Depois das primeiras experiências de utilização da TSF em Portugal, em 1901, protagonizadas pelo capitão Severo da Cunha, do Regimento de Engenharia, relatadas por Afonso do Paço (1) e referidas em (2) e das experiências levadas a efeito, no ano seguinte, pela Direção Geral dos Correios e Telégrafos, com a cooperação da Marinha, seria de prever que o passo seguinte na utilização da TSF em Portugal, ou seja o estabelecimento de redes fixas em território nacional, fosse impulsionado pelos militares.
No entanto não foi isso que aconteceu, visto que no Exército a aquisição dos postos de rádio (Telefunken) só se verificou em 1910, e deu lugar à instalação destes postos em barracões de madeira na Trafaria e Paço de Arcos.
Antes porém instalou-se a rede fixa de TSF nos Açores por intermédio da Companhia de cabo submarino Eastern Telegraph Company como relata o semanário “TSF em Portugal” de 01 de Março de 1925.
Maria Fernanda Rollo (3) descreve assim a evolução da TSF em Portugal nos primeiros anos do século XX:
“Fascinados com a dispersão geográfica e a ampla faixa costeira do território português, várias empresas internacionais pressionaram o Governo, procurando obter o exclusivo da instalação da TSF em Portugal. Na Câmara dos Deputados, as propostas avolumavam-se mas a débil situação do Tesouro obrigaria os governantes a adiar a instalação de um serviço público de radiotelegrafia. A era comercial da TSF só chegou a Portugal com a assinatura, em 15 de fevereiro de 1905, do contrato entre a Eastern Telegraph Company e o Governo.
Circunscrito ao arquipélago dos Açores, o acordo previa o estabelecimento de estações radiotelegráficas (equipadas com o sistema de transmissão De Forest e de receção da Amalgamated Rádio Telegraph Company) em S. Miguel, Santa Maria, Faial; Flores e Corvo…
No ano de 1910 se se excluir o serviço de comunicações com os navios em trânsito (assegurado pelos portos de Leixões e da Ilha Terceira) o isolamento radiotelegráfico do território português era quase total… Só em 1919 serão retomadas as negociações com a Marconi´s Wireless, que três anos mais tarde apresentará um projeto de uma autêntica rede imperial…”
(1) PAÇO, Afonso do, Comunicações Militares de Relação – subsídios para a sua história, Lisboa, 1938, pág.
(2) No artigo “A TSF como nasceu em Portugal” do coronel de Engenharia João de Oliveira, publicado na Revista Militar nº 11 de Novembro de 1946 esclarece que os rádios utilizados pelo capitão Severo da Cunha foram oferecidos ao Ministro da Guerra, general Pimentel Pinto que ordenou as experiências ao Comandante do Regimento de Engenharia.
(3) ROLLO, Maria Fernanda (coord.), História das Telecomunicações em Portugal, Lisboa, FPC, 2009, pág.105
Texto do MGen Pedroso Lima
Cortesia do Coronel José Manuel Canavilhas
Adaptado do site História das Transmissões Militares