meia Hora de Saudade, a partir de 1937.
A Meia Hora de Saudade?
Isso era para quê?
Era um programa que ligava famílias entre a metrópolo, as colónias, as comunidades e imigrantes.
Reforçava aquela ideia de uma comunidade imaginada, percebes?
Unida pela rádio, apesar da distância.
Uma ferramenta poderosa para criar coesão mesmo à distância.
Sem dúvida.
E até a própria programação musical foi ajustada.
A música de concerto passou a ter horários fixos e a abertura da estação deixou de ser com marchas militares.
Ah, sim.
E passou a ser o quê?
Passou a ser com música descrita como alegre e movimentada.
Uma mudança de tom.
Portanto, fica muito claro que a IAN não era apenas entretenimento.
Era... uma ferramenta muito clara do regime.
Sem qualquer dúvida.
As fontes que estudamos referem na mesma como um instrumento do regime.
Um aparelho técnico e discursivo ao serviço do poder.
Não havia grande margem para desvios, imagino?
Nenhuma.
O Estado Novo controlava tudo na radiodifusão.
Atribuía às frequências.
Proibia conteúdos que fossem contra os ideais deles.
A IAN foi mesmo fundamental para legitimar a ditadura e espalhar a sua ideologia nacionalista e colonial.
Resumindo isto tudo, a emissora nacional nasce e cresce num contexto muito específico.
O de afirmação de um regime autoritário.
Foi moldada para ser a voz desse regime.
Tanto cá dentro como lá fora.
Exatamente.
Usando tudo o que tinha à mão.
A música, a informação, até a saudade.
Tudo como instrumentos políticos.
Impressionante ver como tudo estava interligado.
Pois.
E isso deixa-nos aqui uma questão no ar, não é?
Até que ponto é que a memória coletiva que temos hoje reconhece essa instrumentalização inicial da rádio pública?
Ou será que nos lembramos mais?
Ou será que tendemos a recordar apenas os aspectos culturais, de entretenimento, e dissociamos isso do contexto político tão forte da sua fundação.