Primeira emissão pirata da TSF

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Título: 
Primeira emissão pirata da TSF
Artista: 
TSF Rádio Jornal
Ano: 
1984
Primeira emissão pirata da TSF

Foi do alto de dois prédios - um no Lumiar, o outro em S. João da Caparica -, que saíram os primeiros sons de uma emissão pirata daquela que mais tarde viria a ser a TSF, a 17 de Junho de 1984. Eram apenas quatro horas de depoimentos de perto de 60 personalidades portuguesas, que soaram em Lisboa, num domingo de manhã, através de dois emissores quase artesanais, construídos por um engenheiro holandês e instalados em segredo naqueles dois edifícios.

Adenda a esta história, contada por quem participou nela ativamente.


Cortesia de José Francisco - CT4AN

“Para já, e em relação à emissão da TSF, fiquei espantado com a história do "Engº holandês e os seus emissores artesanais", desconhecendo a origem da notícia …

Vamos lá então levantar o véu passadas estas Décadas e acabar com segredos e mitos pois, após tantos anos, já pode dizer-se que a realidade foi bem diferente daquilo que aqui li :

O Emídio Rangel, leader da TSF-Cooperativa de Profissionais da Rádio, na altura com sede na zona da Estefânia em Lisboa, decidiu à altura com outros colegas como o Mário Pereira e, se não estou em erro passados estes anos, a Maria Eufémia, realizar uma longa emissão com qualidade profissional em FM, para despoletar o assunto das rádios privadas e sua legalização (na altura apelidadas de rádios piratas), fazendo inclusive a inclusão de "vozes de impacto político" da nossa Sociedade de então.

Assim, preparou-se a mesma e, do ponto de vista técnico, assumi eu o projecto, planeamento e levando-o à prática. E não foi com emissores artesanais dum engenheiro holandês como está narrado ...

Sabia-se que a RDP e demais Entidades iriam tentar impedir a "piratice" até então anunciada pela Comunicação Social, tal como o ICP que já "rondava" tudo o que então se fazia.

Assim, colocou-se um emissor de 5W de potência (Itelco modelo EFM-05) atacando um dipolo vertical de Banda Larga que calculei e construí em alumínio, alimentado por cabo coaxial Belden RG-59 (ainda comprado na Casa Serras em Lisboa) no topo do edifício do C.C. do Lumiar.

Durante alguns dias esse sistema irradiou simplesmente um sinal FM modulado por 1kHz (o engodo).

Claro que o ICP "acantonou" na zona o que dificultava muito as coisas ... mas ficaram convencidos que a emissão seria dali e com a Intensidade de Campo que se via de momento no ar, o que se pretendia.

Entretanto montou-se na Costa da Caparica, no topo da torre alta ainda existente em S.João, um sistema com um emissor Itelco modelo ESINT-05B e um amplificador de 250W de potência modelo MPFM-250 da mesma marca, e 3 antenas direcionais tipo Yagi Uda. Essas antenas destinavam-se a cobrir a zona a Norte do Tejo, Lisboa e Linha de Cascais, bem como a zona Sul do país.

Tratava-se de duas direcionais de 7 elementos enfasadas e viradas a Norte em polarização Vertical, e uma Yagi de 4 elementos direcionada a Sul em polarização Horizontal.

Este sistema radiante e as suas linhas de alimentação, transformação de Impedâncias e acoplamento apresentava-se adequado ao que se pretendia, proporcionando uma P.A.R. razoável e coincidente com o Estudo de Cobertura Hertziana previamente elaborado.

Este emissor permaneceu sempre em silêncio e secreto até ao sonhado Domingo dia 17 de Junho.

Entretanto o Rangel fez a gravação de toda a emissão nos Estúdios da Cooperativa em duas gravações, uma para o Lumiar e outra para a Caparica. No dia utilizaram-se gravadores Revox B-77 para a reprodução das fitas de arrasto e misturadodes de áudio Rolan para atacar os emissores.

E a 17 de Junho de 1984, salvo erro às 10h da manhã, à hora exacta pelo sinal horário da RDP, arrancaram simultaneamente as gravações no Lumiar e na Caparica com uma sincronização quase perfeita, o que fez com que a confusão se gerasse nos que pretendiam impedir a transmissão, nomeadamente na RDP que instalara um emissor McMartin de 100W no topo do seu edifício nas Amoreiras visando interferir o do Lumiar sintonizando sobre a sua frequência conhecida, mas desconhecendo a existência do outro emissor principal e de muito maior potência e Cobertura.

Com esta aventura e alguns riscos corridos na época, levou-se com total sucesso a uma área alargada da Grande Lisboa, e não só, a pretendida emissão que afinal veio a desbloquear a legalização das Rádios locais e a existência do panorama radiofónico de que estamos hoje em dia a usufruir após tanto tempo passado.

Mas as "aventuras" não se ficaram por aqui ...

Passado algum tempo o entusiasmo dos mesmos, mas relativo à Televisão, manteve-se e até cresceu. E porque não fazer o mesmo mas com a TV e acabar com o monopolismo televisivo ?

Novamente se avançou decididamente e, com apoio e patrocínio do então Fórum Portucalense e algumas individualidades, realizou-se no Porto uma emissão semelhante, mas desta vez em Televisão. A emissão de TV no Porto chamou-se de TVN - Televisão do Norte.

O programa foi gravado nos Estúdios Décio de Carvalho no Porto e o emissor utilizado foi um Itelco modelo T311 com um amplificador MPTV-125 de 125W, transmitindo na Banda III em Sistema PAL-D. A antena usada foi uma Yagi da SIRA com 3 elementos, modelo 3VTV-01.

Para poder atingir o máximo de telespectadores decidiu-se utilizar a mesma frequência do emissor do Monte da Virgem da RTP, logo após o seu Fim de Emissão e Mira técnica.

Assim, logo que a RTP desligou os emissores entrou no ar no mesmo Canal a emissão de televisão proveniente da torre do Jornal de Notícias na cidade do Porto.

Mais um sucesso que, também como anteriormente, alterou todo o panorama televisivo em Portugal.

Foi esta a verdadeira história, talvez aqui narrada com excessivo pormenor técnico, mas o empenho e recordação desses tempos intrépidos ainda me entusiasmam - um verdadeiro mas duro trabalho de equipa !”