A rádio contada em imagens (IX)
Submetido por aminharadio em Qua, 2020-06-03 16:53A 3 de julho de 1947, a imagem representava uma pianista e o seu cão. Este não estava muito satisfeito, a ouvir a voz de comando da dona num ensaio a dois!

A 3 de julho de 1947, a imagem representava uma pianista e o seu cão. Este não estava muito satisfeito, a ouvir a voz de comando da dona num ensaio a dois!
Embora em contexto diferente, a imagem lembra-me o filme musical americano, Singin’ in the Rain, realizado em 1952 por Stanley Donen e Gene Kelly, onde se mostra a passagem do cinema mudo para o sonoro. Don ganhara papéis de relevo junto da vedeta Lina. O aparecimento do cinema sonoro levou a alterações profundas. Agora, ouvia-se falar e cantar. Lina, com voz incapaz de cantar, seria dobrada por Kathy, por quem Don se apaixonara. Apesar de qualificada, Kathy estava apenas atrás da cortina onde Lina “cantava”.
Ao longo da década de 1930, o registo musical alterou-se com a eletrificação do som. O cantor descobriu que, ao estar perto do microfone, podia baixar a voz e cantar com a sua voz natural, em vez da sonoridade operática artificial que a projetava. Foi o tempo dos crooners, a cantarem de modo mais íntimo e sensual. Por isso, a imagem de 19 de junho de 1947.
Na semana seguinte, a 12 de junho, parecia que o plágio (ou a ausência do inédito) era mais antigo do que o de algumas teses de doutoramento ou notícias dos jornais hoje. Algo teria corrido mal ao poeta, que afirmava ter declamado um poema original. Recitar poesia era um género habitual na rádio daquela época, daí o peso do diseur ou diseuse, como se escrevia então. Mesmo em programas de variedades, a leitura de poemas fazia parte da estrutura, um momento mais sensível e cultural da jornada radiofónica.
A 5 de junho de 1947, a imagem dava duas interpretações da palavra último, a partir de um entendimento diferente da palavra. No fundo da imagem, chamo a atenção para o aparato técnico de antenas de emissão e do edifício de emissão.
Em 1947, no país ainda não se pensava em televisão. Mas ela já fora experimentada antes do início da II Guerra Mundial em França, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. Cada país tinha o seu sistema técnico de televisão. Durante o conflito mundial, as emissões pararam, mas regressaram em 1945. Primeiro naqueles países, depois noutros. Em Portugal, só houve emissões experimentais em setembro de 1956 e, depois, de modo regular, a partir de março de 1957.
Uma imagem seguinte, de muito pouca qualidade e com leitura a carecer de ajuda interpretativa, sairia a 22 de maio de 1947. Não seria dos mais imaginativos da série.
A 2 de junho de 1946, o tema era cartas ao leitor e ao ouvinte. A sua publicação poderia ter alguma construção do editor ou realizador. Por exemplo, chamar a atenção de um problema – de trânsito, de limpeza, de sociedade. Numa coluna (jornal, rádio, internet), o autor, a partir de dados recolhidos, escreve, embora haja questões éticas eliminadas por este procedimento.
Nos anos de 1946 e 1947, a publicação Rádio Nacional inseriu um conjunto de desenhos ou vinhetas que poderiam formar uma espécie de banda desenhada sobre a rádio. Aqui, escolhi a grande maioria das imagens editadas – 21, mais precisamente -, algumas com uma riqueza de pormenores a precisarem de interpretação. A Rádio Nacional era propriedade da empresa Jornal do Comércio e Colónias. A empresa jornalística teria feito um contrato com um fornecedor de desenhos, a espanhola Sintonia (os desenhos humorísticos aparecem ainda com as marcas O-20 e F).
A revista Rádio & Televisão, de 27 de junho de 1970, dedicou oito páginas aos programas noturnos da rádio, como Tempo Zip, PBX e 180, essenciais para compreender a cultura radiofónica de então. Nomes como José Fialho Gouveia, Carlos Cruz, José Nuno Martins, João Paulo Guerra, Joaquim Furtado, João Paulo Diniz, Alice Cruz, Júlia Maria, Alfredo Alvela, Paulo Cardoso e José Duarte emergem da reportagem. E a cantora Simone de Oliveira, num momento de transição da sua carreira, a fazer de locutora do programa 180.
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