Rádio em Portugal

Voto de pesar


Intervenção do Deputado Bruno Dias



Voto de pesar pela morte do jornalista Fernando Pessa

7 de Maio de 2002
Sr. Presidente,
Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares,
Sr.as e Srs. Deputados

Fernando Pessa construiu, por seu próprio mérito, a condição e o lugar cimeiro entre os maiores comunicadores do século XX em Portugal.

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Uma referência no jornalismo


UMA REFERÊNCIA NO JORNALISMO



Laura Sequeira

Fernando Pessa- Uma referência no jornalismo

O jornalismo foi a sua grande paixão e também a língua portuguesa, que defendeu com unhas e dentes. Fernando Pessa era o jornalista mais velho do mundo, e um dos mais emblemáticos pelo menos, em terras lusas.

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Entrevista de Fernando Pessa


Fernando Pessa, testemunha viva do jornalismo português



Entrevista de Rosa Silva e Sandra Maricato
4º Ano do Curso de Comunicação Social

- Como enveredou pela carreira de jornalista ?

F.P. - Foi como muitos. Tive a minha vida cortada. Nada me destinava a esta carreira. Tinha feito os preparativos para servir no exército, mas no fim da I Guerra Mundial, com oficiais a mais que havia nos quadros, o Ministério da Guerra resolveu só admitir novos oficiais entre os alunos que saíram do Colégio Militar aqui, em Lisboa. Eu estava a fazer os preparatórios em Coimbra e tive a minha vida cortada.
Depois de várias peripécias, fui para o Brasil, voltei do Brasil, e quando voltei estava aqui aberto um concurso para locutores da Emissora Nacional e eu fui lá. Os concursos eram muito "puxados", principalmente no que respeitava à língua portuguesa. Nós podíamos falar menos mal o inglês, o espanhol e o francês ou outra língua qualquer, até com erros, mas o português tinha que ser sem erros. Uma prova bastante rigorosa. Mas a brincar a brincar consegui ficar em segundo ou terceiro lugar nesse concurso. De maneira que daí a 15 dias, em 1934, comecei a fazer jornalismo sem saber. Comecei por fazer locução e daí a uma semana mandaram-me fazer um serviço de exterior, uma reportagem. Era um festival de acrobacia aérea, na Amadora, e que eu fui fazer com um microfone ao pescoço. Eu nunca tinha feito uma coisa daquelas, mas por acaso parece que as coisas saíram bem, de tal forma que eu passei a ser o repórter da Emissora Nacional. Estive na emissora uns anos e, em 1938, tive um convite para ir para a BBC, em Londres. É claro, o próprio director da Emissora Nacional disse: "Por amor de Deus, você agarre isso com toda a força! Você a seguir vai-se profissionalizar, porque nós aqui somos todos amadores". De maneira que eu fui para a BBC e lá fiz variadíssimos cursos, todos relacionados com o trabalho de rádio e especializei-me principalmente em reportagem e locução.
Depois, quando acabou a guerra, vim para Portugal, mas a rádio fechou a porta. As politiquices cá da terra, não me deixaram reentrar para a Emissora Nacional, como eu pretendia, já então profissionalizado. Andei a fazer várias coisas, estive no plano Marshall e quando abriu a RTP, fui para lá, onde os conhecimentos adquiridos na rádio me valeram de muito. É claro, fartei-me de fazer asneiras, mas cada asneira que fazia procurava emendar no trabalho seguinte. Tem sido assim até que passei à reforma. Agora tenho feito uns trabalhos cá por fora, mas há dois anos parei porque parti uma perna.

- Tendo em conta a sua experiência, como vê actualmente a adesão dos novos profissionais ao mundo da comunicação social ?

F.P. - Vejo muita gente a concorrer a lugares de rádio e televisão, principalmente de televisão, porque vejo que um dos sonhos que toda a gente tem é aparecer um dia no boneco da televisão. Eu gostava de nunca aparecer.

- Considera que para além de se ter um curso ligado a esta área é necessária uma apetência inata ?

F.P. - Exactamente, e falar bem português. Num dos cursos que havia na BBC, escalavam artistas de teatro para darem uma lição de dia. Os actores de teatro falam como gente grande, magnificamente bem. Quando nos dão uma coisa para ler em frente ao microfone, nós podemos saber ler, com pontos e vírgulas, como deve ser, mas não devemos fazê-lo. Devemos falar com a nossa maneira de falar vulgar, aquilo que está escrito no papel.

- A voz é um factor importante na rádio e na televisão, enquanto que na imprensa prevalece a parte escrita...

F.P. - Quem vê os artigos que foram escritos... E sai, às vezes, cada uma nos jornais! E na televisão há também a pretensão de transformar as locutoras em manequins. No meu tempo, eu tive de fazer casaca, porque smoking já tinha. E éramos nós que pagávamos.

- Desde o início da sua carreira até aos nossos dias, como acha que têm evoluído os meios técnicos inerentes à profissão de jornalista ?

F.P. - Fantasticamente. Já viu, o meu computador continua a ser uma máquina de escrever, tenho ali uma portátil, que eu comprei no ano de 1940, em Londres, e é com aquilo que eu me entendo. Hoje, às vezes, o serviço já está todo feito, vai-se ao computador e está tudo lá. De maneira que hoje, as facilidades são muito maiores do que eram antes e, cada vez são mais.

- Do seu ponto de vista, quais foram as modificações tecnológicas mais marcantes ?

F.P. - O computador, evidentemente, porque até então o repórter tomava os seus apontamentos em papel e lápis ou em gravador. Primeiro apareceu a máquina de gravar e logo a seguir foi o computador. Mas quando eu comecei a fazer reportagem não havia disso. A maior parte das vezes improvisava. Mas o trabalho era mais difícil dantes do que é agora, da mesma maneira que na rádio era e continua a ser mais difícil do que na televisão.

- Como se encontra o jornalismo em Portugal ?

F.P. - Continua bem e felizmente temos bastantes jornais, e bons jornais! Tiro o meu chapéu a todos os directores e senhores que trabalham nos jornais, revistas... Boas estações de rádio por todo o lado. Agora já temos quatro canais de televisão. Que queremos nós mais ?

- Pensa que a Internet é uma ameaça para a Imprensa escrita ?

F.P. - Talvez não, talvez seja uma ajuda.

- A profissão de jornalista está sujeita a inúmeros factores, como a ética. Como viu a sua evolução ao longo da sua carreira?

F.P. - O jornalismo é muito mais fácil do que era dantes. Quando eu comecei a fazer jornalismo, e fazia reportagens sobre isto e sobre aquilo... naquele tempo havia censura. Nós não podíamos dizer aquilo que nos apetecia dizer, qualquer coisa que estava bem ou mal, não podíamos falar. De forma que tínhamos de arranjar maneira de deixar perceber nas entrelinhas aquilo que cada pessoa estava como que a ler nas linhas daquilo que nós estávamos dizendo. Não se podia falar claramente. Com a rádio fazíamos a mesma coisa, nós tínhamos que ler nas entrelinhas aquilo que escrevíamos nas linhas do papel.

- Já se viu confrontado com algum problema ético ?

F.P. - Não, eu nunca tive problemas... tive problemas, mas caricatos. Cortes sem razão de ser. Eu lá esclarecia, mas também não valia a pena.

- Depois da queda do Estado Novo, isso mudou?

F.P. - Agora já se pode escrever, já se podem escrever asneiras... e às vezes, há asneiras nos jornais... Se vê que está errado, uma pessoa volta atrás e grava de novo. Temos que zelar acima de tudo pelo português, como deve ser falado: com toda a correcção.

- É de opinião que a imprensa tem tendência a imitar grandes jornais no Mundo ?

F.P. - A imitação... mesmo aqueles que estão a concorrer uns com os outros, não concorrem, imitam-se, bem ou mal, e veja-se isso na televisão. Aparece um canal a fazer uma coisa e aparece num outro canal um programa idêntico, e que vai para o ar à mesma hora! Podiam fazer a coisa um a cada hora diferente, que era para nós vermos qual deles tratava melhor os assuntos. De maneira que a gente fica sem saber qual deles é o melhor.

- Acha que imitam ao nível do estilo, como nos EUA ?

F.P. - Ah, sim! Mas a América é uma nação com a qual toda a gente se entusiasma e fica louco, com a mania de ser como um americano.

- Em Portugal imita-se esse estilo ou o nosso povo é diferente ?

F.P. - Vá lá que este ainda se tem conservado, cá, mais ou menos ao nosso estilo. E temos jornalistas muitíssimo bons e jornais muito bons, onde nós vemos magníficos artigos e muitíssimo bem escritos. São jornais nossos.

- Mesmo assim, estará Portugal desfasado do resto do Mundo ?

F.P. - Não, tenho a impressão que não. Há países que têm muito mais estações do que nós e muito melhor apetrechadas, mas nós vamos melhorando a pouco e pouco. A nossa televisão ainda é muito jovem.

- E ao nível da imprensa escrita ?

F.P. - Está bem. Temos magníficos jornais. Há estas guerras que aparecem constantemente com as políticas, com a liberdade de expressão, as politiquices, como eu lhe costumo chamar.. Mas tudo é jornalismo, às vezes insultam-se, e outras elogiam-se...

- Se voltasse atrás no tempo, voltava a fazer tudo o que fez até agora ?

F.P. - Ah, sim. Voltava, sim, mais facilmente, porque se voltasse atrás com as ajudas que dão agora, tinha sido muito melhor e muito mais fácil.

- Acha, então, que os jovens têm a vida mais facilitada ?

F.P. - Claro, agora não sei é se a sabem aproveitar, porque eu vejo muita gente jovem desinteressada. Existem programas actualmente, que dão dinheiro... E é nesses programas que a gente vê o ponto de ignorância, principalmente, dos jovens. Com perguntas que eu, às vezes, fico pasmado e são os próprios apresentadores que lhes dão ajudas, de uma maneira ou de outra, para os ajudar a levar uns continhos de réis. Mas é de espantar o grau de ignorância que os jovens, no geral, apresentam.

- Deveriam ser os meios de comunicação uma escola e um meio para combater essa ignorância ?

F.P. - A rádio e a televisão deveriam concorrer para isso, mas hoje em dia, a pequenada, a rapaziada nova, não liga muito à rádio e à televisão. O que eles querem é a noite, as discotecas e tal... E depois é o sexo, é a droga, é o alcoolismo. (...) O cortejo, creio que é financiado pela fábrica da cerveja. Começam a beber cerveja de manhã cedo, em vez de tomarem o pequeno-almoço, e acabam a noite no hospital, com os médicos de volta deles a fazerem-lhes uma limpeza, porque se embebedaram de tal maneira que nem se podem mexer. Isso eu não voltava a fazer no meu tempo.

- Porque é que acha que os estudantes fazem essas coisas ?

F.P.- Eles fazem o que não deviam fazer porque lhes falta, muitas vezes a educação. Hoje é difícil criar uma criança porque o pai e a mãe trabalham, eles vão para a escola e depois vão para a rua e começam a fazer asneiras. É uma pena, mas não vamos perder a esperança. Esperemos que o que está bem continue a melhorar e o que está feito se consiga melhorar também. E isso está muito nas vossas mãos, nos que estão agora a entrar para a Comunicação Social, que não está má, diga-se de passagem. Agora faltava que eu dissesse mal dela!

- Efectivamente, a tendência é para melhorar ?

F.P. - Melhora sempre, para pior não vale a pena trabalhar. Quando se trabalha é para melhorar.

- Qual vai ser o futuro da Imprensa ?

F.P. - O futuro da imprensa vai ser muitíssimo mais interessante do que era no meu tempo, quando eu tinha a vossa idade.

Foto de Fernando Pessa em casa

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Fernando Pessa


Fernando Pessa, 1902-2002



Foto de Fernando Pessa


Nasceu em Aveiro, em 1902, mas foi criado em Penela, perto de Coimbra onde fez o ensino secundário, no sentido de se preparar para os exames de admissão à "Escola de Guerra". O objectivo de Fernando Pessa era ir para a "tropa", e seguir a carreira militar, como fez o pai, mas "nessa altura havia oficiais a mais, como resultado da primeira Guerra Mundial e na Escola de Guerra só admitiam rapazes que frequentassem o Colégio Militar, em Lisboa", explica Fernando Pessa.
"A minha alcunha era o "Pardal", porque, tal como os pardais, não gostava de ficar fechado numa gaiola. Andava sempre de um lado para o outro", citado na sua biografia não autorizada.

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