Com o surgimento de cada vez mais equipamentos de áudio que usam válvulas electrónicas, na totalidade ou em parte dos circuitos, começa-se a levantar um problema: Quando for necessário substituir as existentes, e isto é inevitável como o destino, o que escolher?
As opções de escolha não são muitas e, como diria William Shakespeare, entre maçãs podres a margem de escolha é pequena!
A agravar a falta de qualidade das válvulas atuais, onde o que impera é o marketing que leva a que uma válvula de determinada marca possa custar o dobro ou o triplo de outra marca, embora o fabrico seja exatamente o mesmo, os circuitos, principalmente os de potência, são projetados para colocar estes componentes a trabalhar no limite.
Nos tempos em que as válvulas eram rainhas, não só a sua produção era de qualidade incomparável, existindo até séries projetadas para terem uma longa duração, mas os circuitos eram concebidos de forma conservadora. Um dos problemas atuais que os fabricantes têm, quando decidem colocar no mercado amplificadores com saída a válvulas, é a sua potência limitada, relativamente à escolha por componentes de estado sólido.
A tendência é esticar o ponto de trabalho, aumentando a tensão anódica e a corrente. Por exemplo, 2 EL84 em push-pull, em classe AB fornecem, de forma confortável, 12W, mas, se olharem para as especificações de amplificadores atuais com esta configuração, vão encontrar potências de 15 e até de 18W!
Há quem estique 2 KT88 na mesma classe de amplificação para 55W com correntes de BIAS de 65mA, quando, num circuito mais conservador, estas válvulas trabalhariam com 40 a 50mA para uma potência de 40W!
Claro que a duração das válvulas fica comprometida.
Há que ter em atenção que um dos motivos para a menor durabilidade das válvulas atuais está na impossibilidade de serem utilizados alguns materiais que hoje são proibidos.
Resumindo então o problema, o que temos como escolha?
Basicamente temos duas opções, tentar fazer a melhor escolha nas válvulas atuais ou procurar por válvulas de stock antigo.
Também é importante resistir ao marketing, estão a surgir marcas que foram famosas pela sua excecional qualidade, mas que nada têm a ver com a original.
Antes disto, um pouco de história
Com a invenção do transistor, logo se percebeu a sua enorme vantagem em relação às válvulas. Muito menor, com menos consumo de energia e praticamente sem calor, além de mais robusto e durável. Além disso existem outros detalhes técnicos que colocam estes componentes de estado sólido à frente das válvulas, mas que não cabe referir agora.
Nos anos 60 do século passado fomos assistindo à morte das válvulas, à medida que os transistores evoluíam, quer no tipo de materiais utilizados, o silício substituiu o germânio, quer nas suas especificações técnicas.
O início da década seguinte foi marcado pelo desaparecimento dos fabricantes de válvulas. O que existia ainda em stock asseguraria a reposição ainda por bastante tempo, principalmente em equipamentos domésticos, com destaque para as TV.
Uma exceção a esta regra foi a Rússia. Este país manteve a sua produção de válvulas, por ser um componente fundamental em equipamentos de radar, nos seus MIG e em aplicações em que se acreditava que as válvulas seriam mais robustas em caso de ataque nuclear.
O mercado atual de válvulas “russas NOS” (new old stock) está de boa saúde, além de muitas usadas. É possível encontrar válvulas do tipo 6Nxxx dos anos 60, 70 ou 90 com abundância, por exemplo, no Ebay.
Estas válvulas são equivalência de tipos europeus e / ou americanos e é fácil encontrar substitutas para as tradicionais 12AX7, 12AT7 ou 12AU7, usadas, em regra, nos amplificadores atuais.
Então, que escolhas temos
- Fabricantes atuais:
- Válvulas NOS:
- NOS europeias e americanas:
Existem 3 países com produção constante de válvulas, a República Checa, a China e a Rússia.
Dentro do possível, estas válvulas cumprem os mínimos desejáveis, no entanto a China tem vindo a melhorar significativamente a sua qualidade e controlo do produto final.
Numa opinião pessoal, o nível de qualidade e fiabilidade é o que está na sequência acima.
Em tempos antigos, cada válvula era testada e colocada durante algum tempo em sobretensão. Isto provocava um "envelhecimento controlado" aproximando as suas especificações o mais possível do que foi definido para a mesma.
Atualmente, para as válvulas de potência, é importante, depois de ajustar a corrente de BIAS, voltar a verificar este ajuste umas dezenas de horas depois.
Alguns vendedores vendem conjuntos casados, mas os circuitos atuais são mais tolerantes a estas diferenças, de forma que pode não valer a pena a diferença de preço, tanto mais que começam a ficar proibitivos.
Como explicado acima, existe uma grande quantidade válvulas de procedência russa. Na verdade, a Rússia nessa época fabricava válvulas muito más, principalmente válvulas de potência. Os técnicos desta época lembram-se bem da falta de qualidade destas válvulas, tanto em aplicações de TV, como equipamentos de transmissão.
Entre uma NOS russa e uma muito usada original europeia ou americana, a escolha por esta última é a melhor. Daí que seja um engano andar à procura destas válvulas. Na verdade, as atuais são melhores.
Será difícil construir um texto destes sem ter de referir marcas. No entanto, como já não existem na generalidade, não há problema com pretensos interesses comerciais ou truques de marketing. Além disso, existem diferenças entre alguns tipos de válvulas europeias, russas e americanas, embora sejam dadas como equivalentes.
Por ser um assunto que toca o abstrato e o gosto pessoal, não me vou deter nas diferenças de tonalidade, isso fica para os músicos. O importante é a qualidade, durabilidade, ruído e outros detalhes técnicos que constam das fichas de características.
Na Europa temos Telefunken, Philips e variantes, Mullard Brimar e mais uma ou outra de que me posso estar a esquecer. Nos EUA, RCA, GTE-Sylvania, GE...
O problema é mesmo o preço! Uma 12AX7 Telefunken de placa longa pode chegar aos 500 euros. Conjuntos usados 12AX7 Philips podem chegar aos 250 euros e, como se adivinha, é sempre um risco.
No entanto, é bem melhor e mais durável uma válvula destas que uma nova atual.
Em conclusão
Não é fácil fazer uma escolha definitiva. Esta escolha também depende do circuito em que a válvula vai ser colocada. Uma válvula de entrada num pré amplificador de phone é mais crítica, mas muito menos se for num andar inversor de fase num andar final a válvulas.
As válvulas usadas no estágio de saída devem merecer uma atenção especial. A sua durabilidade será afetada pelas características do circuito e a sua qualidade de fabrico. O maior problema acontece com a existência de curto circuitos internos entre os vários elementos. Geralmente isto traz consequências graves aos amplificadores, originando avarias, principalmente no circuito da fonte de alimentação.
Mais uma vez, isto leva a repensar o quanto pretendemos gastar para ter o máximo desempenho, qualidade e durabilidade.
E pensarmos que uma 6L6 poderia durar mais de 10 mil horas!